Luanda - Tania macedo, professora de literaturas africanas de lingua portuguesa na Universidade de São Paulo, com especialização m Angola, aquela académica esteve entre nós a participar do simpósio internacional em homenagem ao escritor e etnográfico angolano Oscar Ribas, que nos legou um vasto reportorio literário, dentre os quais, apraz-nos citar Os Nuvens que Passam, O Sunguilando e o Missosso, são algumas obras que vão de ficar para eternidade.

 

Fonte: SA

S.A- Professora, como é que avalia a literatura Angola?

 

T.M- A literatura angolana é sem duvida alguma, uma das mais pujantes literaturas africanas de língua portuguesa, e das literaturas de África, normalmente uma literatura se faz pela média, tem a media e tem grandes homens, então é isso além da media tem grandes homens, é uma literatura muito forte e muito pujante, e que criativa o leitor, no Brasil nós temos e ja podemos falar de um publico cativo da literatura angolana.

 

S.A- A questão que se coloca tem a ver com o facto de nos idos anos 80, nós termos tido uma literatura um pouco mais entusiata com a União dos Escritores Angolanos a ter uma produção regular, com Brigada Jovem de Literátura Angolana ajogar o seu papel de charneira, parece haver um defice do consumo literário, que leitura faz deste cenário?

 

T.M-É uma questão de mercado, eu acho que a literatura perde para outras artes, perde para a musica, o Rap hoje, tem muito a ver com os jovens, eles se sentem interessados em relação a este tipo de musica, a televisão as imagens, a internet. Então, eu acho que é uma questão do mercado e da concorrência de outros midias, no caso de Angola, no caso do Basil, há inversão disso, porque há uma lei, a 10/639, que foi promulgada em 2003, que é obrigado o conhecimento da literatura e da cultura africanas e afro-brasileira na escola. Então, o mercado se abriu para isso, nas escolas as pessoas aprendem. Então já se fala com tranquilidade do Luandino Viera, do Ruy Duarte de Carvalho, do Pepetela, do Ondjake, por causa do mercado, “Quem me Dera ser Onda”, teve uma edição que se esgotu em seis meses. Ao contrário do que tem estado acontecer aqui, lá temos um publico consumidor e sobretudo muito jovem.

 

S.A- Seria uma via que podia ser adoptada por nós aqui em Angola professora?


T.M- Não sei, as Faculdades de Letras só agora é que começam a se organizar aqui, eu acho que tambem os cursos, eu diria que Angola renasce a muito pouco tempo. Então, tem tudo por se fazer, inclusive algumas medidas em relação a educação e a literátura, houve um momento em que a União dos Escritores Angolanos jogou um papel. Agora talvez, seja o Ministério da Cultura e o Ministério da Educação, os meios de comunicação de massa. Havia nos 80, eu tenho memoria talvez mais do que a maioria dos jovens angolanos haviam alguns programas literários chamavam-se “Afluentes” que eram programas que falavam das obras, dos autores e as pessoas passavam a conhecer, talvez tambem a televisão auxiliar neste sentido.

 

S.A- Uma outra questão que nos ocorre agora, é a de saber se faz parte da equipa multi-disiplinar que está a trabalhar para a historia da literétura angolana?

T.M- Faço parte sim, e que é uma honra para mim poder auxiliar num projecto dessa envergadura é muito bom.

 

S.A- Qual é o grupo em que está trabalhar professora?


T.M- Na contemporânia, exactamente a grande questão, porque nós temos muitos autores.  Entao como é que nós vamos dar conta disso? Nós temos encaminhado, fizemos já um quadro geral do contesto, e que nós pensamos para os estrangeiros e os angolanos, qual foi o primeiro momento da literatura da independência? E o que constituiu o primeiro momento de cultura? Não só a União dos Escritores Angolanos, mas o INALD, temos que construir as instituições culturais, e nós já fizemos esta parte toda da escrita, agora temos o trabalho com os autores e as obras.

 

S.A. Como é que vai esta componente?


T.M- Vai de forma mais ou menos lenta, eu acho e no caso da professora Carmy e eu que estamos juntas no Brasil fica mais fácil não é? Nós conversamos, agora há toda uma questão da literatura info-jovenil, da crónica, do teatro, organizar isto tudo é muito dificil e são muitos documentos, por ser um período relativamente jovem este período, muitos dos documentos ainda não estão disponíveis, mais isso vai se fazendo.

 

S.A- Na altura em que esta equipa tomou posse, havia a pretensão de se apresentar pelo menos um draft em 2009, como é vai este processo?


