Holanda - Confesso que até mais ou menos Outubro de 2010, só pensava na Costa do Marfim quando escutasse alguma música de Alpha Blondy, um dos meus músicos favoritos. Tenho muitos CD's dele em casa e alguns poster's também.


Fonte: Club-k.net/Mayomona



https://fbcdn-sphotos-a.akamaihd.net/hphotos-ak-snc6/205645_142440075826520_100001815856030_259772_4128423_n.jpgTive o prazer de assistir ao vivo um dos seus shows em 2007 em Groningen, Netherlands.  Mas desde alguns meses para cá, a Costa do Marfim tem apreêndido a minha atenção pelos eventos que marcaram aquele país desde as últimas eleições em finais de 2010. Procuro seguír passo a passo o desenrolar dos acontecimentos não apenas para manter-me informada, mas porque se trata de um país africano, e como tal, um país irmão, que vive actualmente um dos momentos mais criticos da sua historia.



Laureant Gbabo foi finalmente capturado. Para alguns analistas, adivinha-se o fim da crise ivoirense. Para outros, a captura de Gbabo e o seu eventual julgamento e aprisionamento poderá acirrar novos ódios e novos conflictos...étnicos e/ou religiosos. Tenho estado curiosa. "Como foi possivel a Costa do Marfim ter mergulhado na crise politica e militar em que se encontra hoje" ? - indago-me algumas vezes. O google ajudou-me com algumas respostas, mas na manhã desta terça-feira tive uma ideia genial: "porque não saber directamente de uma das minhas amigas marfinenses"? A escolha recaíu para Salimata Koné, uma amiga Ivoirense que resíde nos países Baixos a cerca de três anos. Decidi entrevista-la. :-D



Salimata Koné, 25 anos e licenciada em Contabilidade e Gestão, vem de uma famlia abastada de Abidjan. Os seus pais eram donos de um negocio lucrativo no centro daquela cidade comercialmente activa, chegando mesmo a possuír varios bens. Tinham a reputação de ser ricos. Mas com o deteriorar da situação politica e militar no seu país, muito dos seus negocios faliram, parte significativa dos seus bens foram pilhados; a sua situação financeira entrou em crise, e já não havia segurança. A familia Koné decidiu que era chegada a altura dos filhos irem temporariamente para fora do país. É nestas circunstancias que Salimata Koné, junto com a mãe e alguns irmãos vieram para a Holanda. O mais surpreendente é que Salimata Koné é do "Sul" e é Cristã, mas apoia Alassagne Outarra, que é do norte e é muçulmano. Porquê será?





Numa conversa pelo Skype, decidi colocar a Salimata varias questões relacionadas com aquele país e os motivos que o levaram a presente crise. Nesta conversa, fica também claro os motivos que levam Salimata a apoiar Alassagne Outarra. A conversa, em formato de entrevista,  é um bocadinho longa (risos) e poderá ser enfadonha para alguns, mas tenho a certeza que será culturalmente edificante para todos os que a lerem até ao fim. Acredito que não se arrependerão. 



Minha Conversa com Salimata Koné sobre a situaçao na Costa do Marfim



Nessa: Salimata obrigada por aceitares o meu pedido em satisfazeres todas as minhas curiosidades relacionadas á Crise na Costa do Marfim que é o teu país. Tenho familiares que viveram por lá na decada de 80 e dão muito bom testemunho da Costa do Marfim daqueles tempos,dizem que a Costa do Marfim ja foi um dos melhores países da Africa. Será? Diz-me, como era antes a Costa do Marfim? Era fixe viver lá?



Salimata:
Ok Nessa, não precisa agradecer somos amigas e estou aqui para isso. A Costa do Marfim já foi de facto um dos melhores países da África, isto até mais ou menos 1996, três anos após a morte do Pai da nação Félix Houphouët Boigny - não sei se já ouviste falar dele? Na altura a economia era assente na agricultura com a célebre frase do Presidente Boigny  “O sucesso do nosso País repousa sobre a agricultura”. Tinha como fonte principal de receitas o Cacau, pois é o maior produtor de cacau a nível mundial. A exploração florestal era outro recurso. Apesar de ter petróleo, ouro, diamantes, o Presidente priorizava a agricultura. Cidadãos dos Países vizinhos consideravam Abidjan "a pequena Paris", dado o seu desenvolvimento. Era um País devidamente organizado com infra-estruturas, serviços burocráticos expéditos, água potável, energia eléctrica e telefone sem fio a disposição da população, rede rodoviária em bom estado e ligando todo o País e além fronteiras. Quanto ao emprego também não tinhamos problemas mas a prioridade era mesmo para os nacionais e como o Presidente Boigny era pan africanista, para outros africanos também não havia dificuldades para nada. Havia e ainda há rigor na educação, a capital tinha até o ano que deixei a Costa do Marfim três grandes Hospitais denomidados CHU (Centre Hospitalaire Universitaire (Centro Hospital Universitário), todos os estudantes que fazem medicina, a partir do primeiro ano começam a assistir os trabalhos práticos de acordo o curso que estiver a seguir, e ali faziam o estagio. Bancos funcionais, rede telefónica sem fio impecável, correios funcionais. Alassane Dramane Outtarra  foi o Primeiro Ministro.  A Costa do Marfim tinha, até aquela altura a segunda maior basílica do Mundo, localizada em Yamoussoukrou, terra natal do Presidente Félix Houpouët Boigny.



