Luanda - Dentro da lógica da «democratização da informação», hoje individualmente temos o poder de produzir, tratar e difundir determinada informação seja ela de relevância política, económica, social e segurança, o que de certa forma reduz a capacidade de controlo do que é partilhado, pois é comum nos dias actuais, cidadãos terem acesso a dados sobre determinada ocorrência e difundirem-na pelas redes sociais antecedendo muita das vezes os órgãos competentes. Consequentemente, muitas destas informações contêm conteúdos falsos que deturpam a realidade, alterando assim a sua real mensagem e isto de per si representa um perigo. Em Angola as redes sociais mais utilizadas são o Facebook, whatsapp, Instagram, twitter, snapchat, o Tik Tok, a plataforma Youtube e o Linkedin, que albergam milhares de subscritores , onde são partilhadas centena de milhões de conteúdos por hora. Nos é difícil saber exactamente quantos angolanos possuem contas nestas platarformas, mas estamos certos de que o número vem crescendo exponencialmente tendo em conta a própria dinámica da era digital, o que pressupõe dizer que não estamos isentos do ataque da desinformação.

Fonte: Club-k.net

A desinformação (desinformation ou misinformation em língua inglesa) é de acordo com (NARCISO & COSTA, 2021), a informação falsa, disseminada deliberadamente, com a intenção de enganar, baralhar e influenciar, ou como refere Vogt (2023), a desinformação é a manifestação de uma informação ruím e manipuladora que está particularmente preocupada com intenções malignas e para ganhar poder. É o instrumento potente que pode corroer o tecido social que merece uma atenção muito especial. Vejamos que Silva (2022), salienta que a desinformação é estruturada de tal maneira, que ela inspira confiança no consumidor e afecta a sua opinião, suas decisões ou comportamento geral, de acordo com os objectivos pretendidos pelos criadores de desinformação. Espalhar desinformação não é muito diferente da propagação de uma infecção viral, primeiro de pessoa para pessoa, depois grupo para grupo e finalmente a população de um país ou continente inteiro para outro, através de distribuição de notícias falsas pelas redes sociais como o Facebook, Twitter ou Instagram que juntos podem lançar um modelo epidêmico enquanto que a mídia tradicional pode incorrer, por engano, ou para fortalecer uma mentira, ampliando a cobertura da informação falsa. Ela pode ser produzida por governos, partidos políticos, empresas, políticos para difamar opositores durante as eleições, países em guerra para deturpar as informações durante o conflito, por indivíduos que deliberadamente pretendem criar um abalo social.

 

A desinformação pode ser espalhada por meio de: publicações relativas a um determinado acontecimento, bot de inteligência artificial, deep fakes, Memes, GIFs, Fotos, áudio e vídeo. Offline, através de jornais, rádio e televisão, correio e até mesmo presencialmente. A imagem abaixo está em alta nas redes sociais com várias partilhas, porque alguém decidiu deliberadamente alterar o contexto que ela representa. Na tentativa de produzir um Meme, o desinformador sugere que até um agente do SIC (Serviço de Investigação Criminal de Angola), face as vicissitudes do quotidiano recolhe comida do lixo, enquanto que na verdade, a foto foi feita no momento em que os especialistas deste órgão de investigação criminal procediam a remoção de um feto abandonado inapropriadamente em um contentor de lixo em plena via pública.


Para percebermos melhor como agressiva a desinformação pode ser, é só lembrar o período em que a população angolana debateu-se com a pandemia da COVID19. Antes do Governo de Angola ter anunciado os dois primeiros casos do vírus SARS-Covid19, no dia 21 de Março de 2020, pela Ministra da Saúde Dra. Sílvia Lutucuta, milhares de informações deturpadas e falsas já circulavam meses antes, em virtude da população ter tido pouca ou mesmo nenhuma informação sobre a nossa realidade face a circulação do vírus, o que gerou um clima de pánico generalizado no seio da população. Pessoas de má-fé desinformaram tanta gente que os consumidores desacreditaram os primeiros anúncios feitos. A questão agravou ainda mais quando dias depois o Presidente da República de Angola, João Manuel Gonçalves Lourenço, decretou o Estado de Emergência, colocando toda população em confinamento domiciliar, em cumprimento de uma medida da OMS adoptada pela maioria dos países, no sentido de impedir a circulação comunitária do vírus, a medida que iam sendo feitas as actualizações da situação da pandemia no país pela comissão interministerial, nas redes sociais circulavam informações que contrariavam os números de casos oficiais, criou deste modo um clima de incerteza sobre o nossa situação real relativa a circulação do vírus. Na tentativa das Nações mais avançadas tecnológicamente em produzir vacinas para erradicar o vírus, vários conteúdos desinformantes foram partilhados sugerindo que as vacinas produzidas causariam efeitos secundários fatáis à população mundial e propunham que ninguém as tomasse e em Angola não foi a exceção, uma vez que após o esforço que o Governo de Angola fez para adquirir as respectivas vacinas, organizaram-se os postos de vacinação, todavia, em virtude da desinformação circulada, resgistou-se fraca aderência aos postos de vacinação por parte da população no primeiro mês, obrigando o executivo a adoptar medidas de apelo a vacinação.


Como verificou-se acima, estamos de facto diante de um problema sério que deve ser debatido frequentemente, de modos que possamos criar métodos para combater este fenómeno porque a desinformação é tão perigosa quanto um avião em queda livre com centenas de passageiros a bordo, aliás, é um verdadeiro desastre e as redes sociais por mais que se apresentem como o verdadeiro espaço da democratização da informação, vão transformando paulatinamente a vida em comunidade face ao pouco conhecimento sobre estas questões por parte da maioria dos usuários. A falta de literacia digital, é um dos principais responsáveis pela disseminação em massa de conteúdos falsos, porque pessoas inocentes partilham sem saber que o conteúdo em causa contem informações falsas. Neste contexto existem vários procedimentos para verificar uma informação ou conteúdo falso, propostos por Vogt (2023) que recomenda o seguinte: Desconfie do que você lê e vê, verifique o vídeo ou foto, coloque-o na pesquisa reversa de imagens do Google, para rastear a origem. Se um indivíduo em vídeo tiver os olhos de aparência achatada, movimentos estranhos dos lábios e se for de baixa qualidade, provavelmente é um “deep fake”. Para as notícias, verifique sempre os sites se são oficiais ou não. Outros procedimentos mais técnicos que exigem literacia digital avançada são a Photo Forencics, IziTru, TnEye, Intel Tchiques, AfricaCheck, Youtube Data Viewer, InVid e a plataforma NewCheck, disponíveis no navegador Google.


À guisa de conclusão, uma vez que a sociedade angolana tornou-se bastante sedenta e exigente na obtenção de informações oportunas sobre diversos assuntos que relacionam a população e instituições que regem a vida em sociedade, devem os entes públicos e não só, prestarem informações oportunamente, assim estariam a proteger a população dos malifícios da desinformação que pairam nas redes sociais. Por outro lado, os usuários de redes sociais devem apostas no conhecimento integral das plataformas que usam por que não há ousadia pior do que aquilo que emerge da ignorância diz Noam Chomsky e o conhecimento é tudo esta é a melhor maneira de combater a desinformação, por conseguinte, o senso de responsabilidade deve ser o limite entre a verdade e a mentira, para não influenciarmos negativamente as pessoas.