Luanda - Abel Chivukuvuku nunca escondeu a sua ambição de,como político um dia poder vir a concorrer para a cadeira de Presidente da República de Angola. Com a aprovação da nova Constituição,onde as regras passaram a ser diferentes,o u seja, deixou de haver eleições apenas para as presidenciais e os candidatos são eleitos por listas partidárias,Chivukuvuku viu o seu sonho ficar um pouco mais distante,atendendo que,embora quadro dirigente da Unita,ele está muito longe de poder,para já, ser escolhido para cabeça de lista do seu Partido.


Fonte: Figuras&Negócios

O que eu falei na altura foi: tomemos cuidado para não corrermos o risco de somalização

Mas,afinal isso não o faz desanimar nem desistir e acredita em agendas mais a longo prazo.Isso mesmo ele explicou numa entrevista a revista Figuras&Negócios que durou cerca de duas horas e que respigamos aquí o mais interessante dela. Uma coisa é certa,o homem tem conviccões,defende com dedo e unha as suas ideias e estabelece cenários para o mosaico político angolano onde acredita que há espaço para a democracia prosperar.

 

Figuras&Negócios(F&N) - Com a entrada em funcionamento da nova Constituição do País, o seu sonho de se tornar Presidente da República esfumou-se?

Abel Chivukuvuku(A.C.) - Por várias formas, em 2008, o MPLA fabricou uma hegemonia esmagadora no parlamento que permitiu a esse partido, e particularmente ao Presidente da República,-porque foi desejo dele,-fazer uma reforma constitucional inconstitucional. E essa reforma constitucional inconstitucional acabou, em certa medida, com a eleição presidencial directa. Inventou-se o modelo que no fundo leva os cidadãos a não poderem escolher directamente a pessoa que querem. No entanto, para aqueles que quiserem participar no jogo político na luta pela cadeira presidencial, mesmo assim, há sempre várias formas.


As pessoas são militantes dos seus partidos e, por via deles, podem conseguir ser cabeças de lista. No caso concreto da Unita, para ser cabeça de lista é preciso, por força dos estatutos, ser Presidente do Partido. Portanto, quem quiser ser candidato deve procurar ser presidente do partido, enquanto tivermos os estatutos como eles estão.


F&N - Mas o senhor já disse que estava definitivamente afastada a hipótese de concorrer ao cargo de Presidente da Unita?

A.C. - Não, não está definitivamente afastada esta hipótese. Nas circunstâncias em que fiz a declaração eu disse que não estava interessado. No entanto, os estatutos não proibem. De acordo com os nossos estatutos, o partido deve realizar congressos de quatro em quatro anos e eu entendo que os estatutos são para os partidos o que a Constituição é para o País, portanto, de cumprimento escrupuloso e obrigatório.


O que digo é que as pessoas que quiserem podem encontrar um formato de na mesma concorrerem pela via dos seus partidos ou por via de outros partidos que quiserem. Temos uma série de partidos que eventualmente, um ou outro, não tendo personalidades com estatura suficiente, podem convidar outras personalidades. Portanto, seja quais forem os artificios que se fazem nessas engenharias constitucionais, nunca as portas ficam completamente fechadas.

 

F&N.-Esse seu afastamento da política activa,digamos assim,é estratégico?Na política,nem sempre o silêncio joga à favor das ambições?

A.C. - Não diria que estou num ligeiro afastamento da vida politica activa. Eu sou membro da direcção da Unita, do seu comité permanente. Participo, a esse nível, em todas as deliberações do Partido. Não tenho, isto sim, função executiva e é por isso que apareça menos. E seguindo um ditado do velho Jonas (Savimbi), existem momentos da vida que é interessante aplacar, o que não significa deixar de fazer parte do jogo político.

 

F&N - Você é um Enfant Terrible no seio da actual direcção da Unita. Sendo assim, acredita que nos tempos mais próximos pode ser bem sucedido na luta pela liderança do partido?

A.C. - Neste momento nós temos um calendário nacional e partidário que faz com que a chance mais próxima, de acordo com os estatutos da Unita, é, por norma, o congresso que, em termos de normalidade, deverá ocorrer neste ano de 2011. O mandato do Presidente Samakuva termina em Julho. Portanto, temos essa etapa que fica antes das eleições gerais do País, que estão, em termos de Constituição, previstas para 2012. Isto significa que não podemos, neste momento, estruturar uma visão sobre o que será 2012 antes de passarmos esta etapa de 2011. Mas, como disse, seja quais forem as engenharias constitucionais que se fabricam, quando existe vontade e determinação há sempre espaço para podermos participar, se assim quisermos.

