Luanda - Sem medo, Augusto Viana Mateus, testemunha chave do “caso Quim Ribeiro”fala em entrevista exclusiva, tudo quanto sabe e sobre a sua vida clandestina desde que decidiu contar a verdade.

 

*Tandala Francisco e Mariano Brás
Fonte: A Capital

Quim Ribeiro foi sempre um monstro

Como foi que tomou conhecimento dos factos envoltos no agora publicamente chamado “Caso Quim Ribeiro”?


Como Comandante de Divisão tive conhecimento em primeira instância, comuniquei a quem de direito, tramitei o processo o valor para quem de direito.


Quem são esses “quem de direito”?

Quem de direito é a Investigação Criminal e com o conhecimento ao Comandante Provincial. Neste aspecto, quero vos aclarar o seguinte: os milhões de dólares existiram, mas o milhão de kwanzas é falso, é pura mentira. O vosso jornal vem fazendo um trabalho excelente sobre o que se passou.


Passemos, então, aos factos…

O acto ocorreu em Agosto de 2009, eu como Comandante de Divisão tive conhecimento da falsificação, da rectificação do processo em Março de 2010 depois de chamar o meu Chefe de Investigação Criminal e perguntar -lhe sobre como é que andava o processo. Em resposta, ele perguntou-me se o Comandante (eu) não sabia de nada? Eu questionei: mas saber de quê, além de que tinha mandado 1.080.000,00 (Um Milhão e Oitenta Mil Dólares) para a Direcção Provincial de Investigação Criminal (DIPC) e comuniquei este facto ao Comandante Provincial e que tal está confirmado? Ele insistiu: o processo foi rectificado. E, surpreso, indaguei: mas, rectificado porquê? Ele me respondeu que, agora, o processo já não é de um milhão de dólares mas sim de um milhão de kwanzas. Calculei, então, que então que aqueles 75.000,00 (Setenta e Cinco Mil Dólares) que me tinham dado, e que, inicialmente, eram 100 mil dólares, mas que, por força de uma preocupação do comandante provincial, ele subtraiu 25 mil dólares, agora faço fé que este dinheiro é dos dos valores apreendidos no Quilómetro 9, em Viana. Esta é a base do processo.


Trata-se, então, de um processo viciado à partida. Portanto, desde a operação em si às sucessivas declarações dos valores…

Exactamente. A busca foi ilegal. Inicialmente, estavam 3.600.000,00 (Três Milhões e Seiscentos Mil Dólares) apreendidos. E nesta intervenção policial, o Comandante foi enganado da seguinte forma: disseram que não houve intervenção policial, mas apenas de investigadores. Era mentira, porquanto dela participaram agentes da Polícia fardados e viaturas caracterizadas da Polícia, viaturas patrulheiras. No local, subtraem 1.200.000,00 (Um Milhão e Duzentos Mil Dólares) que levam ao Zango e lá trabalham na base deste valor. Depois de terminada uma reunião, fui para o Zango e encontrei o chefe de Investigação e dos Serviços de Sector a trabalharem no caso. Vendo a quantidade, perguntei: mas este dinheiro é mesmo verdadeiro e a quem pertencia? Eles me responderam: esse dinheiro verdadeiro e pertence a um funcionário do Banco Nacional de Angola. Pensei: aqui há gato. E comuniquei imediatamente ao Director de Investigação Criminal, dizendo-lhe que, de facto, havia valores e que dentro de momentos diríamos o montante efectivo porque os homens estavam a trabalhar. Do Zango para o gabinete do Chefe de Investigação Criminal saem 1.200.000,00 (Um Milhão e Duzentos Mil Dólares). Do gabinete do Chefe de Investigação Criminal, de Viana, para o gabinete do Comandante de Divisão de Viana, onde os valores, depois, passaram a noite, chegou 1.080.000,00 (Um Milhão e Oitenta Mil Dólares) e já 120.000,00 (Cento e Vinte Mil Dólares) tinham desaparecido, estranhamente. Nesta altura contactei o Paulo Rodrigues, na altura Adjunto na DPIC e ao Caricoco, que era Chefe das Operações, liguei para eles, procurando saber onde estavam. Disseram que estavam em Viana. Pedi, então, que fossem ao meu gabinete. Eles chegaram e, volvidos alguns minutos, entrou o Palma e o Couceiro com os valores. Selamos a pasta. Já que o director da DPIC dizia que já era tarde e que, por isso, na sua instituição já não tinha funcionários na área das Finanças, então o dinheiro, por estar seguro, passaria o fim de semana no meu gabinete para que fosse remetido na segunda-feira. Assim o fizemos. Assisti o carro partir, depois o António João (director da DPIC) me confirma a recepção dos valores e, depois, comunico ao Comandante Provincial que os valores já estavam na DPIC e que o António já me tinha confirmado a posse. Daí o tempo foi correndo, mas mesmo aí houve duas gafes básicas que não vou aqui dizer, reservo-me ao direito de dizê-las em tribunal. Houve, por exemplo, intervenção do Director de Investigação Criminal quando quem deveria intervir era o Comandante de Divisão. Esses dois elementos básicos, que indiciam a desvio de valores, foram cometidos logo no segundo dia e quem interveio nisso foi o director de Investigação Criminal. Eu ainda chamei o Director e, em termos menos urbanos disse-lhe: quem manda aqui como Comandante de Divisão de Viana é Augusto Viana e não é o António João, o António João manda na DPIC, e eu mando aqui. Mas já que ele interveio, ele avocou o processo então, para mim, estava tudo muito bem, pensando que tinha sido por uma questão de operativa. Mas o tempo foi passando e chegamos a Março e à tal conversa com o meu chefe de Investigação.

