Luanda - Os ataques terroristas perpetrados contra as nossas instituições - hoje não são apenas as escolas - estão a pôr à prova o nosso sistema de segurança nacional. Mais do que isso, estão a revelar as suas fraquezas e a provar que não estamos preparados, como país, para tratar com a eficiência necessária, de questões importantes da nossa segurança interna. As sociedades fracas sucumbem às crises, as fortes aprendem com elas e aproveitam-se delas para melhorar.


Fonte: D Martins
 

Gestão dos incidentes  -Desmaios-  tem sido deficiente

Seria absolutamente dramático para o país se a famosa substância, tóxica ou não, que provoca desmaios, desfalecimentos ou xinguilamentos, fosse mortífera. Ainda que se tratasse apenas um sintoma de histeria colectiva - que honestamente não acredito que seja - teríamos muitas mortes porque, como se vê, as nossas escolas não estão minimamente preparadas para lidar com situações do género. Não há planos de segurança, não há planos de evacuação, os professores, os alunos, a comunidade escolar em geral, não está preparada para lidar com a situação, e as intervenções têm sido feitas com muita desorganização, na base da emoção. E quem fala das escolas fala dos hospitais, fala das clínicas, fala das creches, fala dos portos, dos aeroportos, dos caminhos de ferro, dos condomínios, das fábricas, enfim, de tudo. É preciso legislar, é preciso tornar obrigatório que as instituições públicas e privadas tenham planos adequados a lidar com esse tipo de situações, num momento em que o mundo vive sobre constantes ameaças e o nosso país, em particular, é susceptível a certo tipo de ataques.

 

A própria gestão dos incidentes tem sido deficiente em vários aspectos, desde os comunicacionais aos operacionais. O sistema de informação mostra-se débil, despreparado. E espero que não se veja nessa minha afirmação qualquer sombra de denúncia, porque isso hoje está à vista de todos e já não é possível fingir que não é verdade, trata-se apenas da confirmação de uma evidência geral.  É preciso compreendermos, de uma vez por todas, que a segurança não se faz em sentido unilateral, das instituições para a população, a segurança faz-se num sentido bi e multilateral, o que implica o envolvimento de todos. E isso passa por uma educação securitária, procurando permanentemente avaliar os riscos e as ameaças, no sentido de preparar todo o mundo para lidar com as situações hipotéticas.

 

 Espero, por isso que, apesar de todas as dificuldades que hoje são evidentes, possamos a curto prazo descobrir o que realmente se passa, hoje quando sabemos que não se trata de uma brincadeira.

 

 Espero que depois disso os responsáveis por estes actos criminosos sejam julgados e punidos com base na lei - espero que haja uma lei suficientemente rigorosa para essa situação -, e espero, acima de tudo, que esta situação nos sirva de exemplo como país e que dela possamos tirar as conclusões que se impõem.

 

 Espero, honestamente, que não haja aproveitamentos políticos desta situação, que não se busquem fantasmas nem bodes expiatórios.


Espero que tenhamos capacidade para reconhecer a nossa fraqueza e nos fortalecermos com o que aprendermos. Espero que possamos, de facto aprender.

 

Espero que todos, poder político e sociedade civil, compreendam de uma vez por todas a importância da segurança para a estabilidade da vida das pessoas e para o desenvolvimento da sociedade, espero que, de uma vez por todas, deixemos de misturar a segurança com política, dentro da racionalidade que o momento impõe.


Espero, aqui não apenas como cidadão mas como especialista em segurança, que o nosso sistema de segurança nacional seja reformulado no sentido de torná-lo efectivamente capaz de garantir a segurança que as pessoas merecem.