 

F&N - O senhor acredita que com o cenário da actual Constituição, o MPLA e o seu líder poderão perder a liderança do País?

A.C. - As sociedades que se acreditam imutáveis ou os actores que se pensam permanentes nas posições que desempenham correm riscos, como aliás está a acontecer agora no Magrebe e no mundo árabe. As sociedades maturam-se.


F&N - Não acha que são realidades diferentes, do mundo árabe com o resto da Africa?

A.C. - Os seres humanos em todas as sociedades e em todas as circunstâncias, sejam eles africanos, europeus, árabes ou americanos, têm todos as mesmas expectativas; expectativas de uma vida digna, de uma condição social gratificante; têm todos as mesmas frustrações quando confrontados com situações de pobreza extrema, de irrealização social. Têm todos as mesmas esperanças, de que a situação que vivem em determinado momento não vai ser permanente, que vai mudar, por um lado. Por outro lado, acho que não é correcto dizermos que as circunstâncias e o contexto no Magreb e no mundo árabe são diferentes do resto de Africa. Digamos que há factores e caracteristicas iguais e há algumas diferenças, mas o que mais pesa são os factores iguais. Em primeiro lugar, temos o problema dos regimes autoritários. Lá são regimes autoritários mas aquí também são; nos países arabes do Magreb temos regimes de caracter unipessoal, onde o determinante é uma pessoa, e nós aquí em Angola, particularmente, até agravamos isso com a nova Constituição que foi fabricada, praticamente com o presidencialismo hiperbólico que temos. Existem em ambas as situações os problemas de democracia de fachada. Nós vimos como decorreram as nossas eleições de 2008, como é o nosso ambiente da comunicação social pública,dos direitos fundamentais dos cidadãos,…

 

Portanto, em termos de democracia de fachada foi a mesma coisa lá, é a mesma coisa aquí. Em termos de pobreza, a nossa situação é muito mais grave. Os nossos índices de pobreza são muito maiores do que no Magebe. A Tunísia, apesar de tudo, não estava assim tão gravemente mal. Aquí temos o problema da urbanização caótica, onde estamos a criar os ghetos por todo lado e que são um fomento de revoluções. Temos o problema dos grandes desiquilibrios sociais, os recursos açambarcados pelas elites e seus familiares que é igual lá como aquí,...


Agora, aceito que existem alguns factores de diferença, como a dimensão religiosa. O islão introduz no quadro mental das pessoas uma dimensão diferente de fé, que acreditam quando têm que fazer as coisas que eu penso que o cristianismo leva de forma muito relativa. Isto verdadeiramente é uma diferença e faz com que os povos do Magrebe, os povos islamizados tenham uma maior determinação. Outra diferença, se quisermos, é a coragem, mas essa surge em função da dimensão social. Eu sinto que eles são mais corajosos, o que também advem do islão, onde as pessoas acreditam um pouco mais no sacrificio.

 

F&N - Mas essas «revoluções» nem sempre levam a chamada democracia que respeita os cânones ocidentais.

A.C. - Sim, isto também é verdade. Mas nos casos presentes os indicadores têm sido de revoluções positivas até aquí. Mas existem outros factores de diferença, como, por exemplo, o nível de literacia. Lá, a literacia superior é muito mais avançada, não foram apenas os jovens desempregados, sem formação, que se rebelaram, foram pessoas formadas, por isso é que a dimensão tecnologica teve um papel muito grande. Penso que as nossas sociedades africanas particularmente deveriam ver o que se está a passar como uma lição, como um prelúdio para que não deixemos as nossas circunstâncias evoluirem até chegarem ao nível de agravamento e de saturação. Entendo mesmo que nos nossos casos, se fosse no momento presente, os riscos seriam maiores. Por isso é que não sou muito apologista desse tipo de revoluções para as nossas situações. No caso concreto de Angola, tenha-se em conta que acabamos de sair de um conflito armado muito violento e de muitos anos.

 

F&N - Este é um risco que obriga a se evoluir para o exemplo do Magreb?