Nessa:
Fala-me do Presidente Houphet Boigny, já li alguma coisa sobre ele; que legado ele deixou lá? Como ele é falado? Era ditador sanguinario? Se pudesses lhe comparar com um outro PR africano quem seria e porque?



Salimata:
Te lembras da nossa última conversa sobre pan africanismo? Pois muito bem o presidente Houphouëte Boigny foi um dos últimos Pais do Pan-Africanismo. Foi um homem carismático em toda África. Era um homem de Paz, grande Conselheiro e Intelectual. Como não há ninguém que é perfeito, alguns excessos cometia contra aqueles que as vezes de forma abusiva o criticavam. Mas eram situações internas tão irrelevantes e que não manchavam sua imagem e reputação nacional e internacional. Fazia parte dos grandes pensadores, como Leopold Senghor, Rei Hassan II de Marrocos, Kwamen Krumah. Lutaram para a real independência da África. Transformou sua terra natal Yamoussoukrou numa das mais modernas cidades da África negra. Era, antes da guerra um destino incontornável do turismo na Costa do Marfim.  A Basílica aí construída, cujo arquiteto é um italiano, já não me lembra o nome, é a segunda maior do Mundo. Ainda em Yamoussoukrou ergueu a Sede da Fundação Félix Houphouët Boigny para a PAZ. Herdeiro de uma fortuna de seus País, Boigny não se importava tirar da sua riqueza dinheiro para satisfazer reclamações dos funcionários públicos. Era amante do Desportos. Nos anos 90, (ja nao me lembro bem em que ano) quando a Costa do Marfim se consagra Campeã do CAN realizado em Senegal, Presidente Boigny ofereceu a cada membro que integrou a Selecção uma casa e mais $ 50.000 (cinquenta mil dólares americanos).



Em reconhecimento do seu contributo e engajamento pela paz e estabilidade mundiais, a UNESCO criou em 1990 o Prémio pela Paz Félix Houphouët Boigny, para honrar pessoas vivas, instituições ou organismos públicos ou privadas em actividade, que tenham contribuído de maneira significativa para a promoção, busca, salvaguarda ou manutenção da paz em conformidade com a Carta das Nações Unidas e a Constituição da UNESCO. Nelson Mandela e Frederik de Klerk foram os primeiros premiados em 1991 por terem posto fim ao apartheid.





O Maior Legado que o Presidente Boigny deixou é sem dúvidas A PAZ, tranquilidade, harmonia social, desenvolvimento, formação de quadros e Infra-estrutura – tudo isso orgulhava o Povo da Costa do Marfim; e solidariedade.



Nessa:
Interessante, mas então qual é a origem dos problemas lá, do teu ponto de vista como "insider"?



Salimata:
Vou te explicar para entenderes bem. Os problemas existentes, como na maioria dos Países africanos, têm como origem os conflitos étnicos e religiosos. Existem na Costa do Marfim três grandes grupos étnicos, os mandengues (muçulmanos), senoufou e aka (cristãos). O Presidente Boigny pertence a tribo Baoulé da etnia Aka. Ele foi o último Rei desta etnia.



Lauarent Gbagbo é da tribo Beté da etnia Senoufou. Desde que a Costa do Marfim se tornou independente em 1960 Félix Houphouët Boigny, liderou o País até a sua morte. E por causa de rivalidades em que os betes se sentiam submissos aos baoulés foram criando e manifestando descontentamento. Apesar de ser pacífico, muitas das vezes Presidente Boigny tomava medidas enérgicas contra os desobedientes. E os ânimos foram subindo e as duas tribos Beté e Baoulé declararam rivalidades. Em 1990 a situação política muito tensa obrigou o Presidente Boigny abrir o multipartidarismo. Laurent Gbagbo é preso por incitar a violência. Depois de liberto forma o seu Partido FPI Front Populaire Ivorien (Frente popular ivoiriense). O pais foi caminhado normalmente e Gbagbo fazia sua agitação política tendo como braço de apoio o SINAFECI (Sindicato dos Estudantes da Costa do Marfim) que tinha como Presidente o Soro).