T.M- É verdade, mas nós vamos ter que gastar um pouco mais de tempo, mas muito pouco, porque o nosso crónograma é apertado, não se pode levar por muito tempo, porque se nunca terminarmos e os autores vão publicando, novos autores aparecem, o contexto se modifica e se nós formos esperar, ela pode ser editada e depois sofrer as modificações devidas, provavelmente nós tenhamos uma reunião nós os membros da comissão, para fechar definitivamente o crónograma, fechamos e estamos a fechar, estamos a cumprir, e deve sair com um pequeno atraso mas sai.

 

S.A- Aproveitando a ocasião, da homenagem, que apreiação faz das obras de Oscar Ribas?


T.M- Eu creio que entendi um pouco melhor a literátura angolana, porque quando comessei a estudar a literátura angolana, li o Missosso, deu para entender o contexto cultural em que se dava esta literatura, comessei a entender a oralidade, para entender a literátura. Então, é fundamental lermos o texto de Oscar Ribas, não só um, mas os varios textos não só os de ficção, mas tambem os textos de Etnográfia, e eu ccreio que ele apresentou como poucos um dilema, que está entre dois mundos, de fazer conhecida uma lingua e costumes, que se queriam,  que o colonialismo queria que estivesse fora,  que consta nos seus textos, isto é muito importante. Oscar Ribas, é uma daquelas pessoas que tem muito a ensinar, sobre os dilemas da cultura, sobre a memória, e sobre como é ser angolano.

 


S.A- A critica que se faz da parte de alguns estudiosos sobre a sua produção literária, é que nas primeiras obras de Oscar Ribas, constar dedicatórias favoráveis ao regime colonial, estes autores dizem que este facto acabava por retirar em parte alguma suculênia destas obras. Que apreciação faz desta critica?

 

T.M- Bem! Sobre isto, o professor Francisco Soares, diz que isto é uma estratégia, uma estratégia de sobrevivência num periodo bastante apertado, passar entre as malhas apertadas do sistema colonial, eu acho que isto tambem é estar entre dois mundos, ao mesmo tempo em que ele vai apresentar a cultura angolana, ele tambem vai estar ligado a este outro mundo português. Então, eu creio que é realmente uma hibridação, passar de um lado para o outro.

 


S.A- Óscar Ribas, segundo Michel Laban, também de feliz memoria, lhe havia escrito manifestando a pretensão de fazer a reimpressão da sua obra “ Nuvens que Passam”, só que não tinha nenhuma cópia desta obra, hoje que já foi localizada a obra, acha pertinente a sua reimpressão?

 

T.M- Completamente, não se pode deixar de fora, a literatura se faz pela tradição e a tradição é aquilo que a gente aceita ou nega mas está sempre presente, e não dá para pensar a literatura, a cultura angolana sem o Óscar Ribas, todo este processo, todas as obras têm de ser resgatadas sim, têm de ser publicadas, depois vamos fazer o que fazer, mas têm que estar presentes, para que possamos ler as obras e até mesmo para dizer que não concordo,  mas você vai estar a se referir a ela, se nós nos esquecermos, começamos a esquecer, Óscar Ribas, depois vamos nos esquecer do Wahenga Xitu, esquecemos o Boaventura, esquecemos -nos de  todos, não se pode, têm que estar presentes sim, toda cultura angolana.

 

S.A- Enquanto professora que recado deixaria, para aqueles que pretendem se iniciar na crítica literária?

 

T.M- Leiam, leiam, leiam, é isto que faz um leitor e também um escritor, ler os textos, apartir deste momento em que você lê, você tem, um aumento do teu imaginario, você tem uma melhor forma de expressão, e você aprende o mundo, e com isso aprende literátura tambem, não é tanto a teoria literária, mas sim, o próoprio texto literário que fala, eu aprendi muito de Angola quando eu comssei a ler, eu conheci Luanda, antes de palmilhar as suas ruas, a primeira vez que eu cá estive, li algumas obras, eu e a professora Rita Chaves, e fomos subindo, nós conhecíamos Luanda, porque nós tínhamos lido a literátura.


 S.A- Mas não interpretado na diagonal, não muitas ruas não existiam, os autores tambem ficcionam, mas muito que sabemos hoje, foi o que nós aprendemos com a literátura.

Não, em muitas ruas na verdade não existiam, os autores também têm ficção não é? Mas era ideia de uma adesão a este mundo que nós aprendemos com a literatura.