A.C. - Aquí o risco é maior. E, por causa disso, temos de ter muito mais cuidados. O facto de termos tido um conflito de longa duração faz com que os nossos processos tenham uma dose de violência muito grande. Por exemplo, ainda temos muitas armas escondidas e também os nossos fenómenos, talvez por causa da pobreza, podem evoluir para uma tendência de saque, o que seria extremamente perigoso. Por isso, todos esses indicadores devem ajudar,e servir de lição, tanto para os poderes públicos como para nós todos enquanto membros das sociedades no sentido de trabalharmos e tomarmos medidas para se construir uma sociedade relativamente séria e, do ponto de vista de justiça social, equilibrada para não permitir que cheguemos aos extremos.


F&N - O senhor não acredita que o MPLA, está a ter em conta o que hoje acontece naquela parte de Africa e, esteja a pensar em mudanças que o levem a um maior entrosamento com a população?

A.C. - Acho absolutamente o contrário. Digo, uma vez mais, que o MPLA fabricou esta maioria esmagadora de 2008.

 

F&N - Mas o MPLA "fabricou" a maioria esmagadora ou a oposição em bloco não teve estratégia para impedir a vitória dos Camaradas?

A.C. - Houve vários factores, entre os quais a fabricação. Todos constatamos a forma atabalhoadamente programada como decorreram as eleições, sobretudo aquí em Luanda

 

F&N - Não terá havido erros graves da chamada geração política da utopia intregada na oposição?

A.C. - Eu tenho uma visão mais profunda para ver as coisas. Sou dos que acreditam que a revolução democrática de Africa dos anos 89 a 92 não foram revoluções por convicção; foi por necessidade de acomodação dos regimes. Significa que as mesmas pessoas que durante anos defenderam de forma fêrrea os partidos políticos, racionalizaram a necessidade desses partidos políticos-uns diziam que os africanos não tinham formação suficiente, eram analfabetos para a democracia, outros diziam haver a necessidade da construção da nação por causa da existência de etnias, que se exigia um partido para se construir primeiro a nação,… portanto, racionalizaram do ponto de vista intelectual a necessidade dos partidos únicos e mantiveram. No nosso caso, até com o marxismo leninismo. De repente, todos já viraram democratas? Não é verdade!


Houve a necessidade de metamorfoses por causa das circunstâncias internas e externas-o mundo tinha mudado e para se manterem no poder ajustaram-se mas ao nível das convicções não mudaram. Mantêm as mesmas convicções, e daí o facto de se ter fabricado essa maioria esmagadora. Houve três factores que permitiram isso: de um lado, fabricação-fraude, manipulação, porque em termos de democracia os níveis de fabricação evoluem em muitas dimensões. O facto da comunicação social do Estado não dar acesso a outras vozes já é fabricação. Por outro lado, desiquilibrio na utilização dos recursos do Estado. A maneira como o processo eleitoral decorreu em Luanda foi uma desordem organizada que permitiu a manipulação. Portanto, essa hegemonia não incentiva o MPLA a fazer melhor.


Nas sociedades, qual é o factor fundamental para a transformação? É a concorrência. Onde há concorrência todos têm de melhorar, onde não há concorrência leal não há incentivo para se melhorar, e existem vários domínios onde não sinto a tendência do lado do MPLA em evoluir.
Nós precisariamos, para prevenirmo-nos das coisas que estão a acontecer no Magreb, de assumir e implementar uma democracia verdadeira. Temos que assumir a democracia como algo que vem de nós próprios.

 

F&N - E nesse mundo, onde existe este produto acabado tal qual desenha?


A.C. - Não podemos cair na tentação de pensar que como os americanos e os europeus levaram 200 anos, nós também temos de levar o mesmo tempo. Vamos ver, por exemplo, o Ghana, que hoje tem uma das democracias das mais profundas e melhor estruturadas daquí de Africa. Tiveram já duas alternâncias e feitas de forma exemplar e tranquila. Portanto, nós também devemos sonhar, e uma sociedade que não sonha, morre porque não evolui. Devemos sonhar que podemos e somos capazes de estruturar aquí em Angola uma democracia séria e verdadeira. Precisamos de evoluir para um modelo patriotico de governação que deve envolver ambição e com programas realistas, com transparência e prestação de contas.

 

F&N - Mas o governo agora tem feito regularmente prestação de contas. Quer mais do que se faz?

A.C. - Não tem havido nada. Aquilo é um exercicio de imagem. A prestação de contas envolve outros requisitos mais concretos, como, por exemplo, quanto foi atriubuido ao organismo x e para fazer o quê e quais foram os resultados.

