Lisboa - O escritor angolano José Agualusa afirmou hoje que o presidente José Eduardo dos Santos deve abandonar o poder e iniciar um processo democrático, durante um encontro em Lisboa que juntou vários angolanos, como o ativista Rafael Marques.


Fonte: Lusa


"O presidente ainda está a tempo de abandonar o poder e retomar o processo democrático. Ele pode sair preservando a sua honra e a sua fortuna pessoal. Pode contribuir para o desenvolvimento do país como empresário", disse o escritor à Agência Lusa.


José Agualusa fez parte de um grupo de cerca de duas dezenas de pessoas que se juntou esta tarde no Rossio, em Lisboa, para participar numa vigília de solidariedade com os 21 jovens angolanos detidos em Luanda a 3 de Setembro.

 

Numa alusão às recentes revoluções ocorridas nos chamados países da "primavera árabe" (Tunísia, Egito e Líbia), José Agualusa referiu que o fosso social é muito maior em Angola do que era na Líbia e que o regime é muito mais frágil, embora menos autoritário.


"O facto de ser menos autoritário deixa margem para que as pessoas respirem e explica que até agora não tenha havido uma explosão social, mas as condições para isso acontecer estão lá", alertou.


Presente na iniciativa esteve também o ativista e jornalista angolano Rafael Marques, que em declarações à Agência Lusa afirmou que as recentes manifestações em Luanda representam uma tomada de consciência das pessoas para os problemas do país.


"Representam [as manifestações] uma tomada de consciência dos angolanos. É fundamental que os angolanos saibam gerar solidariedades para que as mudanças que são necessárias para o bem do país ocorram de forma pacífica", afirmou.

 

O activista sublinhou que a atitude dos jovens manifestantes foi um exercício de liberdade e de expressão e que por isso não devem permanecer presos.


"Quando chegar a Luanda vou visitá-los à cadeia. Só assim teremos uma verdadeira democracia e estabeleceremos elos de solidariedade entre todos aqueles que lutam pela liberdade", sublinhou.

 

No dia 3 de Setembro, dezenas de jovens foram detidos durante uma manifestação contra o presidente angolano, José Eduardo dos Santos. Dos 21 que foram julgados, 18 foram condenados a penas entre os 45 e os 90 dias de prisão efetiva.

 

Outros 27 jovens que haviam sido detidos no dia 8, quando apoiavam os que estavam a ser julgados, foram todos absolvidos.