Lisboa – Estão a ser atribuídas ao círculo próximo de João Manuel Gonçalves Lourenço fundamentos favoráveis na escolha de um sucessor presidencial para depois de 2027, que seja oriundo do gabinete presidencial. De entre os pares, a figura a quem o próprio Lourenço identifica aptidões determinantes, não só para o funcionamento do Estado e seguimento de políticas progressivas que julga merecedoras de continuidade, é Isaac Francisco Maria dos Anjos.

Fonte: Club-k.net

Votado na tese de defesa da “diversificação da economia angolana e a redução da dependência do petróleo, com a agricultura sendo uma das principais prioridades”, Lourenço identifica em Isaac dos Anjos posições semelhantes às suas. Parte do seu círculo próximo também olha para Dos Anjos como alguém com “perfil indicado” para promover e sistematizar uma boa coordenação das bases que Lourenço tem erguido.


Engenheiro agrônomo e político, Isaac dos Anjos é um quadro com vasta experiência governamental e profissional. Aos 27 anos de idade, foi feito por JES um dos mais jovens Vice-Ministros da Agricultura do executivo.

 

Na administração Lourenço, foi feito Secretário do Presidente da República para o Sector Produtivo. Nasceu no Bié, terra onde João Lourenço cresceu. Não há informações determinantes para aferir se ambos se conheceram ainda miúdos na província do Bié. Sabe-se apenas que são unidos pela paixão que cultivam pelo campo, uma amizade estabelecida antes de João Lourenço chegar ao poder. Uma das quintas de Isaac de Anjos, no município da Matala, Huila, é colocada com a de João Lourenço.


Junto com o antigo governador de Malanje, Norberto Fernando Dos Santos “Kwata Kanawa”, Isaac dos Anjos foi uma das entidades que, junto do gabinete presidencial, chamou a atenção para a existência de uma rede conotada ao Presidente do Tribunal Supremo, Joel Leonardo, que estava a extorquir USD 6 milhões ao antigo ministro dos transportes, Augusto Tomás, em troca de soltura da prisão.

 

No círculo restrito de Lourenço, o nome de Isaac Francisco Maria dos Anjos tem merecido acolhimento por apresentar características determinantes para enfrentar o candidato da UNITA, Adalberto Costa Júnior, nas eleições de 2027. Tem retórica e é dos poucos dirigentes do MPLA com capacidade de diálogo com a UNITA.


Quando chegou a Benguela como governador em 2013, levou o então secretário provincial da UNITA, Alberto Francisco Ngalanela, para os municípios onde se registravam insustentáveis casos de intolerância política. O gesto agradou à UNITA e o mesmo ficou com a fama de ser o governante do MPLA que é diferente, por ter conseguido pôr termo a estes incidentes de rixas nas localidades por onde passou como governador provincial.


Em privado, o antigo Presidente José Eduardo dos Santos manifestava apreço pela sua combatividade política. Em Maio de 2010, JES fez desabafos em privado manifestando solidariedade em torno da audácia que este então governador da Huila teve em enfrentar uma corrente de contestação/pressão contra si, devido às demolições, não obstante os colegas o terem deixado sozinho. As demolições foram na verdade ordenadas pelo executivo central a fim de desalojar populares que construíram as suas moradias na linha férrea do comboio. JES precisava da zona limpa para apresentar o comboio em funcionamento nas eleições de 2012 que se avizinhavam.


Apesar de o círculo de João Lourenço ter as suas próprias preferências quanto a um eventual sucessor, o partido MPLA desdobra-se em várias hipóteses. A ala feminina do partido entende que o país já está preparado para ter uma mulher na Presidência da República, desde que não seja a atual vice-presidente da República de Angola, Esperança Maria Eduardo Francisco da Costa, nem a Presidente do parlamento Carolina Cerqueira.

 

A referida ala se identifica com figuras com o perfil de Maria Ângela Teixeira A. S. Bragança ou de Maria Idalina Valente, que no BP do MPLA ocupam os cargos de Secretária para a Política de Quadros e Secretária para a Política Econômica, respectivamente.

 

Ângela Bragança tem uma trajetória própria no partido e é muito próxima a João Lourenço.

 

Apesar de reservada, Maria Idalina Valente é identificada como “competente”, “sem ala”, e com forte “sentido de liderança”.