 

Como nós não estamos habituados, acalentamo-nos com pouco. E alguem me dizia que dá a impressão de que os angolanos têm uma capacidade ilimitada de aceitação da mediocridade. Não pode ser assim, temos de querer sempre o melhor. Há um ditado na política que diz: «quando estás no exercício do poder, faça tudo para pôr-se no lugar daquele que não está, para perceber o que ele sofre. Por isso, precisamos de fazer uma luta verdadeira contra a pobreza.

 

F&N - O governo recentemente promoveu uma reunião nacional sobre o combate à pobreza?

A.C. - O nosso regime governamental tem um nível de teorização muito grande mas um nível de execução muito fraco. E é verdade que mesmo ao nível da teorização, o facto de não existir sensibilidade política para os que sofrem obriga a que muitas vezes surjam programas irrealistas.

 

Temos de olhar para a questão da pobreza em duas dimensões diferentes: a pobreza nos meios peri-urbanos e a pobreza no meio rural e fazer face a esses factores também de forma ambivalente. Por exemplo, a identificação da pobreza nos meios peri-urbanos. Quais os maiores problemas? Começa pela água: não ouvi até aquí nenhuma estratégia para a resolução deste problema, que tem duas dimensões também. Por um lado, verdadeiramente abastecer as populações de água a sair das torneiras implica a requalificação dos bairros, porque da maneira caótica é quase impossível. Mas essa requalificação, no caso de Luanda e de outras cidades vai levar décadas, mesmo com vontades.

 

F&N - O governo, se não me engano, promete água para todos em 2020.

A.C. - Não sei se são capazes. Duvido, e nem sei mesmo se há vontade para tal. A requalificação é uma questão de tempo, mas, por outro lado, o problema da falta de água não pode ser deixado assim. Significa que, no mínimo, se deve acautelar para que aqueles que compram água em bidons deixem de comprá-la. Então, o governo teria de ter uma estratégia de curto prazo, como, por exemplo, colocar chafarizes com tanques monumentais para o equivalente a uma população de cada vinte mil habitantes. Temos, por outro lado, os problemas de saneamento, de saúde, emprego, enfim, eu não sinto que haja uma estratégia coerente, pelo menos, para fazer face a pobreza no meio urbano. No meio rural, a situação é mais grave, porque aqueles são os esquecidos.

 

F&N - Está a querer dizer que todas essas questões negativas que identifica são ingredientes para o MPLA não conseguir os mesmos resultados nas próximas eleições de 2012?

A.C. - Se nós conseguirmos como actores políticos trabalhar no sentido de termos processos eleitorais democráticos, justos e transparentes, em nenhuma circunstância o MPLA pode ter aquela maioria de 2008. Falo em processos eleitorais sérios, o que não significa dizer que vamos já a assistir a alternância do poder. Não senhor, porque também acho que há enorme fraqueza ao nível das forças políticas da oposição.


Se melhorarmos todos a qualidade da oposição, então o potencial da alternância também sobe. É preciso que o cidadão não se sinta frustrado na sua realização social e política,… é preciso que da sua frustração nasça a esperança. E essa esperança tem de vir de alguém, de algum partido. Os partidos da oposição precisam, pois, de ganhar credibilidade, de ganhar afecto dos cidadãos.


Resumindo, de um lado, não temos ainda processos político-democraticos sérios e, por outro lado, as alternâncias são fracas. É esse o dilema, mas não significa que vai ser sempre assim. É possível que em 2012 já as oposições tenham vitalidade, apresentem mensagens mobilizadoras e galvanizadoras, consigam criar empatia, porque em política conta muito a empatia.

 

F&N - Estamos mais próximos de voltar para o monopartidarismo ou ver o reforço do multipartidarismo?

A.C. - Depois de termos ensaiado o exercicio democrático, apesar das suas deficiências, não há hipoteses para se evoluir mais negativamente do que já evoluimos, com essa esmagadora maioria de 2008. Vamos entrar para o ciclo de 2012, não sei como as coisas vão acontecer, se os partidos vão conseguir forçar os processos democráticos mais sérios, se eles próprios vão ganhar estrutura suficiente para poderem aparecer como verdadeiras alternâncias, mas a médio prazo vai ser inevitável que os processos democráticos terão que melhorar e, também, as sociedades não permitem o vazio. Se as forças políticas actuais não conseguirem galvanizar e encontrar um domínio do espaço político necessário, vão surgir outras alternativas. Agora, só espero que nós, Angola, não sigamos o ritmo actual, pelo menos aquí na nossa região, em que é do Partido no poder que sai uma franja que se torna força maior da oposição. Já aconteceu na Namíbia, na Africa do Sul, mas espero que não aconteça aqui.


