Cabinda - Antes do final do ano 2009, mais precisamente em Novembro, os cabindenses deparavam-se com um misto de pasmo e de incredulidade diante do anúncio da indigitação - depois confirmada pela nomeação presidencial - do ilustre desconhecido que dá pelo nome de Mawete João Baptista (doravante MJB), general da guerra com estrelas ao ombro que nunca brilharam pois este titulo é mais simbólico do que meritório.

Fonte: Club-k.net


Depois duma carreira diplomática longa que o fez passar por Portugal, Itália e RDC e ainda com uma efémera e turbulenta passagem como governador da sua província natal, Uije, a sua chegada a Cabinda compara-se à irrupção dum meteorito. Efectivamente, o seu antecessor Aníbal Rocha (doravante AR) foi apeado da governação de Cabinda duma forma intempestiva e indigna. Tudo começou com a conferência provincial do MPLA realizada no Simulambuco onde por ordens superiores e contra a vontade dos militantes foi imposta e confirmada a candidatura de MJB como primeiro secretário do partido a despeito da candidatura de AR.

 

Foi um acto rocambolesco e sem qualquer lisura politica. Nessa altura AR preparava a província para acolher o CAN Angola 2010 e para inaugurar uma série de infra-estruturas concebidas e construídas durante o seu consulado, mas não lhe foi dado mais tempo e o então Ministro da Administração do Território, Virgílio de Fontes Pereira, fora peremptório no encontro da apresentação do novo governador e na presença do antecessor na Sala do Chiloango ao recusar-se a conceder a este último mais uns dois meses como era seu desejo.

 


Pois bem, vamos então aos factos que marcam o primeiro ano da governação de MJB. Tão logo assumiu o comando da província fez do anti-anibalismo o cavalo de batalha do seu consulado. Ouvimos criticas pouco veladas contra a governação do seu predecessor fundamentalmente em relação à gestão não transparente do erário público e à promiscuidade entre os negócios privados e públicos já que várias empresas estratégicas sedeadas em Cabinda seriam supostamente propriedade de AR. O azedume entre os dois políticos da grande família instalou-se ao ponto de o MJB não se coibir nos seus comentários em off em emprestar alguns encómios ao comportamento do seu predecessor acusando-o de desbundeiro (amigo de folguedos e orgias), de ser amigo dos cabindas e de não ter um discurso contundente em relação às tendências independentistas que grassam no enclave. Entretanto, AR assumiu o seu lugar na Assembleia Nacional e passou a chefiar o grupo de deputados pelo círculo eleitoral de Cabinda com a espinhosa tarefa de fiscalizar os actos do executivo local.

 


Este facto veio trazer ao de cima um grande desconforto ao MJB que numa das reuniões do Conselho da província deixou-se levar pelos seus maus instintos em relação ao seu correligionário ao cometer uma soberba gafe de mandar constar nas conclusões a retirada de AR do grupo de deputados pelo circulo eleitoral de Cabinda. No comment! Consequentemente, MJB passou a cultivar uma aversão aberta aos actos governativos do seu predecessor e contra todos os dirigentes da província conotados com ele. Quase todas as empresas conotadas com AR caíram na desgraça ou desapareceram simplesmente. O caso mais flagrante é da RESI, empresa que nos últimos anos realizava a recolha do lixo e a limpeza da cidade. A cidade de Cabinda hoje empesta com o lixo espalhado e acumulado em todos os cantos. Nunca se viu a cidade tão suja como hoje! Nas zonas periurbanas os problemas do saneamento básico agudizam-se a olho nu, o que afecta a situação sanitária das populações. O tapete rodoviário urbano que durante o consulado de AR conheceu obras de recelagem hoje está infestado de crateras que dificultam a fluidez do trânsito.

 


Na avenida Duque de  Chiazi o esfalto esconde-se agora no subsolo transformando-se com as enxurradas numa espécie de picada de terra batida. A situação da produção e da distribuição da energia eléctrica é catastrófica. Em várias repartições públicas onde os serviços foram informatizados a situação é desoladora porque praticamente não se trabalha. Muitas vezes encontramos os funcionários em conversas amenas porque não há luz e não podem fazer nada.