Para além do nome de Isaac dos Anjos, Ângela Bragança, Idalina Valente, que são da confiança de João Lourenço, existe também a eventual candidatura de Fernando da Piedade Dias dos Santos "Nandó", apoiada por veteranos e históricos do partido.


Os históricos do MPLA têm procurado amadurecer a eventual candidatura de “Nandó”, que é mais destinada ao resgate da unidade do partido, face às dispersões que se assinalaram nos últimos anos.


De todos os históricos ou veteranos, António Santos França “Ndalu”, conhecido como o “general dos generais” no seio do MPLA, terá sido dos poucos que ainda não deu parecer quanto a candidatura de “Nandó”. No momento em que seria aproximado, acabou ficando indisponível para abordagem, uma vez que se encontrava em convalescência devido a problemas de saúde.


“Nandó” tem sido objeto de pressões internas para assumir publicamente uma posição aos militantes sobre o seu futuro político. A mensagem que tem transmitido é que o tema deveria ainda ser merecedor de um caráter reservado, mas enquanto isso são-lhe atribuídos estudos sobre os principais problemas do país e do partido.


Contra a um eventual candidatura de Dias dos Santos “Nandó” tem havido sentimentos de que em 2027 terá 77 anos, para enfrentar Adalberto Costa Júnior da UNITA, que até lá terá 65 anos. Apesar de fazer caminhadas, a maioria do eleitorado angolano é jovem e vota em jovens.


O próximo congresso ordinário do MPLA está previsto para 2026, havendo indicações (ler Jornal Valor Econômico) de que, em conformidade com os estatutos partidários, João Lourenço é inelegível para o cargo de Presidente do partido por imperativo constitucional. De acordo com teses levantadas, Lourenço aceitou mudar os estatutos no último congresso sem ter observado que o artigo 120 dos estatutos condicionavam-no a avançar para um seguinte mandato.


Na história do MPLA, o conhecido congresso de Lusaka, realizado em Agosto de 1974, na República da Zâmbia, foi o primeiro conclave com mais de uma candidatura, na qual concorreram Agostinho Neto e Daniel Chipenda. O congresso seria anulado, uma vez que, ao ver Chipenda a declarar-se vencedor, o líder Agostinho Neto retirou-se do evento resultando no seu anulamento.

 

Depois de Angola alcançar a independência nacional  falava se da programação de um congresso com múltiplas candidaturas previsto para finais de 1977, em que teria como candidato o então Presidente Agostinho Neto e provavelmente Nito Alves que liderava uma corrente interna, designada por “os fraccionistas”. O conclave nunca chegou a acontecer, porque depois de Maio do mesmo ano, Nito Alves foi executado e o seu grupo foi acusado de tentativa de Golpe de Estado.

 


A vez seguinte que o tema de um congresso de múltiplas candidaturas foi levantado, foi Abril de 2018. José Eduardo dos Santos, que acabava de deixar a Presidência da República, manifestou tal vontade à margem de uma reunião do Bureau Político do MPLA. A sua manifesta vontade foi rejeitada por uma corrente oposta que antecipou-se em aprovar a candidatura de João Manuel Gonçalves Lourenço, como candidato único.


Em junho do corrente ano, o membro do Conselho de Honra do Presidente do MPLA, Julião Mateus Paulo “Dino Matross”, aconselhou João Lourenço a não concorrer a um terceiro mandato. Para aquele general e antigo secretário-geral do MPLA, que falava à margem de uma palestra com jovens universitários, essa opção não é boa e o partido não tem deputados suficientes para aprovar uma emenda constitucional neste sentido.

 

No mesmo encontro com jovens, o general Dino Matross lembrou que em 2017, o então Presidente JES impôs um candidato, que foi o “camarada” João Lourenço. Contudo, hoje, segundo fez notar, pensa diferente. Defensor de congresso com múltiplas candidaturas.


Até a presente data são identificadas no MPLA três alas, e cada uma delas com o seu candidato. A primeira do gabinete presidencial que se apoia em Isaac dos Anjos, a segunda constituída pelos históricos e pela bancada parlamentar que tem simpatias em “Nandó”, e a terceira encabeçada pela ala feminina que se identifica em Ângela Bragança ou em Idalina Mendes."