 

Como foi que se justificou o “prémio” de 75 mil dólares que recebeu?

Pelos serviços que eu vinha prestando ao município de Viana, pelo meu empenho à frente do Comando de Divisão de Viana. Por isso, o Comandante Provincial orientou a entrega desses valores ao director António João, isso em Outubro, dois meses passados da apreensão.


A princípio eram 100 mil dólares…

Sim, mas por alguma necessidade mandou subtrair 25 mil dólares. Ele me comunica numa segunda-feira, no caso António João, e eu supunha que fossem apenas 100 mil kwanzas e não me mostrei disposto a sair de Viana para o centro da cidade, enfrentar aquele todo trânsito, só para apanhar 100 mil kwanzas. Pensei, entretanto, em apanhar o dinheiro numa quarta-feira, dia em que tinha uma reunião no Comando Provincial. Quando recebi os valores na DPIC, não abri o envelope. Agarrei o envelope e saí. Se a secretária do António João for honesta, ela confirmará. Afinal, neste dia ela viu-me a entrar no gabinete e a sair com o envelope. Era grande. Pu-lo dentro da minha pasta. Nas imediações do Cemitério da Santana, decidi começar a gastar o que julgava serem 100 mil kwanzas. Ao abrir o envelope vi que eram muitos dólares. E disse-o a António João para quem liguei em seguida. Lá ele reafirmou que o kota é que tinha mandado dar pelo meu empenho. Épa, pensei: como estou mesmo lixado, vou resolver alguns problemas da vida.

 

Em nenhum momento desconfiou da proveniência desses valores?

Bem, tendo em conta a pessoa, de nomeação presidencial, tínhamos de ter uma confiança nela. Orienta um director a entregar-me um valor, como estímulo… ainda questionei porquê de tanto dinheiro, mas fui informado de que era um estímulo pelo meu empenho. Como, normalmente, na Polícia há alguns estímulos eu caí naquela. Bom, de facto, o valor fez-me um pouco de espécie… mas, pronto, eu recebi o valor. Recebi e o utilizei na compra de dois terrenos. E, a outra parte, como o comandante já me tinha orientado, usei 10 mil dólares e arrendei uma casa em Viana, supondo que haveria retorno desse dinheiro. Março surgem a Procuradoria e a Inspecção Geral do Ministério face a uma denúncia de um colega, depois pela denúncia da Direcção Nacional de Investigação Criminal (DNIC). Fomos até à Procuradoria. Mas nós enganamos. E aqui tenho a coragem de assumir  isso publicamente  e de, ao povo angolano, pedir desculpas. Eu, diante de uma instituição idónea como Procuradoria-Geral da República (PGR) e a Inspecção Geral do Ministério do Interior, menti em defesa de um indivíduo que não tem carácter e que mereceu nomeação presidencial. Fi-lo no sentido de acobertar o chefe, que tinha baixado orientações precisas que eram um milhão de kwanzas, que o assunto estava resolvido superiormente e que, por isso, não era da minha competência questioná-lo. Quero também pedir perdão, publicamente, ao Chefe de Estado que mandou instaurar um inquérito à respeito ao qual, inicialmente, menti. Devo dizer mesmo que a morte dos dois colegas no Zango  tem a mão do Comissário Joaquim Vieira Ribeiro. Cumpriu a ordem, o António João que, por sua vez, instrumentalizou o seu adjunto, Paulo Rodrigues, e ao Caricoco. Não há dúvidas. Eu tenho muitos argumentos para confirmar e fazer fé das minhas afirmações. Ao povo angolano, digo que tenha paciência. Ao contrário do que dizem os advogados, esse processo tem pés para andar. E não só: tem ainda o condão de sancionar e de reeducar a corporação policial.

 

Quanto tempo levou desde a apreensão dos valores até aos assassinados ocorridos no Zango?

