Luanda - Vive com a mãe e dois irmãos. Carrega no abdómen uma bala e é deficiente visual. A sua vida é um calvário, antes de contrair cegueira, em 1992, no período dos confrontos durante a guerra que dilacerou o país, nos conhecidos confrontos de Luanda, uma bala o atingiu na barrica e permanece aí até agora. Esta é a cruz que Paulo António, de 43  anos de idade, carrega durante dezoito anos.


*Agostinho Rodrigues
Fonte: Jornal Angolense

“Sinto a bala a andar no corpo”

Natural de Luanda e residente no município do Sambizanga, aquando dos confrontos de 1992 numa altura em que saía da casa de um amigo, foi atingido por uma bala resultante do fogo cruzado entre as forças do Governo e das extintas FALAS, antigo exército armado da UNITA de Jonas Savimbi.


Depois de baleado, Paulo António não pode prosseguir a caminhada e decidira voltar para a residência do amigo, onde foi assistido por um enfermeiro que conseguiu extinguir o sangue.


Três dias depois, quando os confrontos indicavam cessar-fogo, procurou os serviços do Hospital Josina Machel e depois de observado foi mandado para casa por alegadamente a bala estar muito distante e complexo para cirurgia.

 

Inconformado, Paulo António não cruzou os braços e recorreu ao Hospital Américo Boavida, onde com ajuda de um médico que se solidarizou com o seu caso, por falta de dinheiro foi mandado novamente para casa sobre o pretexto de que a bala estava distante e não era possível fazer-se a cirurgia.


O tempo foi passando até que 1996, para o mal dos pecados, do nada, Paulo António contraiu cegueira e tudo se complicou. Movimenta-se com ajuda de uma irmã e já recorreu a todas as instituições de saúde do Estado, mas não foi bem sucedido.


Dias após dia, segundo contou, nota que o seu estado de saúde se degrada. “Sinto a bala a andar no corpo e também quando arroto sinto um cheiro estranho sair do estômago”, disse. Segundo explicou, nos últimos anos sente bastantes dores e de uma em uma hora, tem de urinar. Isso mesmo ficou comprovado durante a sua permanência na redacção deste jornal.

 

Explicou que, tudo fez mas a falta de dinheiro inviabilizou que fosse operado na medida em que um médico que presta serviço no Hospital Militar Principal se predispôs o ajudar, mas na altura, pedia 500 dólares porque alegava que não sendo a vítima militar, tinha de dar gasosa a determinados chefes para facilitar a cirurgia.


Não passou de intenção, porque Paulo António não dispunha de tal valor. “Não tenho a quem recorrer, por isso, gostaria pedir as pessoas de boa fé, o Governo, as igrejas, para que me ajudassem. Tenho fé posso ser curado com ajuda de todos”, disse confiante.

Caso queira ajudar este cidadão que luta entre a vida e a morte ligue para os seguintes terminais telefónicos: 921 31 80 07; 916991422