Paris - Sou um patriota angolano e apartidário (por enquanto) que acompanha de perto a evolução multisetorial do seu país. E como tal, amo imensamente este país e sempre ponho acima de tudo e de todos, os interesses de Angola e dos Angolanos.


Fonte: Club-k.net

Não existem angolanos superiores aos outros

Os que têm lido alguns artigos que tenho publicado nos portais angolanos, já devem ter-se dado conta que tenho tido quase sempre um discurso de unidade e reconciliação entre Angolanos. Porque sei que a verdadeira reconciliação e verdadeira unidade dos Angolanos são pilares indispensáveis para a paz, a estabilidade e o desenvolvimento do nosso país. Um país dividido, como é o caso da Angola atual, nao pode resistir aos ataques vindos de fora e nem desenvolver-se devidamente.

 

É assim que fiquei muito indignado, consternado, chocado… quando recebi a noticia do incidente que ocorreu na terça-feira passada, 16/08/2011, na nossa Assembleia Nacional, aquando da votação do pacote legislativo eleitoral. Segundo os relatos que nos chegaram, o grupo parlamentar da UNITA discordando com o conteúdo das leis eleitorais que deveriam ser votados naquela sessão, decidiu abandonar a sala ao invés de participar da votação de tais leis que ele considera ser susceptíveis de facilitar a fraude eleitoral.

 

E quando os deputados da UNITA deixavam a sala de debates, alguns deputados do MPLA os tratavam de « sulanos » (segundo o que cri entender) e diziam-lhes de irem-se embora e não voltarem nunca mais. Foi também relatado que os deputados do MPLA gritavam ainda « não falem em nome do povo sulano, que vocês mataram ». Não entendi bem se trataram-lhes abertamente de « sulanos », ou apenas disseram « não falem em nome do povo sulano, que vocês mataram ».

 

Seja como for, o comportamento dos deputados do MPLA é repreensível. Como representantes do povo não podem pautar por uma conduta semelhante. Os políticos têm tido grande influência na população, em outras palavras posso dizer que servem de modelos aos demais cidadãos. Com comportamentos deste género o que estarão ensinando à população ? O que queriam eles dizer com a palavra « sulano » ? Será que é uma maneira de considerar os do sul de Angola como sendo inferiores ? Como tem sido o caso com a palavra « Bailundo ».  Os deputados do MPLA devem saber que ao tratar os da UNITA de sulanos, se é mesmo que o fizeram, insultaram ao mesmo tempo todo povo angolano originário do sul de Angola ! Inclusive os deputados e militantes do próprio MPLA que também são do sul de Angola.  E esta atitude é inadmissível. Se fosse em países realmente democráticos, estes elementos já estariam cumprindo uma sanção disciplinar. Eu, Patriota Liberal, não sou do sul de Angola mas fui muito consternado com o sucedido.

 

Ser natural de Luanda não é nada ser superior aos que  são ou vivem nas restantes províncias de Angola. Lembro que é o conjunto das 18 províncias que constituem a República de Angola. Se os deputados do MPLA acham que só os de Luanda reúnem condições para serem Angolanos, ou que sejam superiores aos outros, então façam o que deve ser feito para que cada povo de Angola seja respeitado e viva dignamente na sua terra de orígem. Embora não seja este o desejo da maioria dos Angolanos genuínos.

 

Este incidente é um precedente muito perigoso para a unidade e reconciliação do país. Num dos meus artigos intitulado « Angola : verdadeira ou falsa reconciliação nacional ? », publicado no Club-k, escrevi que a democracia é uma atitude, um comportamento quotidiano. Fim de citação. A democracia constroe-se. Ela não cai dos céus. Para ela ser construida é preciso que cada angolano, começando pelos políticos, seja animado com o espírito democrático. Porque a democracia sem o espírito democrático nao funciona. Assim como a reconciliação nacional. Ela não se pode decretar e pronto estarmos todos reconciliados. É preciso termos cada dia atitudes que contribuam para a reconciliação dos Angolanos.

