Lisboa - 1 . A acção de Faustino Muteka como governador do Huambo (AM 569), continua a ser definida por controvérsia. São consideradas consequência de tal situação evidências como um ofuscamento local do regime e do MPLA (AM 575), bem como um retrocesso notório na linha de recuperação em que a cidade e a província tinham entrado.


Fonte: africamonitor.net


A atitude contemporizadora que o regime aparentemente revela face ao governador é atribuída a “amparos” de que o mesmo dispõe nos escalões mais elevados do poder. M H Vieira Dias “Kopelipa” e Higino Carneiro são apontados entre as altas figuras do regime que o protegem.

 


M H Vieira Dias “Kopelipa” é próximo de F Muteka – que amiúde visita no Huambo, assim como numa fazenda de que o mesmo é dono na província da Huíla; o comandante da PIR do Huambo é seu sobrinho. H Carneiro também cultiva uma antiga amizade o governador, estendida a negócios comuns.


2 . A nomeação de F Muteka e/ou sua continuação no cargo (nunca confirmados rumores cíclicos acerca da sua substituição), são também atribuídas a uma atitude deliberada do próprio regime – baseada numa lógica de “juntar contrários” como forma de gerar ambientes de tensão justificativos de medidas de controlo e coacção.

 

F Muteka foi nomeado para o Huambo na mesma altura em que Mawete João Batista o foi para Cabinda. O regime não tem plena confiança na lealdade da população de ambas as províncias – a do Huambo por ser considerada afecta à UNITA e a de Cabinda devido a sentimentos independentistas.


Ambos pertencem à chamada “velha guarda” do MPLA e são apontados como adeptos de políticas de rudeza para lidar com adversários. Em Cabinda e no Huambo organizações da sociedade civil e outras, internacionais, assinalam regularmente práticas sistemáticas de pressão e intimidação da população.

 

3 . Na acção de F Muteka como governador do Huambo estão identificadas tendências repressivas, que o próprio justifica com a convicção de que a população nutre simpatias pela UNITA; favorecimento próprio e de entes próximos, incluindo acumulação privada; demonstrações de falta de discernimento e competência.

 

A administração pública funciona com falhas e absorvendo anomalias. O pagamento a credores está sujeito a grandes atrasos. Passou a ser permitida a construção de casas de zinco na malha urbana da cidade e o sistema de fornecimento de energia eléctrica funciona com insuficiências e falta de regularidade.

 

Entre os brancos há um clima de descontentamento, por efeito do qual alguns procuram transferir-se para províncias como Bié ou Benguela. Os polícias de Trânsito, p ex, sujeitam os condutores brancos a sucessivas acções de fiscalização, movidos pelo propósito de lhes extorquir dinheiro em troca da devolução de documentos.


4 . Na acção de F Muteka como governador do Huambo é notada uma particularidade pela sua natureza considerada mais significativa de que as outras: o activismo que denota na tomada de decisões visando comprometer/atingir Paulo Kassoma, actual presidente da Assembleia Nacional e antigo governador provincial.

 

A obsessão anti-Kassoma, como é conhecida, manifesta-se na forma de inquéritos e auditorias ao seu consulado como governador, aparentemente com a intenção de o incriminar (conta, para tal, com a colaboração da PGR, DIPC, Polícia, etc); afastamento compulsivo de quadros a ele ligados ou o seu aliciamento com vista a prestarem informações que o comprometam.

 

A estranheza do fenómeno decorre de análises segundo as quais F Muteka não teria condições políticas para afrontar P Kassoma da forma persistente como o faz se não contasse com apoios para o fazer, sendo que a razão de tais apoios pode estar radicada em motivos “ponderosos”.

 

A sua hostilidade a P Kassona, descrita assim por se considerar destituída a moral que invoca para justificar o seu “frenesim”, é também considerada uma manifestação de deslealdade e ingratidão, tendo em conta que foi o actual presidente da Assembleia Nacional, então ainda PM, que influenciou a sua nomeação.

 

Para o substituir à frente do governo P Kassoma indicou inicialmente Albino Malungo. Cedo, porém, este o começou a “importuná-lo” com a necessidade de “esclarecer” certos aspectos de negócios pessoais que o novo PM deixara no Huambo, inclusive como prestador de serviços ao Governo Provincial – então geridos por uma filha, Canda.

 

O episódio ensombrou as relações entre o novo e o antigo governador. Posto ao corrente da situação e decidido a aproveitá-la, F Muteka diligenciou no sentido de forçar a saída de A Malungo e em lugar do mesmo vir ele próprio a ser nomeado governador, o que veio a acontecer por intercessão de P Kassoma, na sua qualidade de PM.