Apreensão dos valores aconteceu em Agosto de 2009. A morte deu-se em Outubro de 2010. Quer dizer que passaram-se 14 meses. Só se chegou chegou a estes 14 meses porque eu, na altura Comandante de Divisão, não cumpri a ordem do então Comandante Provincial. Já em Maio ele me tinha dado ordem expressa para linchar a vida do colega, e eu disse ao Comandante que a essa ordem não cumpriria. Ele, num tom arrogante, insistiu que segunda-feira pretendia ver o serviço feito. Entretanto, fui para o Zango, meti o pessoal a fazer guarnição e orientei no sentido de que todo o movimento estranho que resultasse em incursão à residência do malogrado teria de ser repelido. Tinha consciência de que uma vez eliminado aquele homem eu teria a vida estragada. Eu tenho família para sustentar; os meus filhos sobrevivem porque o pai vive e trabalha para eles, e não está aqui para linchar a vida de colegas. Se o colega que fez uma denúncia o destino para ele não seria a morte, afinal existiam vários mecanismos para sanciona-lo que não era a morte, em caso de se confirmar que a denúncia dele era falsa. A sentença da morte do Joãozinho surge já depois de termos sido chamados pela PGR à qual tínhamos já enganado por duas vezes assim como ao Ministério do Interior – o Ministério do Interior, graças à este novo ministro, teve muita competência teve discernimento suficiente e conseguiu esclarecer o caso; as duas comissões que foram criadas estavam mais em defesa do Comissário e seria mais um caso semelhante ao Frescura, isto é, protecção do Comissário para sancionar os miúdos, e eu já não sou miúdo porque tenho mais de 45 anos de idade e levo 29 anos de serviço os quais pretendo preservar…


De que comissões fala, em concreto?

Estou a falar da primeira comissão, constituída pela Inspecção Geral do Ministério do Interior e pelo Gabinete de Inspecção do Comando Geral que não oferecia confiança. E até posso desvendar aqui um nome: o Comissário Caliva só estava para me linchar, para me estragar a vida, protegendo o Comissário Joaquim Vieira Ribeiro. Já a segunda comissão, eu amigo, eram todas Comissários. Veja que fui notificado para estar no gabinete do vice-ministro do Interior por volta das 08 horas. Eu vivo em Viana, para chegar às 08 horas tenho que sair de casa às 05 horas. No local meteram-me num gabinete com o ar condicionado ligado ao máximo, não me ofereceram sequer uma água. Fui ouvido apenas às 12 horas e o vice-ministro não me recebeu. Aí, meu amigo, não podia falar a verdade. Queria passar a informação correcta e verdadeira num local que me oferecesse garantias de segurança. E na PGR, pela segunda vez, faltei com a verdade por quê? Porque os Procuradores Gerais adjuntos não estavam presentes. Estavam lá antigos funcionários da Polícia, estes também não me ofereciam confiança e, perante eles, faltei com a verdade. E, mais uma vez, penitencio-me ao povo angolano por este facto, pelo trabalho que dei aos competentes procuradores, profissionais da PGR, quer da esfera militar, assim como o departamento de acção penal. Foram competentes, aliás, altamente competentes, imparciais e tomaram uma posição correcta. Que não venham cá crucificar os funcionários das duas áreas da PGR por me estarem a proteger. Ao fazerem isso, eles estão a fazer fé dos factos. E eu tenho argumentos para silenciar os advogados, isto é, quer os advogados do proprietário dos valores, quer o advogado Sérgio Raimundo. O advogado Sérgio Raimundo desaconselhou-me, depois de lhe contar a verdade, desaconselhou-me em não contar a verdade porque, segundo ele, eu devia depender do Quim Ribeiro…

 


O advogado disse-lhe mesmo para não contar a verdade dos factos?

Contei a verdade ao advogado Sérgio Raimundo. E eu estou disposto a falar com este advogado em qualquer área.

 

Mas, não entendemos… Ante a sua história, Sérgio Raimundo pediu-lhe para mentir?

Sim, o advogado Sérgio Raimundo pediu-me para mentir; insistiu que eu continuasse a mentir e que não deveria revelar os factos que ele tomou conhecimento a partir da minha casa depois do natal.

 

Em que circunstância e data contou a verdade ao advogado Sérgio Raimundo?

Bem, quando venho de férias de Cuba, os meus colegas malfeitores…

 

Isso já depois da morte do Joãozinho?

Sim, depois da morte do colega Joãozinho, os meus colegas malfeitores, incluindo o Comandante Provincial que, neste aspecto, quando fizemos a acareação eu disse-lhe que ele tinha as mãos sujas de sangue, que era um assassino, era um gatuno e que não merecia a nomeação presidencial que sobre ele recaiu. Quem o propôs, e eu aqui assumo este facto, para Comandante Provincial de Luanda enganou ao Presidente da República. Digo-vos pois que o consulado de Joaquim Vieira Ribeiro foi o pior que já tivemos no Comando Provincial de Luanda. Por isso, meus amigos, vamos falar apenas dos homicídios e dos dinheiros porque existem outras coisas que não vale a pena falarmos. Não são para aqui chamadas.

 


Em que período, de facto, ocorreu a acareação de que fala?

A acareação ocorreu a 05 de Abril, porque fui eu que a pedi.

 

E por quê a pediu?

