Luanda - Na sacralização das marcas e lugares que perfazem a memória do simbólico nas metrópoles, as igrejas, os museus, as praças, enfim equipamentos de nível social, transformando-se no âmbito da tradição cultural, pelo valor histórico que estas encerram, obriga-nos simbolicamente, tributar uma singela e merecida homenagem aquela que é sem margem para duvida uma das mais antigas Bibliotecas publicas do continente peregrino, ou seja da África subsariana, referimo-nos a Biblioteca Municipal de Luanda, afecto ao Governo Provincial de Luanda, cujo parto foi a luz do dia 1 de Dezembro de 1873, que pelo seu valor histórico e simbólico acaba por ser seguramente dos mas emblemáticos locais de pesquisas do país.

 

Fonte: Club-k.net

 

Aos 137 anos, a Biblioteca Municipal de Luanda, já é sem duvidas uma marca cujo simbólico no seu interior, se perpetua indubitavelmente na nossa memoria colectiva, recordamos aqui, e de forma telegráfica de alguns “ monstros sagrados”da intelectualidade angolana como são os casos do nosso Mário Pinto de Andrade, de feliz memoria, e quando questionado pelo mestre de conferencia em literatura africana, Michel Laban na sua grande entrevista, de 1984 a 1987 em paris França, sobre qual eram as recordações que lhe mais marcavam de Luanda, Mário de Andrade respondeu sem tibieza, que “eram a Igreja do Carmo, e a Biblioteca Municipal”, para além deste investigador angolano tivemos outras gratas figuras como as do Viriato da Cruz, Mário de Alcântara Monteiro, Domingos Van— Dunem, Michel Laban, Arnaldo Santos, Licínio de Assis, filho do lendário António de Assis Júnior, Maurício Gomes, Pires Laranjeira, Mendes de Carvalho, António Panguila, Ana Paulino, Cláudio Ramos, Pedro Kandjimbo, Albano Pedro, Lopes Raul, António Setas, Zoras, Nelson Pestana “ Bonavena”, enfim a lista é interminável.


Reza a história contemporânea, que a primeira noticia da existência da Biblioteca Municipal de Loanda, como era conhecida no tempo da outra senhora, foi a 12 de Março de 1874, por via de um relatório de Joaquim Ferreira de Azevedo Franco, que terá sido o primeiro presidente da Câmara Municipal de Loanda, em que revelava, que a data de 1 de Dezembro de 1873, havia sida a da sua inauguração, a Biblioteca Municipal de Loanda sempre procurou ser uma “ Biblioteca popular que se deu, a conhecer, em principio num edifício” da rua Sousa Coutinho, onde esteve instalada a municipalidade, isto é de 1853 a 1879, que muito concorrerá para a instrução dos nativos.


Importa ressaltar que, está iniciativa só foi possível muito graças, a generosidade do Vereador Urbano de Castro, que de forma graciosa, cedeu a Câmara Municipal de Loanda, 250 livros da sua valiosíssima Biblioteca pessoal, e outros tantos foram comprados pela municipalidade, porém de 1897 a 1911, altura em que a Câmara deixa de forma tranquila, a casa da rua Sousa de Melo voltando a instalar-se numa das casas de D. Miguel de Melo, cuja frente dava para travessa da Sé e o largo do pelourinho.


Em 1911, a Câmara foi transferida para o actual edifício onde se encontra a sede do actual G.P.L, sendo naquela época o presidente do Município, José Moreira Freire, que em boa hora e diga-se de passagem, que em 1913, em nome dos herdeiros do escritor e advogado Drº Alfredo Trony, cuja imagem fotográfica tal como a do Vereador Urbano de Castro, com o mérito que lhes são merecidos, estão lá presentes, quanto muito não seja pelo facto de serem os inquestionáveis patronos daquela sala do saber, pois como dizíamos, foi aquela personalidade que de forma industriosa, fez a entrega de uma valiosíssima biblioteca pessoal do Drº Alfredo Trony, de pelo menos 3273 livros que constituam o recheio da sua Biblioteca particular a Biblioteca Municipal.


Por outro lado, a Biblioteca continuo a crescer, e já em 1959, contava com pouco mais de 14000 livros enquanto que no ano de 1973, por altura das comemorações do seu centenário ela já contava com 36000 volumes, cifra que foi sendo referenciada como actual, até bem próximo do século XXI, ignorando-se o saque sofrido pela mesma nos períodos próximos e logo depois da segunda Republica, hoje fala-se de aproximadamente 31 mil volumes.


Numa exposição realizada, no hall do salão nobre da Câmara Municipal, em alusão  ao seu centenário, foi realizado um ciclo de conferencias, com destaque para as orações de sapiência digamos, de algumas gratas figuras de visibilidade politica e social cuja abordagem dos temas estavam ligadas aquele quotidiano.


Naquela exposição, tiveram em destaque as obras da historia dos três reis, do Kongo, Matamba e Angola, do Padre Cavazzi, de 1687, as ordenações das leis de Portugal em três volumes de 1747, a Bíblia Sagrada de 1852, e grande parte das publicações daquela época, tais como o Farolim, o Mercantil, o Comercio de Luanda dentre outros.


Este arquivo esteve inoperante até 1957, altura em o mesmo despertou atenção do historiador inglês Charles Boxer, que havia efectuado reiteradas visitas aquele local, chegando mesmo a fazer os mais rasgados e incontidos elogios a velhinha e simpática Biblioteca Municipal de Luanda, isto foi numa comunicação apresentada no congresso de estudos africanos, realizado de 03 a 04 de Julho de 1961.
 


A Biblioteca Municipal de Luanda, deve, em nosso entender ser vista, venerada com digna honra, a memória daqueles que numa antevisão da sua profunda utilidade, optaram pela sua fundação, numa altura em raros iriam procurar. Honras extensiva aos humildes funcionários que quiseram e sempre procuraram preservar para que na devida altura, outros mais sábios e, esclarecidos a tivessem podido preparar para um futuro de inapreciável validez, ao serviço da cultura e investigação nacional.

 

A partir desta tribuna enquanto frequentadores e utentes da velhinha Biblioteca Municipal Luanda gostávamos de apelar aos seus mandantes para prestarem uma maior e melhor atenção a ela, pois em nosso entendimento não se justifica que em pleno século XXI, ainda tenhamos horários tão “cavilosos” como os de hoje, pelo que consta vontade e condições subjectivas não faltam por parte dos seus funcionários, para atender a empreitada dos possíveis pesquisadores do período pós laboral, até porque as universidades locais já funcionam faz tempo no período da noite, não percebemos os motivos que impedem o seu funcionamento num período mais elástico.

 

E porque a “Biblioteca é a faculdade mais importante, das que constituem a universidade”, gostávamos de tributar em nome dos mais fies e intrépidos leitores da velhinha, emblemática e simbólica casa do saber da mutamba, desejar bem haja Biblioteca Municipal! Augurando igualmente que novos ventos soprem de forma profícua para nossa Biblioteca de sempre!
 


Cláudio Ramos Fortuna      

  Urbanista

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