Luanda - 23 de Abril. Comemora-se hoje o Dia Mundial do Livro. A data foi escolhida pela UNESCO para celebrar o livro e o incentivo à leitura. Pessoalmente, nesta data, não só celebro o dia consagrado ao livro, como tomo a liberdade de solenizar o homem, a obra e a vida de quem me ensinou a apreciar um dos principais instrumentos pedagógicos do mundo hodierno: O livro.

Fonte: Club-k.net

Neste dia, festejo a vida e a obra do homem que, um dia destes - já lá vão aproximadamente quase quatro décadas -, me mandou escolher um livro dos escaparates da sua farta e vasta biblioteca para ler durante o final de semana.

De forma mecânica e aleatória, puxei pelo “Livro Verde”, da autoria do coronel líbio Mhumamar Kadafi. Ele olhou para mim, esboçou um sorriso, leve, tranquilo, doce e sarcástico, seguido do seguinte alerta: “Filho, deste livro não vais entender nada, por agora. Aguarda, quando cresceres”. Contava eu, na ocasião, 9 anos.

Neste dia, honro, sobretudo, a vida e a obra do homem que me dava aulas suplementares de Língua Portuguesa e asseverava que não tinha razões para destratar a Língua camoniana, porque a minha mãe e o meu pai falavam bem. Neste dia, enalteço a vida e a obra do homem que não se cansava de me censurar quando as minhas notas dos exames escolares ficassem abaixo dos doze valores.

Neste dia, exalto a vida e a obra do homem que me incentivou a entrar para o Jornalismo e comprou, em Lisboa-Portugal, os meus primeiros óculos de vista. Tinha eu 13 anos. Neste dia, glorifico a vida e a obra do homem que me incentivou a concursar para frequência do curso de Jornalismo no IMEL.

Durante 48 horas antes do concurso, sabatinou, de forma rigorosa, os meus conhecimentos sobre a Gramática da Língua Portuguesa e de Cultura Geral.Neste dia, agradeço reverencial e penhoradamente ao homem que me tratava como se de um filho biológico dele fosse. Neste dia, glorifico a vida e a obra do homem que me deu o prazer de ouvir, gostar e acostumar-me ao matraquilhar da máquina de escrever a qualquer hora do dia; o homem que me ensinou a apreciar uma xícara de café e a extasiar-se com o forte aroma que exala.

Neste dia, sinto a falta do doce aroma do fumo do seu cachimbo a evaporar-se pelo ar. Confesso que, por estes dias, fazem-me falta os ralhetes que me dava quando eu claudicasse. Lembro-me, que já mesmo feito homem, “convoca-me” sempre à sua casa para um “puxão -de-orelhas” quando ouvisse coisas sobre mim que lhe desgostassem.

A sua partida deixou-me órfão pela segunda vez; uma partida que, por imponderáveis, não pude testemunhar; uma abalada a que só pude participar com a deposição simbólica de um modesto ramo de flores que a amiga Ana Paula Gomes fez questão de deixar, em meu nome, no seu túmulo, cravado no chão da sua Benguela natal.

O homem de que falo chamou-se, em vida, Dário Mendes de Melo. Foi professor e inspector escolar. Foi escritor e jornalista. A ele a minha homenagem (hoje e sempre), coroada com a saudade eterna de um filho que ainda chora pela sua partida. Sei que a esta hora está em amena cavaqueira com o seu amigo e compadre Raul David.

Se hoje ele me pedisse - do alto do seu saber, idade e autoridade - para que escrevesse sobre o dia dedicado ao livro, decerto que falaria dele e dos primeiros livros que me ofereceu ou recomendou. O título que daria ao meu escrito? Ei-lo: “Meu(s) livro(s), meu pai!”