Pedi porque da denúncia que fiz, não me sentia bem eles não terem conhecimento, fundamentalmente o comissário Joaquim Ribeiro. E o advogado Sérgio Raimundo desaconselhou-me e me tratou de forma pouco urbana, violando o artigo 73 dos estatutos da Ordem dos Advogados em plena acareação.

 

Concretamente, o que foi que o senhor falou na acareação?

Falei da apreensão dos valores, do estímulo que me mandou dar, da ordem que o Comissário me deu que eu não cumpri, que o enganei dizendo-lhe que o malogrado tinha ido ao Dondo; da segunda ordem, a qual desaconselhei o António João a não cumprir, mas o António João cumpriu e de que forma: instrumentalizando o seu adjunto Paulo Rodrigues e o Caricoco a mobilizarem um efectivo que supostamente era de baixa visibilidade – de baixa visibilidade, na verdade, não tinham nada porque não tinham nível absolutamente nenhum e, neste aspecto, o Comissário Joaquim Ribeiro veio já com intenções maléficas para este órgão, estava constituído por indivíduos altamente competentes. Quando chegou, começou por escorraçar o chefe da brigada de baixa visibilidade e colocou lá indivíduos que só sabiam apertar o gatilho e eu estou em condições de, em tribunal, falar de algumas pessoas que pertenciam a esta brigada de baixa visibilidade que não tinham competência para tal –. Toda a vez que eu fosse ouvido pela PGR, era interpelado pelo Paulo Rodrigues e o Caricoco para saberem o que foi que eu tinha dito acerca do Comandante Quim Ribeiro. Senti que estava a correr riscos dada a permanente pressão.


Ainda se sente assim?

Agora o risco ainda é muito maior. Afinal, muitos pensam que tirei um filho querido da Polícia, que tirei um competente. Hoje alguns Comissários da Polícia (e abro aqui um parênteses, já me vêem mal porque tirei de circulação um individuo que vem fazendo parte das fileiras deles faz tempo, e é amigo deles). Os que estavam na Comissão de Inspecção anterior, que o Ministro mandou instaurar depois da morte do indivíduo, eram comissários e protegiam o seu semelhante. Eu passei trabalho para ter as informações fidedignas, desde o indivíduo que usaram para mostrar a casa, alegando que ele teria visita. Veja que uma hora depois de se indicar a casa, ele foi morto. Isso assim é visita? Foi assassinado com muitas balas. Se Angola for um país, esse processo tem pernas para andar e haverá punições severas. A minha liberdade não está em causa, o que está em causa é a minha integridade física. Sou uma testemunha chave deste processo e desafio o doutor Sérgio Raimundo, em qualquer órgão de comunicação social e a sua equipa e outras que estão nesta área… elas não estão a colaborar para a realização da Justiça. Estão, sim, a dificultar a realização da Justiça.


Os advogados estão a defender, então, uma mentira?

Uma mentira grave e grosseira.


Acredita, então, na existência de algum conluio entre os advogados de Quim Ribeiro e os do funcionário do Banco Nacional de Angola (BNA)?


Não é só acreditar, mas é uma certeza absoluta. A sua afirmação é verdadeira. É completamente verdadeira…

 

De que factos dispõe para sustentar isso?

O António João me confirmou que os advogados do indivíduo do BNA estão de acordo com a falsificação para um milhão de Kwanzas. Este indivíduo do BNA tem propriedades no Zango, tem terrenos no quilómetro 30 e é de onde provirá os honorários dos advogados, tanto é sim que o António João retirou dois elementos do processo, isso mesmo no processo fictício, mandou entregar duas viaturas aos advogados e os advogados contactaram-me mesmo. É uma pena que não posso divulgar aqui, mas em tribunal vou divulgar porque me deixaram até com cartões de visitas. Tenho toda a sustentação. Tenho a lamentar, no entanto, a detenção do agente Jubal, que o senhor Palma usou mal para falsificar a documentação. Lamentou porque sei que o Palma ligou para ele, instruindo para que, quando fosse chamado para a PGR, que revelasse que o dinheiro tinha ficado com o Comandante de Divisão. Preocupado, ele veio ter comigo e contou-me, afinal sabia que era mentira grosseira, porque ele estava por dentro do assunto, acompanhou o processo e inclusive acompanhou a retirada do dinheiro do meu gabinete para a DPIC. De todo o mundo ouvido se aparecer alguém que disser que o Comandante Viana está metido nisso, este fulano é aldrabão. Eu desafio toda a comunidade policial de Viana a apontar o dedo ao Comandante Viana como alguém que ficou com este dinheiro ou esteve no terreno ou que aproveitou-se dos dólares.



Como explica o facto de grande parte da acção ter sido orquestrada por elementos maioritariamente afectos ao seu comando? Crê na existência de uma rede infiltrada?