 


Algumas zonas urbanas e periféricas estão sem luz há meses, mas a ENE não pára de cobrar o consumo (inexistente!), sob pena de corte do fornecimento. A última quadra festiva foi uma decepção para a função pública habituada aos mimos desta época. A verdade é que não houve cabazes e na última da hora o governo local achou uma solução mawetiana: o levantamento de sexta básica no supermercado Simbila. Esta comportava apenas os seguintes produtos: um saquito de cinco kilos de feijão fura-panela, um saquito de arroz, duas garras de vinho VM (alguns populares já o chamam de Vinho Mawete), uma grade de cerveja Cintra e uma grade de refrigerantes. Ouvimos funcionários da sede do governo a resmungarem e vimos autoridades tradicionais indignados por essa afronta do senhor general Mawete. O seu discurso populista sobre o rigor na gestão do erário publico e do respeito ao património do Estado foi o mote que o levou o recuperar alguns meios de transporte que faziam parte das frotas que os dirigentes acumularam nos últimos anos. Esta decisão trouxe um mal-estar no círculo dessa corja de gananciosos e oportunistas que estão (não são!) no MPLA apenas pelos tachos que a chefia lhes confere. De facto, para muitos o MPLA nunca foi o partido do coração, mas sim do estômago.

 

Outro grande problema do consulado de MJB prende-se com a situação dos bolseiros da província nas universidades privadas e no exterior do país. O governo acumulou uma dívida considerável junto dessas instituições e até agora mantém-se a situação de insolvência, o que impossibilitou – por retaliação – o acesso de centenas de estudantes da Lusíada e da UPRA aos exames finais. Está comprometido o ano lectivo 2010 e agora que se prepara o novo ano lectivo 2011 correm o risco de ir para a rua, o que seria uma autêntica fraude contra esses cidadãos que acreditaram no governo. O general Mawete está se marimbando com o problema, esquecendo-se que não se trata duma dívida pessoal de AR, mas sim do governo e o dinheiro não vai sair dos seus bolsos.

 

Este não tem outra alternativa senão abrir mão e honrar os seus compromissos junto daquelas instituições académicas e desses jovens que estão a viver um grande pesadelo. Consta, entretanto, que já se prepara uma manifestação de protesto junto da sede do governo antes do início do novo ano lectivo. É um direito constitucionalmente consagrado. A comunicação social local está completamente domesticada pelo  mpla. Contrariamente ao que já se passa em Luanda, os cidadãos não podem contar com estes instrumentos para abordar os problemas mais sérios e profundos que afectam as populações. Por exemplo, depois de ter entrevistado os estudantes afectados pelo problema exposto, a TPA e a RNA não passaram as respectivas reportagens por ordens superiores. Não existem debates sérios e plurais. A rádio por vezes convida indivíduos recomendados para aquilo que chamam de debates, mas que não passam de conversas de quintal.

 

Portanto, o nó górdio da governação desastrosa de MJB é a falta de carisma político condimentado por ressaibos de autoritarismo e agravado pela falta de um programa pragmático e exequível de governação. Nos seus discursos apercebemo-nos de que tudo é prioritário: estradas terciárias, água, luz, saúde, educação, casas sociais, infra-estruturas, etc, etc.


É um babel de programas sociais e, como quem muito abarca pouco aperta, a verdade é que Cabinda caminha a passos firmes rumo ao subdesenvolvimento. A única coisa que MJB conseguiu com mestria no primeiro ano do seu consulado é o marasmo da província em todos os sectores. Alguns problemas já minimizados no consulado de AR hoje estão novamente agudizados e Mawete já provou que é mais um problema do que solução. Se esta é a cartada do MPLA para a sua estratégia eleitoral em Cabinda, então desenha-se já no horizonte um sério desaire deste partido nas urnas. A vitória eleitoral da UNITA em Cabinda que o MPLA manipulou de maneira flagrante em seu benefício em 2008 foi um aviso de que os cabindas andam cheios do MPLA e dos seus dribles políticos. Quem avisa amigo é. Voltarei.

      Balila Baiékula