Luanda - Convém admitir que JES arrependeu-se da promessa feita antes das últimas eleições quando elevou a voz no Comité Central do MPLA que iria abandonar a vida política em 2018. Na altura todos caímos na confusão de saber se essa decisão significava abandonar a Presidência da República ou a direcção do partido. Não foi fácil descortinar a ideia que surpreendeu a todos e o que parecia enigmático resolveu-se com a eleição de JLO.

Fonte: Club-k.net

Para muitos dos militantes do partido dos camaradas, é um arrependimento inconveniente. Atrapalha o processo de reforma iniciada por JLO que deve culminar com a tomada da direcção do partido como solução para consolidar o poder de quem governa o Estado angolano. Para os reformistas é uma solução necessária e impõe-se pela necessidade de um controlo absoluto do poder. A mesma solução agrada aos militantes rancorosos e vingativos que querem estimular fúria da sociedade contra os corruptos seleccionados entre os camaradas.


Mas o pedido de adiamento de JES tem interesse público. Por isso, o povo e sua sociedade civil devem evitar cair na onda emocionalista dos militantes ávidos pela saída de JES. Se o ex-Presidente da República tomou a decisão certa de abandonar a direcção do Estado, mesmo sem ter tomado a inteligente decisão de protagonizar a transição política que se impunha, através de um processo de Concertação Nacional, hoje, o impacto desse erro deve ser mitigado com uma medida de ponderação que deve opor o povo e os militantes reformistas e rancorosos do MPLA.


Estes militantes que têm inspirado a DOUTRINA DA BICEFALIA POLÍTICA pretendem restaurar apressadamente o ideal do CENTRALISMO do Estado angolano, através da recuperação do espaço cedido a favor de um processo de despartidarização do Estado acidentalmente causado pela transferência de JES a liderança do MPLA e o abandono da Chefia do Estado. Um ideal que teima em fazer de Angola uma propriedade do partido no poder mantendo a filosofia totalitarista do controlo da República iniciada desde 1975.


Na verdade trata-se de um pensamento retrógrado e contrário a grande conquistas democrática dos angolanos iniciada desde 1992 que deve ser combatido energicamente por todos os democratas angolanos que auguram pela separação entre o partido e os órgãos executivos do Estado. Afinal, JES iniciou acidentalmente um processo de despartidarização dos serviços públicos do Estado angolano quando decidiu manter-se a testa do seu partido contra a vontade de JLO e seus sequazes. Um processo que deve culminar com o fim da promiscuidade entre o partido e os órgãos executivos do Estado que impede a democratização da sociedade angolana e alimenta o poço da corrupção que têm desmoralizado os angolanos e agravado a crise económica que está a encaminhar o Estado angolano a falência total.


JES não deve permanecer como Presidente do MPLA apenas para acompanhar o processo eleitoral relativo às autarquias locais provavelmente idealizado para 2022 entre os camaradas. É um desejo medíocre para aquilo que é o anseio do povo angolano. Deve manter-se na liderança do partido para encorajar a verdadeira TRANSIÇÃO DEMOCRÁTICA que o país precisa. A transição que consiste em libertar as instituições públicas da avidez dos militantes no açambarcamento da propriedade colectiva.
A promiscuidade entre o partido e o Estado confunde a propriedade colectiva dos angolanos com a propriedade dos militantes. Estimula a arrogância e a consciência criminosa dos dirigentes do partido no poder na gestão do erário público promovendo a corrupção, o peculato, a concussão e outros actos de improbidade pública.


O povo não deve deixar-se enganar pelos arautos da BICEFALIA POLÍTICA para perpetuar a partidarização dos serviços públicos. É o momento para apoiar a transição que se impõe a bem de todos nós. Uma transição que deve levar JES a impulsionar a revisão constitucional de modo a consagrar o princípio da separação das funções partidárias e do Estado para o Presidente da República e todos os membros do governo. Que haja coragem para enterrar de vez o fantasma do partido único que resiste nas vestes da promiscuidade no exercício de funções partidárias e de Estado para que Angola seja libertada e projectada na linha de países africanos que abraçam a ideia de um Chefe de Estado de todos os cidadãos e que promove a inclusão social e o desenvolvimento sem privilégios especiais aos militantes do seu partido político.


Que JES permaneça na liderança do MPLA até que JLO ganhe consciência que é o Presidente dos angolanos e não dos militantes do seu partido; que esta missão tão elevada para os angolanos não deve ser confundida com os interesses partidários e que apenas poderá combater eficazmente a CORRUPÇÃO se abraçar a via da despartidarização dos serviços públicos do Estado. Essa vontade deve ser demonstrada com a revisão da CRA de 2010 pondo fim a qualquer mandato de presidencial da República protagonizado por um líder de partido político, seja ele de que partido for. Aprovada a nova Constituição, com esta e outras emendas importantes, JES pode ir para casa a vontade. Ainda bem que JES deu a conhecer o seu arrependimento de abandonar a vida política. Não importam as razões. É uma oportunidade para os angolanos.