Não é bem assim. Nessa altura, se bem se lembram, em 2009, de Julho a Agosto, Viana foi assolada pelo fenómeno de incêndios de viaturas. Naquela altura, era a nossa maior preocupação e, por isso, estava um grosso de efectivo da DPIC concentrado em Viana, era combatermos estes incêndios. A nossa maior atenção eram os incêndios, e eles enganaram-nos bem. Isto é, o Palma e o Couceiro, enganaram bem a mim, ao Paulo Rodrigues e ao Caricoco que estávamos lá, a frente, no combate aos incêndios. Eles pediram que deixássemos algum efectivo dos Serviços de Sector e da Investigação Criminal para acudir à uma alegada situação caótica no território da Esquadra 48. Na verdade, já tinham a informação de que lá havia um indivíduo que movimentava grandes somas de dinheiro. Arquitectaram bem o plano. Foi numa sexta-feira, estávamos juntos numa quinta-feira, até às 23 horas. No dia seguinte, às 07 horas e 30 minutos, estava a ser comunicado sobre a apreensão de valores. Logo comecei a ver a máfia do Comandante Provincial. Quando lhe comunico que tinha recebido a informação da apreensão de grandes somas em dinheiro, ele não me libera para que me fosse juntar ao pessoal para acompanhar e tomar conta da ocorrência. Não me disse nada, mesmo sabendo que o meu adjunto estava de serviço no Comando Provincial. Em vez de me liberar para que eu acompanhasse a operação, mandou-me mesmo assim para ir o Comando Provincial para participar de uma reunião sem importância, já que o meu adjunto me poderia representar. Comecei logo a ver aí que o dinheiro seria assumido pela DPIC. Eu tinha de sair da jogada porque ele sabia o meu carácter.


Quando e porquê decidiu contar a verdade à PGR e à Procuradoria Militar?

Bem, eu não podia ser refém da minha consciência, afinal tenho um nível académico aceitável. Portanto, não posso viver refém de actos de barbaridade, pelo contrário, estudamos para preservar a vida humana. Até se tivesse que escolher poderia acobertar o comandante no roubo de valores, mas nunca num homicídio face ao qual já tinha refutado e incumprido a ordem inicialmente dada. Só não denunciei antes porque não tinha nada que sustentasse a minha informação, afinal tinha sido uma orientação verbal e ele era Comissário… Entretanto, a quem é que eu poderia denunciar? Meus amigos: existem cores, tribos que se protegem, na altura estava desprotegido, não sou de Luanda e vi, pelo pouco interesse que a antiga chefia do Ministério do Interior vinha dando ao caso, mesmo perante várias denúncias nos jornais privados, em nenhum momento mandaram levantar um inquérito. E quando mandaram, entregaram-no a alguém que não tinha interesse, isto é, à Inspecção Geral. Não tinha qualquer interesse. A pessoa de patente mais alta na Comissão, no caso o senhor Caliva, nunca foi comigo. Por que razão? Não sei. Só ele um dia irá de dizer. Ele tinha claras intenções de me linchar e aí eu não podia abrir o jogo porque, abrindo o jogo ao Caliva, seria a primeira vítima e, portanto, guardei-me inicialmente.

 

As informações que agora constam do processo são decididamente verdadeiras?

Todos os que instruíram este processo são competentes e têm elementos de prova suficientes. O Dr. Sérgio Raimundo de investigação não sabe nada, apesar de ser um grande académico. Foi meu professor na Universidade, mas de Investigação Criminal não sabe nada porque até pediu-me para não falar a verdade. Ele, ainda, desconhece de dois aspectos básico que surgiram logo no segundo dia da operação de recuperação dos valores. Sei que ele teve apenas uma passagem efémera pela Polícia. Estou disposto a discutir com o advogado Sérgio Raimundo, nos órgãos de comunicação social por onde ele passou e foi falando. Por outro lado, deixo aqui um recado: o Comando Provincial de Luanda que não me convoque, porque não vou aparecer. Só vou aparecer com a chamada do Ministro do Interior, Procurador Geral da República, ou dos seus vices e da esfera militar. Nos comandos Geral e Provincial não vou aparecer por uma razão muito simples: no sábado passado simularam uma visita à minha casa. Agora, vêm dizer que no terreno onde vivo é propriedade da Polícia. Eu tenho documentos e vou mostrar que é real e gostaria que também colocassem no vosso jornal. Abriram um inquérito contra mim, dizendo que me apropriei do terreno da Polícia. É mais uma razão para eu dizer, sem receio, que o problema é gravíssimo na medida em que perderam-se vidas de pessoas, mas não me tira o sono porque tenho solução para este problema. Agora, a minha vida corre riscos a partir do Comando Provincial porque pessoas que eu ontem respeitava como meus chefes, meus superiores e sempre andaram lá e hoje mandam abrir um inquérito sobre uma suposta ilegalidade do meu terreno.

 

Está a insinuar que, apesar da realidade dos factos, ainda há no seio da Polícia uma solidariedade para com Quim Ribeiro?

Ele é Comissário e, por isso, existe essa onda de solidariedade. Mas, repito e assumo: enganaram o Chefe de Estado ao pedirem para nomeá-lo.