Nós ainda temos um espaço político que a Unita precisa de galvanizar e preencher completamente. A cultura política no seio do MPLA, apesar da imagem que procura lançar para o País, não é a mais positiva, porque não tem um projecto verdadeiro de construção de uma sociedade justa. Acho que perderam a latitude moral de corrigir uma série de insuficiências, como a corrupção e outras praticas negativas.

 

F&N - Não acredita numa terceira via, que englobe, por exemplo, políticos do MPLA e da Unita?

A.C. - Entendo que o vazio não existe na vida política. É preciso que as forças políticas, e a começar por nós próprios, Unita, façamos um esforço para cada vez mais preenchermos esse espaço de alternativa que os cidadãos esperam. Temos todos de trabalhar neste sentido porque podemos correr o risco de ver surgir uma coisa nova. É verdade que não vejo esse cenário a curto prazo, em 2012, mas depois dalí e em função do quadro que nós tivermos, é sempre uma possibilidade.

 

F&N - A Unita tem força para aglutinar toda a oposição e fazer frente ao MPLA sabendo-se que os partidos políticos têm linhas diametralmente opostas e com laivos mesmo regionais, uns do norte outros do sul?


A.C. - Eu não diria que há divisão de partidos políticos do norte e do sul, até porque a maioria dos partidos hoje existentes foram criados por lideranças originárias do norte. No espaço sul, se assim podemos falar, são poucos os partidos que surgiram com lideranças a partir do sul..Mas hoje o que se põe é a questão de lideranças politico partidárias que consigam galvanizar e criar empatia com esse nível de frustração social que existe. Os partidos têm que evoluir para esta dimensão de forma a, se tivermos um desafio em 2012, no mínimo ajudem a reequilibrar a balança. Até porque o reequilibrio ajudará o MPLA, se ainda permanecer no poder, a governar melhor, porque sentirá a concorrência. Não podemos continuar com essa maioria asfixiante que temos neste momento. A minha lógica é de que é´preciso ser forte para depois aglutinar, sermos vistos por outros partidos como fortes para eles terem incentivo a juntarem-se a nós.

 

F&N - O senhor não está na política activa mas ganha dinheiro como empresário. É verdade?

A.C. - Não. Eu não sou empresário

 

F&N - Mas está na vida empresarial? Ouvi dizer que tem imóveis, aluga, etc.

AC.-Eu não tenho nenhuma empresa. Fiz investimento, comprei casa com o meu dinheiro, o que é diferente da actividade empresarial. Sou responsável político. Agora, acautelei-me no sentido de não ter que passar fome.

 

F&N - Ficou abastado com a política?

A.C.- Não. A única função política de Estado que desempenhei é a de deputado, e toda gente sabe qual é o salário do deputado.

 

F&N - Acredita que com essas suas ideias, um dia poderá convencer o eleitorado angolano e tornar-se Presidente da República?

A.C. - Se não tivesse fé não faria política. É porque acredito que, como pessoa, faço parte de uma estrutura política mas, para além disso tenho a minha visão, forma pessoal de ver as coisas e que acredito que provavelmente corresponderia com um grande segmento de ansiedade e de esperanças deste Pais e também acredito que é possível reverter a tendência e fazer de Angola um País sério.

 

F&N - Não acredita que a sua imagem possa ter saido quebrada com o conceito utilizado por si, de somalização de Angola?

A.C. - Infelizmente, a cultura de diabolização, caracteristicas eminentes dos antigos regimes marxistas leninistas, deturparam o que eu disse. Na altura, eu tinha feito um alerta, tal como estou a fazer agora: cuidado, se nós não tomarmos medidas, o que está a acontecer no Magreb pode nos acontecer. São alertas. E o que eu falei na altura foi: tomemos cuidado para não corrermos o risco de somalização.


Houve uma outra ocasião, estavamos nos anos 98, 99 e na altura aventava-se a hipotese de realização de eleições, e eu na altura disse que não acreditava que tivessemos eleições antes de 2000. Toda gente achou que eu era irrealista, mas era uma questão de leitura adequada dos fenómenos, dos indicadores. Por isso, acho que o cidadão comum não olha para o conceito ou terminologia de somalização nessa perspectiva negativa.