 

Apercebi-me que no nosso país há gente que não está interessada em reconciliação nacional. Tudo que lhe interessa é ver as armas calarem-se para em seguida continuar com a violência verbal e práticas de submissão. Pergunto-me se esta gente é mesmo angolana. Porque nenhum Angolano verdadeiro pode estar satisfeito em ver os habitantes do seu país se querelando em permanência. É por causa de gente como essa que Angola se encontra na atual situação de exclusão social, querelas e divisão.

 

O ato feito pela UNITA de abandonar a sala de debates é uma prática corrente em muitas grandes democracias ocidentais. Na França por exemplo, várias vezes o Partido Socialista abandonou o hemiciclo por não estar de acordo com a posição do Partido no poder (UMP). É também direito do Partido no poder criticar e lamentar a atitude da Oposiçao. Mas nunca deveria ser um motivo de ressuscitar os velhos demónios, de relembrar o passado doloroso de guerra que todos nós queremos esquecer. Isto apenas contribui no reavivamento do ódio entre Angolanos, perigando assim o processo de paz e reconciliação.

 

O Partido MPLA deve aprender a escutar as opiniões dos demais Partidos e tê-los em conta no processo legislativo. Ele não deve esconder-se sempre atrás da maioria que tem na Assembleia Nacional para impor aos demais Angolanos a sua vontade ou ideias. O fato de não ser escutado cada vez que se debate um assunto importante que diz respeito à vida do país, gera um sentimento de frustração que pode conduzir, com o tempo, a cometer faltas irreparáveis.

 

Angola está saindo dum período de instituições ilegítimas e está entrando no de legitimação das instituições do Estado. Normalmente este processo de legitimação das instituições deveria ser feito através do consenso, e não segundo o princípio de maioria e minoria na Assembleia Nacional. Uma vez que todas leis seriam atualizadas ou reformadas, todas instituições legalizadas ou legitimadas, só aí é que se deveria começar a aplicar o princípio de maioria e minoria. Porque é necessário que todos Angolanos se revejam nas novas instituições e nas leis que, doravante, irão regulamentar à vida nacional. Porque não é bom, nem justo, num Estado que se considera democrático, que a legitimação das instituições do Estado e a reforma das leis definitivas que irão reger a Nação inteira sejam decididas por um só Partido. Como é o caso do pacote de leis eleitorais.
Caso o MPLA continuar a reformar as instituições e as leis usando a maioria que tem na Assembleia Nacional para poder impor as suas posições, os demais Partidos estarão frustrados e adotarão posições que irão causar uma instabilidade sócio-política no país.
Não se esqueçam que uma das razões que fez com que Angola mergulhasse numa longa guerra civil foi a exclusão. O fato de querer excluir os outros e dirigir sozinho. Aprendamos com os erros do passado e paremos de teimar-nos em reiterar os mesmos erros de outrora.


Por isso, senhores deputados, do MPLA, da UNITA e dos demais Partidos políticos angolanos. Em nome da paz, da unidade nacional, da estabilidade social e da integridade territorial de Angola, peço-lhes que sejam mais maduros, patriotas e democratas. Sejam imbuídos do espírito democrático, porque é só assim que iremos construir uma Nação coesa e harmoniosa. As disputas improdutivas e sem fim apenas irão desestabilizar e atrasar cada vez mais o desenvolvimento tanto almejado pelos Angolanos.


  
Ponham sempre acima de tudo os interesses de Angola e dos Angolanos, pois é por isso que fostes eleitos. Os interesses partidários e pessoais devem vir depois dos da Nação. Pois, Angola é o bem que temos em comum. É ela que faz com que sejamos irmãos, compatriotas e condenados a viver juntos. Sem que alguns se sintam superiores ou inferiores aos outros. Porque afinal de contas, nenhum Angolano é superior ou inferior ao outro. Somos todos seres humanos diferentes e originais, feitos a imagem e a semelhança de Deus.


Porque não aproveitar a ocasião para fazermos desta convivência obrigatória, uma convivência harmoniosa e fraterna ? Que Deus vos ilumine, no nome de Jesus-Cristo. Amem.


« Unidos Somos Mais Fortes »


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