Vê esta história do terreno como o primeiro sinal de alguma perseguição interna?

É o primeiro sinal forte de ameaça. Se o Comando Provincial quer ver os documentos, eu vou dar cópias e estampem, por favor, no vosso jornal e eles verão. Eu tenho três parcelas de terreno, devidamente legalizadas.

 

Como aparece de arguido para testemunha chave do processo? Em que circunstância decidiu abdicar dos serviços de Sérgio Raimundo como advogado?

Saio de arguido para testemunha chave por uma questão muito simples: não estou mancomunado com mentiras. Independentemente do advogado Sérgio Raimundo romper o vínculo que, inicialmente, tinha comigo ele não podia defender ao mesmo tempo a “Deus e ao Diabo”. Já antes da acareação ele me ia destratando há muito tempo. Por exemplo, disse que a Procuradoria vem cometendo erros graves na instrução deste processo, mas ele esqueceu-se que ele, na minha condição de Comandante de Divisão de Viana, me contactou para ajudá-los em situações graves, mesmo sabendo que não era da competência de um Comandante de Divisão soltar alguém. Há a história de uma sua cunhada que tinha furtado o cartão multicaixa de um namorado e vinha sistematicamente tirando valores até atingir cerca de 15 mil dólares. Ele fez o pedido, eu e a investigação, sem violar a Lei soltamos a sua cunhada, mas ele teve que repor os valores surripiados ao cidadão; ele também não se esqueça que, enquanto estudante, eu era segundo Comandante de Cacuaco e ele tinha viaturas em serviço de táxi de forma ilegal. Não quero aqui mentir, ou vos enganar: eu lhe protegi. Portanto, o Sérgio Raimundo deve-me respeitar como homem e não esquecer que ao longo da vida já lhe fiz alguns favores, ele tem que me respeitar como profissional de Polícia. Ao longo desse tempo, ele me tem marginalizado. Desafio-lhe, na presença do Bastonário da Ordem dos Advogados, a dizer algumas coisas que ele disse sobre alguns governantes.
 

A ordem de assassinato do Joãozinho parece-nos ter decorrido de uma atitude desespero…

Desespero porque o Comandante Joaquim Ribeiro estava obcecado. Não sei quem lhe tinha dado a informação que ele seria o Comandante Geral da Polícia Nacional. Em certo dia, disse-me taxativamente na presença do António João: “não é bom que eu volte novamente à Procuradoria nos meses de Outubro e Novembro porque estou proposto para Comandante Geral da Polícia, e estraga-me logo a situação porque é neste período que o Presidente começa a realizar as nomeações”. Sinceramente, ele a chegar a Comandante Geral seria um caos total.
 


E como as coisas chegaram a este nível de descontrolo, tendo sido os processos viciados logo à partida e com pessoas que tinham o poder para fazê-lo?

Meu amigo, se o líder que deve representar a verdade, a fé pública numa instituição estiver mancomunado comprometido e com o olho virado para o dinheiro, orientou viciar o processo… não tinha como. O António João cumpriu ordens e foi um mau profissional. O António João, antigo Director Provincial de Investigação Criminal, foi um mau profissional, eu assumo tudo isso e vou assumir as consequências. Estou aqui para lhe dizer o seguinte: o Comando Provincial, nem a comandante provincial ou os seus comandantes adjuntos, que não tentem me chamar porque eu não vou aparecer, nem ao inquérito que se propalou abrirem contra mim. Ao menos que o inquérito provir do Ministério do Interior, da Procuradoria Geral da República, aí sim vou aparecer e farei chegar as minhas provas porque tudo isso que estão a fazer é uma acto autêntico de cobardia.


Perdeu a confiança na Polícia?

Francamente. Existem situações que não vou revelar aqui, mas o farei em tribunal. Existem despachos que devem ser cumpridos por entidades do Comando Geral, e do Comando Provincial, mas não estão a ser cumpridos. Por exemplo, onde eu vivo, não tenho segurança, mas tem um destacamento policial a escassos metros. Porquê? Não faço parte dos indivíduos que devem ser protegidos na óptica deles, mas eu devo ser protegido até antes do julgamento porque depois do julgamento deixem-me à minha sorte que Deus me protegerá. Antes do julgamento devem me proteger porque tenho que falar a verdade, o povo angolano merece saber a verdade deste caso. Eu peço a protecção policial neste caso e aqui tenho de agradecer muito especialmente ao Dr. Sebastião Martins, Ministro do Interior, ao Dr. João Maria, Procurador Geral da República. Hoje estou com vida, sem manchas, sem qualquer lesão porque essas pessoas fazem parte do aparelho do Estado.

 

É um dado certo que Joãozinho foi assassinado enquanto o Comandante Viana se encontrava fora do país?

Estava fora, em Cuba exactamente.

 

Como tomou conhecimento?

O meu segundo Comandante ligou-me e deu a conhecer sobre este caso, e por detrás desta informação está outra que eu também vou revelar só em tribunal.