O País realizava eleições cujos mandatos tanto presidencial como legislativos, eram de 5 anos. Prevendo o seu desaparecimento físico, o Presidente Boigny nomeia Henri Konan Bedié à Presidente da Assembleia e altera o Artº 7 da Constituição que na ausência, ou incapacidade do Presidente indicava como sucessor o Presidente do Tribunal Supremo e passou para o Presidente da Assembleia Nacional. A Costa do Marfim é composta maioritariamente por cristãos. Mas o Islamismo tem ganhado terreno. Os cristãs não viam com bons olhos quando o calendário nacional de efemérides começou também a incluir feriados pertencente aos muçulmanos. Sendo Alassane muçulmano atribuíam este crescimento pelo facto de Alassane Ouattara ser primeiro ministro o que originou um mau estar entre os cristãos e Alassane.

Antes de ocupar o cargo de Presidente da Assembleia Nacional, Henri Konan Bedié exerceu o cargo de ministro dos Negócios Estrangeiros e ali fez muitas vacaturas. O facto mais notório e que mereceu condenação dos políticos e da sociedade em geral, foi o facto de ele ter comemorado ao atingir um milhão de dólares líquido. Desapontado com o acontecido, Bedié é enviado como Embaixador da Costa do Marfim das Nações Unidas. A partir daquela data sua imagem ficou manchada com o escândalo.



Regressado ao País, assume o Cargo de Presidente da Assembleia Nacional. O Presidente Boigny falece, se não estou em erro,  aos 7 de Dezembro de 1993 – na sua terra Natal Yamoussoukrou, um ano antes do fim do mandato presidencial. No dia da sua morte começa a crise política na Costa do Marfim.



Henri Konan Bedié em Yamoussoukro Capital Política preparando as exéquias e Alassane Dramane Ouattara em Abdijan Capital económica mantendo o Governo. As 13Hoo, Alassane Outtarra aparece na RTI Rádio Televisão Ivoriense, anunciando a morte do Presidente Boigny, violando os rituais e remete o caso da sucessão do Presidente Boigny ao Tribunal Supremo uma vez que o artº 7 da Constituição indicava o Presidente da Assembleia Nacional.



Bedié apercebendo-se do golpe, desloca-se para a Abidjan no mesmo dia e as 19h00 aparece na RTI comunicando o falecimento do Presidente Boigny e diz: De acordo com o artº 7 da Constituição da Repúblia a partir de agora sou Presidente da República e apelo à toda população a cooperar. Alassane não estando disposto a se submeter as ordens de Bedié como primeiro ministro demite seu Governo e com mais 10 ministros abandonam o PDCI e forma seu Partido, o RDR. E assim se instala a crise na Costa do Marfim.



Em 1995, terminado o mandato do Presidente Boigny, Bedié organiza eleições marcadas, segundo a oposição de irregularidades. Laurant Gbagbo principal líder da oposição apela à um “boicote activo” de todos os partidos de formas a inviabilizar a realização das eleições. Entretanto, Bedié convence o PIT (Partido Invorient de Trabalhadores, liderado por Francis Wodié a concorrer. De referir que PIT e o seu Presidente sem expressão nenhuma aceitaram concorrer e Bedié e seu Partido PDCI venceram as eleições com mais de 93% (que democracia). Alassane Ouattara é impedido de participar destas eleições acusado de dupla nacionalidade ao que eles chamavam "l´ivoirité". Alassane Quattara gozava de imensa popularidade e se concorresse ganhava com mais de 60%.



Gbagbo tinha garantias do Chefe do Estado Maior das FACI (Forças Armadas da Costa do Marfim) Robert Guey que também não se revia na política de Bedié. De referir que Robert Guey ocupara essa pasta antes da morte do Presidente Boigny.



Bedié foi retardando a convocação das eleições, e em Dezembro de 2000 dá-se o golpe de estado sem banho de sangue liderado por Robert Guey.



