Luanda - As especulações e rumores que agitaram a Luanda profunda na pretérita quarta-feira, 10, sobre o estado de saúde do Vice-Presidente da República, Fernando da Piedade Dias dos Santos “Nandó”, culminaram com alguns episódios mediáticos e não só, que vale a pena comentar.


Fonte: A Capital

 
E só vale a pena comentar por se tratar de uma figura pública da mais alta hierarquia do país e, pior do que isso, por que mais uma vez o público e a audiência angolanos foram defraudados naquilo que se gosta de denominar por “serviço público” em termos dos media propriedade do Estado.


É que o público angolano ao invés de ser brindado com uma informação oficial sobre o estado de saúde do vice-presidente da República, face a avalanche de rumores que se tinham iniciado com a imprensa de fim-de-semana e atingiram o rubro quarta-feira, sobre o estado crítico de saúde de Fernando da Piedade Dias dos Santos “ Nandó”, foi informado por via de uma “entrevista telefónica” feita desde Luanda, pela TPA.


O Vice-Presidente confirmou que se encontrava em Londres, capital britânica, em “ visita privada”, aproveitando a estada para realizar um check-up, tendo adiantado que pensava regressar na próxima semana, declarando-se “ muito bem-disposto” para o exercício da sua missão, as quais lhe foram acometidas no passado dia 5 de Fevereiro.


O problema é que o excesso de zelo patente nos media oficial conduziu a uma situação paradoxalmente repetida de se “montar” esta aparição televisiva. Na capital angolana circularam informações que o próprio Vice-Presidente se manifestara incomodado com o crescendo de especulações sobre o seu estado de saúde, tendo telefonando quarta-feira, 10, para figuras do MPLA próximas da sua pessoa.


Todas as informações provenientes de Londres e que também circulam na capital angolana apontam no sentido, infelizmente nada comum de que a “entrevista” da estação pública foi devidamente montada.


A prática de sonegação de informações relativas ao estado de saúde de titulares dos mais altos cargos públicos da nação tem sido recorrente nos media oficiais angolanos. Sobretudo, quando se trata do Presidente da República, José Eduardo dos Santos, mas também com outras altas figuras do estado. Geralmente só depois dos rumores ou do imparável efeito boomerang das notícias postas a circular no exterior e no interior do país via Internet, por telefone celular por TV via satélite, é que, “por reacção”, os media estatais, vêem a terreiro.
Na media estatal angolana, nos gabinetes que alegadamente gerem a imagem das altas figuras públicas, a saúde das mais altas figuras da hierarquia do Estado, continua a não ser um assunto de interesse público.


No início do mês de Fevereiro deste ano, quando por acaso nos encontrávamos no Brasil o presidente daquele país, Lula da Silva, sofreu uma crise de hipertensão.


Não só as informações sobre o estado de saúde do presidente Lula foram divulgadas pelos serviços oficiais, como a Imprensa teve condições de realizar um acompanhamento jornalístico pormenorizado do desenrolar dos acontecimentos, de inegável interesse público. Os rumores e as especulações, naquelas circunstâncias, tiveram naturalmente uma vida efémera, como deve ser o seu destino num país democrático civilizado.


Exemplo diferente, ocorreu com o estado de saúde do presidente da Nigéria, Umaru Yar’Adua, que sendo acometido de diversas doenças, foi evacuado para tratamento médico para Arábia Saudita, onde permaneceu três meses. As informações sobre o seu estado de saúde foram igualmente muito mal “geridas”, ou melhor, objecto de inicial obstrução de divulgação, que deu lugar aos mais diversos rumores, criando inclusive complicações a membros do governo nigeriano que se referiram ao verdadeiro e crítico estado de saúde de Yar’Adua.
Como se sabe o presidente nigeriano veio a ser substituído pelo seu vice-presidente, Goodluck Jonathan, como presidente interino, num conturbado clima de sucessão política e divisões étnico -religiosas.


Competências.


A delegação de competências na área social para o Vice-Presidente da República, Fernando da Piedade Dias dos Santos, realizada esta semana pelo Presidente Eduardo dos Santos, suscita várias interrogações.


Uma delas é seguramente o valor ou se quisermos o peso político destas competências no contexto actual do poder em Angola. Todos sabemos que as pastas da chamada área social – em particular a saúde e educação – apesar da sua indiscutível relevância não possuem peso específico na actual estrutura do Executivo. Aliás, raramente o tiveram. Antes daquelas pastas, surgem a economia, a defesa, interior e relações exteriores. Por conseguinte, na hierarquia tradicional dos governos e em particular do angolano, as pastas da área social, surgem na segunda linha do Executivo. Isso em termos reais, não nos termos que a propaganda oficial advoga ou poderá sugerir.


Logo, os ministros de estado daquelas pastas estarão noutro alinhamento. Acima das competências acometidas ao Vice-Presidente. Se a este último não lhe é atribuído um peso político específico, restar-lhe-á apenas o valor das atribuições feitas pela Constituição, ou não?


Então, perguntamos, para que servirá o Vice-Presidente na óptica actual do poder: para prevenir o futuro ou para preparar o futuro ou ainda para formar o futuro imperfeito?