 

Já vem a trabalhar com o Quim Ribeiro há alguns anos, mesmo antes de ser director do gabinete daquele. Ele foi sempre esse “monstro” que agora se pinta?

Para mim, Quim Ribeiro foi sempre um monstro e é o monstro da actualidade. Ele tem história e não vale a pena levantarmos aqui outras questões. mas chegaram ao ponto de enganar o Presidente da República para lhe promover e nomear ao cargo de Comandante de Luanda. Um Comandante Provincial deve ser uma pessoa honesta, eu trabalhei com grandes comandantes e sempre tiveram boas referências minhas, a exemplo dos comandantes Panda e Kandela, esses para mim é que foram grandes oficiais de Polícia. Foram escorraçados, infelizmente, ao sair do Comando Provincial de Luanda.

 

Qual era a sua relação com o Comissário Quim Ribeiro antes de todo esse processo, tendo em conta que foi também director do gabinete dele?


Bem, a minha relação com o Comandante Quim Ribeiro foi uma relação de trabalho, sou mesmo um cavalo de batalha, estou mesmo entregue ao trabalho, pois sou daqueles que gosta de trabalhar e mostro trabalho, perguntem aos comissários Mário Santos, Pedro Kandela e Panda. São comissários que já trabalharam comigo e sabem que eu gosto de trabalho porque não arredo o pé do trabalho, sou vertical. Ele viu as minhas qualidades… e mesmo assim fui maltratado por ele, pelo facto de observar e exigir o que a Lei diz. Ele já me maltratou perante o Comandante Geral, numa situação em que um agente foi encontrado com uma pistola aqui no acto de carnaval onde estava o Presidente da República, ele enganou o Comandante Geral a dizer que fui eu quem passou a informação. Da forma que ele transmitiu não era a mais correcta, o comandante Quim Ribeiro não é sério. Olha que este processo viciado levou para a sala onde estavam membros do Conselho Consultivo, nem teve o respeito por essas pessoas. Disse aos membros do Conselho Consultivo do Comando Provincial que era um milhão de kwanzas. Quantos dinheiros, de processos, já foram instruídos no comando provincial sem que o Comandante Provincial tivesse acesso? Não indiciava alguma coisa? O Comandante Provincial não tem nada a ver com o processo porque nesta fase o processo é orientado pelos magistrados dentro da Polícia de Investigação Criminal, mas por quê o comandante Quim Ribeiro tinha aquele processo? Mas por quê mandou-me entregar o processo? Na Inspecção Geral do Ministério, haviam juristas. Como é que um Comandante Provincial tinha processo em sua posse na fase de instrução e não indicia em nada? Propõem uma censura registada, mas o senhor Ministro do Interior deu um despacho à altura e contundente. Olha e posso já adiantar que na audição deste processo disciplinar o filho do indivíduo do BNA disse: o nosso advogado disse para dizer que são um milhão de kwanzas. Isso não indicia alguma coisa? É protecção ao comissário. Por isso, meus amigos, repito mais uma vez que peço que às autoridades deste país que me protejam até ao julgamento para todo povo angolano conhecer a verdade…

 

E não tem essa protecção por parte da Procuradoria?


Tenho da Procuradoria, mas o senhor Ministro do Interior também me garantiu segurança e baixou orientação aos seus subordinados, mas até agora os seus subordinados não estão a cumprir. Toda área da Policia desde o nível superior ao nível da Polícia de lunada não estão a cumprir e também já não preciso dela, abdico dela e hoje a minha vida está sob o cuidado do criador.

 

Esta última viagem feita a Cuba foi a pedido da Procuradoria? 


Apelei a segurança, e porque depois da instrução a minha  segurança estava tremida. Depois da acareação, o Comissário Quim Ribeiro contactou dois indivíduos, mentindo, dizendo-lhes que eu os tinha chamado de bandidos, assaltantes de viaturas. Tratam-se de dois oficiais, um da Polícia e outro das Forças Armadas. Eles vieram ter comigo enfurecidos, eu imediatamente comuniquei à Procuradoria Geral da República. Ouviu-os e não viu sequer qualquer situação do género. Entretanto, depois confirmaram junto da Procuradoria, viram que era mentira e voltaram a ter comigo.


Quem esteve presente na acareação?

Com o Comissario Quim Ribeiro, estava o assistente do Dr. Sérgio Raimundo, que ele diz ser padre e que não mente, mas mentiu … Estavam, também, os dois Procuradores adjuntos.

 

Este mesmo assistente do doutor ouviu tudo…

Ouviu. Eu disse que o Comandante Joaquim Ribeiro está com as mãos cheias de sangue, mesmo assim ele cortou dizendo que não podia dizer isso na fase de instrução do processo. Eu disse ao assistente que ganhasse bem o dinheiro e que não visse cortar-me o raciocínio.

 

Como caracteriza o Dr. Sérgio Raimundo na condição de advogado?


