Luanda - O líder do projecto político ESPERANÇA, Mfuka Muzemba, manifesta-se expectante com os resultados da visita do Presidente da República, João Lourenço, que nesta quinta-feira, 30, vai manter encontro com o seu homólogo Joe Biden, na Casa Blanca, no quadro das relações bilaterais entre os dois estados.

Fonte: Club-K.net

Em entrevista ao Club-K, Mfuka Muzemba sublinhou que as expectativas no seio dos angolanos são várias e vão desde a consolidação da democracia angolana à construção de um país verdadeiramente inclusivo e que “melhor se adapta ao que de extraordinário existe em nós”.

 

O político do partido ESPERANÇA espera igualmente que se ultrapasse o impasse ou entrave que existe na falta de aquisição das divisas pelos bancos correspondentes uma vez que, na sua visão, Angola dá sinais de maior cumprimento a política de combate ao branqueamento de capitais e combate ao terrorismo.

Sendo os EUA uma democracia bastante avançada, disse Muzemba, onde as instituições sobrepõem-se ao poder dos homens, a cooperação entre os dois Estados pode influenciar sobremaneira a política interna angolana onde se queira ver acabada, sobretudo à prática de impunidade que coloca as instituições do Estado em tamanha vulnerabilidade e a democracia em retrocesso, pelo que com esta com esta aproximação, o jovem político afirmou que “teremos maior respeito pelos direitos humanos e uma justiça funcional”.

Siga a conversa que o Club-K manteve com o responsável do partido ESPERANÇA:

Club-K: Como o senhor e seu partido político ESPERANÇA encaram a viagem do Presidente João Lourenço a Washington e o facto de ser recebido na Sala Oval pelo Presidente Joe Biden? Qual é a sua análise sobre o significado político dessa recepção?

M F M: O encontro entre dois chefes de estado é um acto positivo, porquanto representa a consolidação de relações políticas e diplomáticas entre os Estados. Simboliza um relançamento e reaproximação de dois Estados que apresentavam uma visão antagónica na época da Guerra Fria. Penso que o potencial que Angola tem nos mais variados sectores e a sua geografia estratégica, criou interesse também dos EUA para esta aproximação e que é normal acontecer sem qualquer lobby de gabinete ou grupos. Vejo mais uma dinâmica do contexto e da diplomacia para este encontro com vantagem mútua, fora de qualquer lobby.

 

Club-K: Na sua opinião, quais são os possíveis benefícios para Angola decorrentes deste encontro entre os dois presidentes? O que o senhor espera que seja alcançado em termos de cooperação bilateral e desenvolvimento?

M F M: Os benefícios do encontro vão depender muito da nossa capacidade de abertura e ousadia, procurando aproveitar os pontos chaves que nos podem potenciar em termos comerciais e de investimentos, capazes de alavancar a nossa economia. Vê que os EUA têm para os países de rendimento médio uma carteira disponível de mais de 500 mil milhões de USD. E Angola tem de aproveitar mobilizar parte deste dinheiro para investir na sua economia para gerar mais desenvolvimento. A aposta na agricultura, turismo e infra-estruturas pode conhecer uma nova roupagem se conseguirmos mobilizar este dinheiro. Penso que o encontro veio em boa hora, uma vez que os EUA têm já investido só com o corredor do Lobito perto de mil milhões de USD. O corredor do lobito vai ajudar o comércio para uma boa parte da região, também para exportação. Não podemos perder de vista que temos potencial para consolidar a nossa liderança ao nível regional.

 

Club-K: Como o senhor avalia as relações bilaterais entre Angola e os Estados Unidos? Quais são os principais desafios e oportunidades que enxerga nessa parceria?

M F M: Decorridos pouco mais de 30 anos de estabelecimento das relações de cooperação entre os dois Estados, a 19 de Maio de 1993, as relações têm vindo a somar passos positivos. Ao contrário daquilo que era a visão dos EUA sobre Angola, em que definia a sua política externa para Angola, na base da Guerra Fria, hoje nota-se uma clara viragem da página com a abertura de um novo capítulo nas relações estratégicas na área de defesa e segurança. Portanto, há ainda um conjunto de desafios que a própria parceria pode resolver se forem aproveitadas as oportunidades. Desafios com a democracia, com a abertura efectiva do mercado económico, com as tecnologias, desafios políticos, sociais e entre outros não menos importantes.

 

Club-K: Como a viagem do Presidente João Lourenço aos EUA pode impactar as políticas internas de Angola, especialmente em áreas como economia, segurança e direitos humanos?

M F M: Em 1992, com a queda do bloco socialista do qual Angola fazia parte, vimo-nos obrigados a reposicionar as nossas alianças e interesses na política internacional. Isto, fez com que Angola redefinisse a sua política interna, para consagrar um conjunto de instrumentos e práticas que o contexto exigia. Seguramente, ao se abrir essa nova página de relações Angola-EUA, muita coisa pode mudar ao nível da vida política, social, económica e dos direitos humanos em Angola. Quer por ajuda dos EUA, quer por iniciativa do Estado Angolano no sentido de nos adaptar à realidade do tempo e contexto das relações com a nação mais poderosa do mundo.

 

Club-K: Considerando o contexto da visita presidencial, como o senhor avalia a transparência e a prestação de contas do governo em relação aos seus esforços diplomáticos e aos resultados esperados dessa visita?

M F M: A transparência e prestação de contas é ainda um desafio muito grande para Angola. Embora entenda que esta nova etapa das relações entre os dois Estados ganha força por conta também de um esforço que se tem feito no quadro das reformas do Estado Angolano, sobretudo, no combate a corrupção e a impunidade. Todavia, conforme dissemos na linha anterior, à aproximação que se pretende abraçar entre os dois Estados pode ser um caminho para ultrapassar este dilema, quiçá na base da experiência federal, os EUA vêm ajudar-nos para efectivação das autarquias que também são uma fonte de transparência da coisa pública e descentralização do poder.

 

Club-K: Como o senhor acredita que essa visita presidencial pode influenciar a política interna em Angola? Existem preocupações específicas ou áreas em que o seu partido espera ver mudanças ou melhorias?

M F M: Há um ditado que diz "diga-me com quem tu andas e dir-te-ei quem tu és". Os EUA são uma democracia bastante avançada onde as instituições sobrepõem-se ao poder dos homens. Portanto, a cooperação entre os dois Estados podem influenciar sobremaneira a política interna angolana onde se queira ver acabada, sobretudo à prática de impunidade que coloca as instituições do Estado em tamanha vulnerabilidade e a democracia em retrocesso. Seguramente, com esta aproximação teremos maior respeito pelos direitos humanos e uma justiça funcional.

 

Club-K: Na sua opinião, qual é a expectativa da população angolana em relação a esta visita presidencial? Como isso pode influenciar a percepção do governo e do partido que o senhor representa?

M F M: As expectativas são várias, vão desde a consolidação da nossa democracia à construção de uma Angola verdadeiramente inclusiva e que melhor se adapta ao que de extraordinário existe em nós. Esperamos também que se ultrapasse o impasse ou entrave que existe na falta de aquisição das divisas pelos bancos correspondentes uma vez que Angola dá sinais de maior cumprimento a política de combate ao branqueamento de capitais e combate ao terrorismo. Precisamos dos dólares para facilitar a nossa economia, comércio e importação. Contudo, tal como disse acima, os ganhos dessa parceria dependerão muito da nossa capacidade de abertura e ousadia. As relações de cooperação servem para projectar os interesses internos além das fronteiras para colher benefícios que vêem dar uma vida digna aos cidadãos.