Assumindo a transição Robert Guey anuncia a data para eleições, e ele dizia que não concorreria, pois passariam o poder aos civis. Notícia que agradou o aliado Laurent Gbagbo. Entretanto, Gbagbo é surpreendimento pela candidatura de Robert Guey a presidência da República. Aí surge contradição e os aliados se separam. Realizadas as eleições, numa situação já de tenção os dois candidatos Robert Guey e Laurent Gbagbo proclamam-se vencedores. A situação antagoniza-se e Gbagbo manda aniquilar o Robert Guey e assume a presidencia da Republica. O País entra definitivamente na guerra civil e Gbagbo líder desde então até omtem. Falei muito né? Entendeste? (risos).



Nessa:
(risos). Começo a entender agora a razão da Crise. Mas me responda ainda, o Outtarra é mesmo estrangeiro como acusa o grupo do Laureant Gbabo?



Salimata: Olha Nessa é assim. Ouattara é filho de Pai Ivoirien e Mãe Burkinafaso. Seus adversários políticos, nomeadamente Bedíe e Laurent Gbagbo é que levantaram a bandeira de dupla nacionalidade apenas por questões políticas para impedir sua candidatura, pois goza até agora de mais popularidade em relação aos dois. Alassane Dramane Ouattara (ADO) como é carinhosamente chamado não tem concorrente que lhe ameaça. Numa eleição livre e justa ele sairá vencedor.



Nessa:
Fala-me do Gbabo. Como ele é visto lá? Qual a tua opinião dele? Pelo que conheces dele, achas que ele podería ter ganho as eleições?



Salimata:
O que vou te dar é so mesmo a minha opinião. O Laurent Gbagbo, professor universitário, não tem qualidades de ser Presidente. Pra mim não. Por questões tribais, ganhou simpatia da sua tribo Beté, pois foi um dos primeiros a desafiar naquela altura o Presidente Boigny para que esse deixasse o poder. Como disse no ponto anterior Laurent Gbagbo a concorrer com ADO não tinha hipóteses de ganhar. Alias, em 1996 as duas formações políticas RDR de ADO e FPI de Laurent Gbagbo tinham formado um bloco para enfrentarem o PDCI-RDA de Bedié. Aliança era estratégica para Gbagbo devido a popularidade de ADO. O Gbabo é visto pela maioria como um homem da confusão sem programas estruturados de desenvolvimento.



Nessa:
Agora tenho outra curiosidade, até porque o teu namorado é angolano (risos) e conheces alguns angolanos, já conviveste connosco em festas, fala-me um pouco da cultura da Costa do Marfim?



Salimata:
(risos)  A Costa do Marfim preserva muito e até promove a cultura Banto, coisa muito comum naquela região. A FESPACO (um festival de cinema Africano organizado anualmente na Costa do Marfim), é uma espécie da GALA dos Óscar de Paris. Ali são exibidos todos os filmes de produção Africana. Os vestuários são tipicamente africanos tanto para as mulheres bem como para os homens. Gostamos de nos exprimir sem complexos  nas nossas  línguas em qualquer local onde estivermos. Eu e os meus pais e irmãos conversamos em baoulé. Comemos muito "foufou" [funge] (risos).



Nessa: Como é que na Costa do marfim encaram ou encaravam outros imigrantes africanos?!



Salimata: Para te ser sincera antes da crise a  Costa do Marfim era o lugar certo para todos os irmãos imigrantes africanos. Acolheu cidadãos de todos os Países da CEDAO (Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental), libaneses etcs. Como um dos Pai do Pan-Africanistas, o Presidente Houphouët Boigny considerava-os todos filhos de casa. Muitos exerciam funções nos vários ministérios a exemplo do actual Presidente da Guiné Conacry Alpha Conté. Até 1996, a Costa do Marfim era um dos Países que não tinha conhecido instabilidade política após a Independencia. As guerras na Libéria, Serra Leoa, instabilidade no Burkina e depois o assassinato do Presidente Tomás Sankara, provocaram um grande êxodo imigrando á Costa do Marfim. Esses exerciam normalmente suas actividades dentro das leis do País. Tinham os serviços consulares bem organizados e todos os estrangeiros possuíam o que chamavam "Carte de Sejour" , cartão de estadia. Não necessitavam de falsificar a nacionalidade para serem bem tratados.



Nessa:
Já deste a tua opinião em relação a Gbabo e Outarra. Qual é mais ou menos a opinião da maioria dos marfinenses lá no teu país e aqui na diaspora em relação aos dois?



Salimata:
As opiniões divergem muito porque muitos baseiam as opiniões na base da sua étnia, religiao ou região em que vive, mas na sua maioria eu posso dizer sem medo de errar que  Alassane tem enormes vantagens sobre Gbagbo.



