Lisboa - O Reitor da Universidade Lusíada de Angola, Mario Pinto de Andrade esteve em Lisboa para um seminário sobre a diplomacia angolana no novo contexto internacional da Universidade Lusíada. Na ocasião, salientou ao DN as prioridades de Luanda e a situação regional.


Fonte: DN


Quais as prioridades da diplomacia angolana?


A nossa diplomacia tem uma dimensão externa e uma outra interna. Nesta última, o Governo tem um programa, temos uma nova Constituição e objectivos a alcançar até 2012: criação de um milhão de empregos, um milhão de casas, o redimensionamento do ensino superior, o reforço da formação profissional e o relançamento da agricultura e da indústria. No plano externo, Angola está a consolidar o seu papel nas organizações regionais, a reforçar a cooperação com a África do Sul e assume-se como a potência regional da África Central.


Qual é, para Luanda, a melhor solução da crise no Zimbabwe?


Angola tem uma atitude de mediação na crise. A solução passa, numa primeira fase, por este Governo de transição e, depois, por uma nova Constituição e por um acordo nas elites da ZANU-PF para a substituição de Robert Mugabe por nova liderança que possa trazer estabilidade ao país. Este teve papel importante na luta de libertação e é o pai da independência do Zimbabwe, mas, quando o líder no poder já não gere consensos, é melhor sair com dignidade do que originar uma guerra civil, factor de instabilidade no país e na região.


O conflito com a RDCongo pode considerar-se sanado?


Há ainda um diferendo sobre a delimitação da fronteira marítima, mas foi ultrapassada de forma razoável a tensão resultante da ida em massa e de forma ilegal de cidadãos da RDCongo para Angola.


Como vê hoje a CPLP?


Creio que a CPLP podia fazer mais. Angola, Brasil e Portugal têm sido os mais dinâmicos da CPLP e têm ajudado a estabilizar vários conflitos. Agora, no âmbito da CPLP, temos posições divergentes, como no caso do Acordo Ortográfico. Há reticências em Luanda sobre a sua aplicação; achamos que se deve respeitar o padrão da língua em cada país, preservando a matriz global do português. Outro ponto de divergência é o estatuto do cidadão lusófono. Aqui há duas questões: os direitos de cidadania que as pessoas residentes no espaço da CPLP devem ter, e os direitos de livre circulação de pessoas e bens no espaço da comunidade sem entraves. E ainda não há consensos.


Assiste-se à aproximação entre Angola e os EUA. O facto indicia novas prioridades de Luanda?


É uma vitória diplomática do Governo angolano, primeiro que tudo. O Presidente Eduardo dos Santos esteve nos EUA, o MNE Assunção dos Anjos também, Hillary Clinton visitou Luanda. Hillary disse então que "os EUA queriam ser amigos e aliados de Angola" e que reconheciam o nosso papel estratégico na pacificação da África Austral e Central. Isto demonstra a importância de Angola para os EUA, uma importância que é mais do que os investimentos no petróleo; é também investimentos noutras áreas. Angola tem sabido posicionar-se em cada região geopolítica e encontrar parceiros relevantes para o nosso desenvolvimento.