Luanda - Um Estado é uma sociedade composta por pessoas singulares, munidas de valores e culturas diversas que habitam no mesmo espaço sociogeográfico e que convivem na harmonia, na fraternidade, na solidariedade e na diferença. O Estado, sendo um conjunto de pessoas singulares, com pensamentos diversos e adversos deve ser altamente flexível, com capacidades imensas de transformação interna, de adequação e de correcção constante dos factores negativos que prejudicam a vida interna das comunidades e potenciar os aspectos positivos.


Fonte: Club-k.net


Uma sociedade sem capacidade intrínseca de autotransformação e de autocorrecção está condenada à autodestruição que se culmina na desintegração. Os anais da história da humanidade contem inúmeros factos pertinentes deste género. Ao contrário, para mistificar os factos e atingir os alvos preconcebidos, o maquiavelismo tem sido a arma privilegiada. Nesta lógica, os Príncipes, em busca da conservação definitiva do poder, colocam-se acima da sociedade, usurpam os bens comuns e se transformam em donos exclusivos – chamando a si toda a responsabilidade de toda soberania do País. 

 

Quando isso acontece o País torna-se refém e a sua estabilidade fica a mercê de uns poucos perante os quais todos curvam-se em jeito de súbditos. Isso tem consequências imprevisíveis, sobretudo neste Século XXI em que todos povos do mundo estão directamente expostos aos valores da globalização e partilham mutuamente os interesses comuns. Contudo, são felizes aquelas sociedades que possuem a dinâmica intrínseca que lhes permitam operar oportunamente as mudanças democráticas imperativas no sentido de se precaver do possível descalabro ou do desmoronamento da Nação.

 

Em todo caso, o Estado não difere muito da pessoa singular. Aliás, ele é pessoa colectiva que nele está embutido a vontade de cada cidadão, membro deste Estado. Por isso, um individuo que tropeça no mesmo obstáculo tantas vezes, esta pessoa deve ter a memória de grilo – um autentico demente, incapaz de governar a sua pessoa e de gerir os seus bens. Trata-se, então, de uma patologia que não se ajusta bem aos princípios estruturantes de um Estado moderno, democrático, de direito, representativo e republicano.

 

Este fenómeno só se registava nas Monarquias absolutas da idade média em que o Soberano tinha a liberdade absoluta de agir consoante os seus caprichos. Deixavam-se incorrer em mesmos erros que no fim se transformavam em normas de conduta de um determinado imperador autocrático, com plenos direitos divinizados.

 

A este respeito o Sun Yat-Sen (1866-1925), Político Chinês, na luta contra o Poder divino dos Manchus afirmava: “O imperador não tem o direito divino de governar o povo. O povo tem o direito divino de se governar a si próprio. Se todo povo desobedecer ao diktat do imperador, este morrerá de inanição”.


Sem rodeios, de forma sintética, os nossos maiores defeitos, os grandes erros do Nacionalismo Angolano durante a Luta anticolonial, que se prolongam continuamente até a data, resumem-se no seguinte:

 

a) A falta de unidade, de flexibilidade, de entendimento e de consenso entre os três Movimentos (FNLA/MPLA/UNITA) de Libertação Nacional. Que deu origem ao fracasso retumbante, sem precedente na história da África, dos Acordos de Alvor, que constitui a causa principal do conflito armado que desenrolou no País de 1974 até 2002.

 

b) A ultra-auto-estima e o egocentrismo que buscava a prevalência de um só Partido entre os três Movimentos – excluindo-se mutuamente. Isso nos levou a implantação da cultura política monolítica e totalitária, a qual persiste até hoje como sendo a Filosofia consagrada do Estado.


c) O Nacionalismo etnocêntrico consubstanciado na geopolítica pré-colonial. Tendo servido de barreira em unir intimamente os protagonistas do Nacionalismo Angolano no esforço de congregar todos os angolanos (na igualdade de direitos e de valores) na luta titânica contra a Colonização Portuguesa.


d) A Concepção errónea da natureza real do Multiculturalismo e da Multirracialidade da Sociedade Angolana. Acabando-se por dividir, discriminar e oprimir determinadas comunidades.


e) A aplicação dogmática das Doutrinas universais, do então, à realidade angolana. Criando rupturas nas fileiras nacionalistas em detrimento do Objectivo primário da descolonização, da edificação e da consolidação do Estado Angolano, erguido mecanicamente sobre os Pilares do Colonialismo Português.
 

f) A Doutrina de assimilação colonial baseada no luso-centrismo, como o padrão dominante do processo da civilização e da edificação do Estado independente de Angola. Forjando (ao longo dos Séculos) o sentimento exacerbado anti-bantu, que afastara as elites intelectuais das comunidades locais. Isso ergueu uma grande muralha entre si e privou as Elites do conhecimento profundo da Sociedade Angolana, na sua plenitude.