Como académico e professor tenho um grande respeito por ele, mas como advogado tenho as minhas dúvidas porque ele confunde a política com a advocacia. Se ele está chateado com o MPLA, reclama junto do MPLA e eu não tenho receio de dizer que deixando de ser Polícia sou militante do MPLA, o MPLA me garantiu a formação, sou de origem autóctone, eu sou mesmo do MPLA, mas no exercício das minhas actividades sou imparcial e já mostrei isso a várias pessoas. Dou tratamento justo e imparcial às pessoas, mas tenho filiação partidária e não a escondo. O Dr. Sérgio Raimundo se tem problema vai lá, o MPLA tem maioria absoluta no Parlamento e agora se ele tem ciúmes vai lá discutir, agora não anda aí a denegrir a imagem dos dirigentes do MPLA que estão no aparelho do Estado. Isso é deselegante.


O senhor Viana diz que sente a vida ameaçada, o advogado Sérgio Raimundo também diz que sente a vida ameaçada…

Olhe, vou mesmo usar um termo deselegante contra o Sérgio Raimundo: ele é um aldrabão. Gostaria que vocês metessem isso no jornal: o senhor Sérgio Raimundo é aldrabão, ele não tem nada a vida ameaçada, eu sim, mas ele não. Prova disso é que uma comissão dirigida pela Comandante de Luanda passa pela minha casa a título de cumprir uma missão que não sei de quem é, e sai dali um inquérito.

 

Quando foi isso?

Sábado passado, e eu não estava em casa e me ligaram. Olha vai haver um processo contra você porque dizem que te apoderaste de um terreno da Polícia onde estás a viver. Isso já indicia ameaça de morte.

O Comandante Quim Ribeiro denunciou através do seu advogado que sofreu um atentado…

Tudo isso são manobras dilatórias, são manobras que têm como pretensão inviabilizar o processo, mas o advogado Sérgio Raimundo não tem capacidade para inviabilizar o processo porque este processo tem pessoas sérias e inidóneas que vão lá depor e conhecem bem os factos.

 

Essa situação toda não será uma prova da existência de Esquadrões da Morte no seio da Polícia?                   

Mas um comandante orienta matar um subordinado, um colega o que é que a sociedade vai dizer? Um Comandante Provincial da cidade capital de um país que manda eliminar um colega quando ele está ciente que se apropriou de valores que são do povo… O que dizer?

 

Depois do assassinato do Joãozinho sabe-se que a investigação estava a preparar três indivíduos que poderiam ser indiciados como autores do crime. Isso é uma prática no seio da Polícia?

Neste momento a Polícia é dirigida por uma pessoa idónea por quem tenho muita admiração, mas isso pode ter sido uma prática comum no tempo do Comandante Quim Ribeiro. Ele sentia-se sempre agastado comigo porque as celas de Viana estavam sempre cheias e eu não podia fazer outra coisa. O criminoso, o lugar dele é na cela e não ser morto. Estou aqui para assumir tudo o que vier desta entrevista, desde a punição severa até à expulsão. Não me importo, porque tenho outra formação e vou cultivar noutro sítio, mas agora não posso acobertar indivíduos. A Polícia, o Comando Provincial pode não me dar apoio, mas também eu não preciso, mas também na Polícia, no Comando Provincial, tenho amigos sérios e que quando estou em dificuldades ligo para eles, eles me apoiam e não preciso da ajuda do Comando e particularmente da Comandante. Não preciso. Façam lá o inquérito e apurem o que tiverem que apurar eu não tenho medo porque agi legalmente. Mas se não for partam-me a casa e eu vivo como mendigo. Agora, simularem uma visita à minha casa…

 

É verdade que recorreram também aos serviços de um curandeiro?

É verdade. o Comissário Quim Ribeiro por sentir o mundo acabar nós até conseguimos dominá-lo, a fazer recurso a um curandeiro. Assim fui levado ao zango para tomar um banho a ver se terminasse o caso, mas posto no Zango fomos informados pelo curandeiro que quem deveria fazer o tratamento apenas seria o chefe que mandou realizar a operação. E foi assim que o Comandante entrou. Aí eu tinha mais uma prova sobre a sua responsabilidade no caso e não é tudo: porque dias depois em jeito de brincadeira e para ver até que ponto ele estava preocupado com a situação ainda lhe dei um ovo que simulei ser tratado para ele ficar nu em casa sem ser visto por alguém e enterrá-lo num buraco em sua casa. Espantosamente, à noite ele me ligou a comunicar que já o tinha feito. E mais: ele depois se transformou cliente assíduo desse cidadão.


Quanto pagaram pelo serviço?

No primeiro tratamento em que eu presenciei ele pagou cerca de 600 mil kwanzas, o segundo pagou 800 mil kwanzas e os subsequentes eu não assisti.


Quantas pessoas foram ao curandeiro?

Quem o levou lá para provarmos que ele tinha culpa no cartório fui eu, o inspector Grego e o tenente Paixão e provamos que foi ele quem mandou matar e dividir o dinheiro.