Alassane Dramane Outtarra tem boas lembranças e referências do povo da Costa do Marfim, pois deixou de exercer funções governativas na era de gloria da Costa do Marfim, com o Presidente Boigny ainda vivo. Foi o Primeiro Ministro que revolucionou a economia do País e foi um dos países que mais cresceu economicamente na África Negra nos princípios da década 90. Devido ao clima de paz que reinava no País e as políticas de boa gestão implementadas por Alassane Ouattara, a Costa do Marfim era o destino certo de investidores internacionais. Foi uma altura também marcada com o fim dos bairros de lata e alojamento condigno dos cidadãos para as novas instalações construídas pelo Governo.



Em contraste, o Laurent Gbagbo já naquela altura não era bem visto. Foi o homem que sempre procurou criar instabilidade. Depois da morte do Presidente Boigny Laurent Gbagbo incrementou suas acções de instabilidade. Utilizava os estudantes para fazerem manifestações, queimavam os autocarros de transportes colectivos urbanos (que levavam os funcionários aos seus locais de serviço e os alunos/estudantes) fechavam as estradas queimando pneus, carros de inocentes que se encontravam no trajecto dos manifestantes também eram queimados.



Em segundo lugar, Gbagbo atingiu o poder por via sangrenta (Golpe de Estado) em 2000 e a partir daí o País nunca mais encontrou estabilidade e entrou numa guerra civil onde o exército Angolano, em 2003 estava militarmente envolvido .



Por questões tribais, naturalmente que Gbagbo tem apoio dos seus conterrâneos que pensam que a bem ou a mal, tinha chegado o tempo dos Betés dirigirem o País, pelo facto de ter sido governo pelo Presidente Boigny desde a Independência em 1960. Portanto a maioria dos invoirienses tem muito boas referências de Alassane Dramane Outarra (ADO) do que Laurent Gbagbo (LG).



Nessa:
Então tu apoias o Alassagne Outarra apenas pelo seu bom desempenho como primeiro Ministro no passado, apesar da controversia em relação á sua nacionalidade?



Salimata:
Nessa, Alassan Ouattara é neste momento o homem ideial com um How Know nacional e internacionalmente reconhecido, capaz de levar a Costa do Marfim ao desenvolvimento, isso eu te garanto. A maioria dos intelectuais da Costa do marfim na diaspora e na Costa do Marfim apoia o ADO, o Gbabo é so populista e é apoiado na sua maioria por pessoas de niveis baixos de escolaridade.



Nessa: Como te sentes agora com a captura de Gbabo? Achas que agora a Costa do Marfim terá paz?



Salimata: O problema é que neste momento os animos tribais na Costa do Marfim estao muito exaltados e a maneira como será tratado o LG poderá ser considerado um ataque a tribo do Laureant Gbabo e o conflicto continuar. Por mim o ADO deveria perdoar o LG e lhe convidar a servir no seu governo em gesto de reconciliação nacional porque so assim teriamos mesmo paz de verdade e ultrapassavamos as magoas do passado.



Em relaçao a captura do Gbabo, me doeu muito ver ele e a sua esposa naquele estado na TV5 e RTL mas eu rezo muito para que o ADO faça o que sugeri anteriormente, lhe conceda amnistia em gesto de paz e solidariedade humana.



Nessa
: Salimata, minha amiga, muito obrigada por esta conversa, agradeço o tempo dispensado (risos). Vou elaborar com isso uma nota e publicar no meu facebook...(risos) ../...



Salimata: Espera Nessa, agora eu também tenho uma questão para ti.



Nessa: Ok, manda.



Salimata: O que achaste da postura do teu país no conflicto do meu país? O vosso governo apoiou o Gbabo...



Nessa: Epá, apanhaste-me desprevenida (risos)!  Na minha opinião, a posição de Angola devia se enquadrar dentro da opinião dos Países que compõem a SADEC e a União Africana. Na minha maneira leiga de analisar as coisas, seria diplomaticamente o mais correcto. 



Quando o Governo de Angola apela à uma solução pacífica atravéz da formação de um governo de Unidade Nacional está a reconhecer indirectamente que o seu aliado Laurent Gbagbo perdeu as eleições. E esta posição viola os princípios democráticos, e é um mau precedente que anularia a importância da realização de eleições.  Só se forma Governo de transição ou de unidade nacional quando se saí de uma crise, guerra civil, golpe de estado. Este Governo de unidade nacional teria então a missão de transitar o País de uma situação de guerra ou instabilidade para a normalização das instituições do estado que culmina com a realização das eleições. E não foi esse o caso.



FIM!