Luanda - Além de José Eduardo dos Santos e do MPLA, o partido no poder em Angola, "existem muitos angolanos com capacidade para dirigir o país", salientou esta quarta-feira em declarações à Lusa o escritor angolano José Eduardo Agualusa.


Fonte: Diário Digital / Lusa


Confessadamente desiludido com o partido que governa o país desde a independência, em 1975, o escritor, atualmente no Brasil e contactado telefonicamente pela Lusa a partir de Lisboa, não acredita que "saiam mudanças" do IV congresso extraordinário do MPLA, que decorre sexta-feira e sábado em Luanda.

 

"Não creio que vá mudar muita coisa", diz Agualusa, que deu como exemplo o discurso que o Presidente angolano e do partido no poder fez no passado dia 15, na reunião preparatória do congresso.

 

"Foi um mau discurso, na medida em que não apontou soluções, atribuiu as culpas ao colonialismo, ainda por cima a um passado já tão distante. Não ajuda nada, nem tranquiliza ninguém em relação à capacidade do partido no poder de resolver os problemas do país", defende.


O escritor critica nas palavras do Presidente angolano a falta de uma mensagem de esperança.

 

"O Presidente não deu grandes motivos de esperança. Abordou a questão da riqueza pessoal, mas não esclareceu nada e depois voltou a referir-se a forças externas que estariam a desestabilizar o país. Atribuiu os problemas de Angola ao colonialismo. Acho que foi um mau discurso", sintetiza.


Quanto a alternativas, o escritor acredita que elas existem, quer em Angola, quer fora do país, mas lamenta que tenham "pouco espaço de manobra para se expressarem e se afirmarem".

Dois dos organizadores da manifestação realizada no passado dia 02 em Luanda, em que se exigiu liberdade de expressão e o fim dos 32 anos de poder de José Eduardo dos Santos, coincidiram no mesmo diagnóstico de José Eduardo Agualusa.


Contactados também telefonicamente pela Lusa a partir de Lisboa, quer Carbono Casimiro, quer Massilon Chindombe, dois dos mais conhecidos "rappers" em Angola, confessam não esperar mudanças na reunião magna do MPLA.


"Sinceramente, achar que vai sair alguma coisa, eu não posso, mas eu gostaria e seria lógico que o MPLA criasse mudanças profundas ao nível da estrutura, como partido, e das personalidades que governam o país. Mas não acredito muito. Eles estão muito agarrados à liderança e ao poder para agora fazerem mudanças tão profundas", considera Carbono Casimiro.


"Há muita desgraça. Não acredito que a continuidade deles nos garanta algum futuro próspero", acrescenta este "rapper", para quem um dos principais problemas de Angola é a corrupção: "Num país com o nível de corrupção em Angola, os líderes não serem ricos é impossível".

 

Massilon Chindombe, porta-voz do grupo que se concentrou a 02 de abril na Praça da Independência, em Luanda, também espera mudanças, mas sobretudo lamenta a falta de diversidade no seio do partido no poder.

 

A razão é simples: "A mudança ou a alternância sempre trazem alguma coisa de diferente. Porque também acredito que estar no poder durante 32 anos já é muito tempo. Acho que mudando, com certeza alguma coisa de melhor surge", conclui.

 

MPLA: Campanha «montada numa falsidade» - Marcolino Moco

 

Marcolino Moco, antigo primeiro-ministro e militante do MPLA, considera o IV congresso extraordinário do seu partido, que começa sexta-feira em Luanda, o lançamento de uma campanha eleitoral «montada sobre uma grande falsidade».

 

Em finais de 2009, foi realizado o VI congresso ordinário do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), mas Marcolino Moco recusou o convite para participar nesse conclave, que esperava trazer «novidades» ao país, tendo em conta os discursos de combate à corrupção pronunciados naquele ano pelo presidente do partido e da República de Angola, José Eduardo dos Santos.

 

Desta vez, Marcolino Moco não foi convidado, mas mostra-se cético quanto às novidades que poderá suscitar este congresso extraordinário para avaliar o grau de aplicação do programa de governo proposto nas eleições de 2008 e traçar as estratégias de atuação para os próximos anos.