 

Os acima enumerados factores de Alienação do Nacionalismo Angolano não devem ser tidos como únicos. Na minha percepção pessoal, considero ser aqueles que se manifestam de modo pertinente e cujo vigor predomina a Doutrina actual da governação do Estado Angolano. Parece que, ainda não nos despertamos desta realidade inequívoca que continua abalar fortemente os alicerces do nosso “Estado democrático” recém-nascido, que defronta cada vez mais o advento de uma nova ordem política no País. 

 

 A questão do fundo que nos desafia nesta fase é a nossa incapacidade, como Estado Democrático e de Direito, de superarmos os erros do passado que nos fizeram mergulhar o nosso País numa guerra atroz. Há outros Países Africanos, como a Zâmbia, nossa vizinha, que foi capaz de enquadrar bem as suas diferenças sem quebrar o espírito de fraternidade; nem semear ódio entre si, como Cidadãos da mesma Pátria. A Zâmbia tem razão de se considerar como modelo da modernidade da Cultura bantu que emergiu reforçada do Colonialismo Britânico, salvaguardou a dignidade do seu Povo e cimentou a coesão da Nação, assente na diversidade, na diferença, e na igualdade de todos.

 

Despido do cepticismo, a Reconciliação de 2002 não foi inspirada por espírito de recuar no tempo, identificar os elementos negativos e positivos; sintetiza-los, corrigi-los e buscar um denominador comum que unificasse todas comunidades da nossa sociedade para os grandes desafios da edificação de uma nova Nação una, indivisível, estável e próspera.
Pelo contrário, a Reconciliação de 2002 baseou-se no espírito de um Gigante Vencedor, todo-poderoso, disposto a vincar e eternizar a sua vontade do Partido dominante, inabalável e intocável na sua Doutrina hegemónica. Para este efeito, usa todos os meios a sua disposição – sem piedade nenhuma. Ali estará o maior desafio desta nova Geração do nosso País, neste Século das grandes transformações no Mundo. 

 

Olhando bem para as transformações que ocorrem por toda parte do Mundo, constata-se um novo fenómeno que se apresenta na vanguarda das mudanças politicas. Trata-se efectivamente do surgimento, de forma de cogumelo, da Classe juvenil, aliadas às sociedades cívicas, à classe média, à intelectualidade e às comunidades religiosas, que tem sido a Alavanca principal de mudanças democráticas em África e no Mundo.

 

Os Partidos políticos actuais debatem-se com debilidades enormes de inovação e da adequação à evolução acelerada da conjuntura actual, de modo a criar condições propícias para o enquadramento eficaz da juventude intelectual. Há uma série de handicaps, tais como: Preconceitos desajustados no tempo; burocracia pesada; inércia; corrupção; clientelismo; tráfico de influências; desgaste de imagem e da legitimidade política. Além de fricções intestinas que enfraquecem a unidade e a vitalidade das Organizações Políticas.


A grande questão consiste no facto de saber, se as doutrinas políticas concebidas no Século XVIII serão capazes de acomodar bem os Anseios e a Dinâmica das forças modernas da nova Geração deste Século XXI, num sistema democrático avançado; com instituições altamente complexas, conectas entre si e movidas pelos fenómenos da Globalização.

 

Contudo, já se verifica o surgimento gradual de uma Classe política moderna, despida de remorsos, de revanchismos, do etnocentrismo e da intolerância política. Essa Classe política poderá vir ganhar paulatinamente o protagonismo político, com maior consistência, ousadia e rigor intelectual, capaz de alterar o actual status quo e transformar a Angolanidade numa realidade concreta, inclusiva e globalizante, que venha salvaguardar os interesses de todos Cidadãos do nosso País. A integração e o enquadramento eficaz da juventude intelectual nas estruturas políticas actuais é o factor decisivo do êxito da consolidação das instituições democráticas no País.

 

Em suma, os grandes obstáculos dos Partidos Políticos Angolanos consistem na partidarização do Estado; no etnocentrismo; na alienação da cultura bantu; na prática antidemocrática e no espírito antigénios. Usam a democracia apenas para inviabilizar os ideais democráticos. Hostilizam os grandes valores (génios) para dificultar a alternância democrática nas lideranças partidárias e na chefia do Estado. Suprime o surgimento de figuras carismáticas capazes de ampliar e enriquecer o espaço de competitividade na escolha de dirigentes. Constrói-se a economia do enclave sob o monopólio de ínfimas famílias privilegiadas.


Este procedimento inibe o processo democrático; afasta os cérebros da corrida política; destabiliza os partidos políticos; empobrece a elite da sociedade; agudiza a segregação sociocultural; agrava as assimetrias geopolíticas e atrasa o desenvolvimento do País. Num sistema de carácter angolano, um Barack Obama, da minoria Negra não teria acesso à Casa Branca com o voto esmagador da maioria Branca. Nós, os Angolanos, nos deixamos embarcar na mediocridade que nos afasta de grandes Projectos de alta qualidade.

 

Nas democracias avançadas como da América do Norte e da Europa Ocidental, tem apostado nos grandes projectos, nas grandes personalidades e nos grandes cérebros. Só assim que tornou-se evidente a prevalência da Civilização Ocidental, o domínio da tecnologia de ponta e o alcance do nível elevado de vida dos seus cidadãos.


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