Luanda - O presente artigo tem como objectivo analisar dos programas de história de ensino Primário e ensino secundário I ciclo quanto ao ensino da Historia local. O ensino de História enquanto uma disciplina escolar é de estrema importância visto que a história é uma ferramenta indispensável para a formação da identidade e cidadania do aluno.

Fonte: Club-k.net

Justifica-se a presente pesquisa a partir do momento em que a história local configura-se como uma das ferramentas indispensáveis na construção da identidade dos alunos e sua compreensão, além de proporcionar um engajamento cívico perante a sociedade, portanto, torna-se indispensável inclusão da história local nos currículos escolares, visto que a educação necessita cada vez mais de práticas que periodize a formação de alunos conscientes e comprometidos com sua realidade histórica local e que estejam prontos a responder as demandas da sociedade. Pois nos livros didácticos não possui conteúdos que falam da história e cultura local de cada região principalmente a região de Cabinda. Assim sendo como a futura geração poderá conhecer a história e cultura da sua região? Objectivo: destacar a importância do aluno conhecer, aprender a valorizar história e cultura da sua localidade como património do seu país; incentivar o interesse pelo conhecimento da história e cultura local de Cabinda; demonstrar a importância do ensino da história local na construção da identidade cultural e cidadania. Para o artigo fizemos uma revisão bibliográfico e análise documental de vários autores.

 

1 - Introdução

A histórica sendo uma ciência, que procura desvendar os factos históricos do passado, a fim de enfrentar o presente e projectar o futuro, ela deve ser estudada do ponto de vista local, nacional, regional, bem como universal.

 

O presente artigo intitulado Importância do Ensino da História Local, na compreensão da História nacional e universal. Uma análise dos programas da reforma educativa em Angola. No que se refere ao ensino de História enquanto uma disciplina escolar é de estrema importância  visto que a história é uma ferramenta indispensável para a formação da identidade e cidadania do aluno. Essa formação dentro do ensino de história, só será plausível, se os conteúdos escolares estiverem aglutinados a história local aos alunos, de forma a permitir a relação entre o tema e a concepção do aluno com a história nacional e universal. Pois o mesmo surge para fazer uma crítica ao INIDE, órgão encarregue na elaboração dos programas e manuais de ensino de História desde do ensino Primário (5a e 6a Classe), bem como ao Ensino Secundário do I Ciclo

No nosso ponto de vista, entendemos que, pensar-se que só devemos ensinar os conteúdos históricos de pendor universal, é um erro, porque estaríamos aprisionar os alunos a sua realidade histórica, pois muitas vezes encontramos dificuldades na compreensão dos mesmos conteúdos por causa de pressupostos de carácter temporal, geográficos e mesmo de ordem cronológico, entretanto, se ensinarmos algo relacionado ao nosso meio, a nossa tradição, cultura, etc., por mais que seja tão antiga a compreensão torna-se mais facilitada em detrimento de assuntos de outras regiões.

 

Pois (Zamboni, 1993) em artigo publicado sobre o papel da História na construção da identidade, afirma que: "O objetivo fundamental da história no ensino, é situar o aluno no momento histórico em que vive, o processo de construção da história de vida do aluno, de suas relações sociais, situado em contextos mais amplos, contribui para situá-lo historicamente em sua formação social, a fim de que seu crescimento social e afectivo, desenvolver-lhe o sentido de pertencer."

 

A valorização da história local é o ponto de partida para o processo de formação do cidadão (Nogueira, 2001 p. 647 apud Chicata, 2017p. 2) afirma que estudar questões locais é fundamental para que os alunos compreendam melhor as relações existentes entre sua região e o restante do planeta, pois esta compreensão os ajuda a analisar historicamente os acontecimentos, lhes proporciona uma visão crítica sobre os factos de suas vidas, contribuindo para uma mudança de atitude com relação à própria vida.

Objectivos

1 - Destacar a importância do aluno conhecer, aprender a valorizar história e cultura da sua localidade como património do seu país.

2 - Incentivar o interesse pelo conhecimento da história e cultura local de Cabinda.

3 - Demonstrar a importância do ensino da história local na construção da identidade cultural e cidadania para a compreensão da história nacional quiçá universal.

A escolha deste tema permitirá ajudar nos a compreender e conhecer o quão é importante a nossa realidade histórica e cultural porque isso possibilitara-nos a elevar cada vez mais o nosso sentimento de pertença pela terra que nos viu nascer. Porque só conhecendo a nossa terra é que teremos o orgulho de nos formarmos para um dia servi-la.

As fontes e metodologia usadas neste artigo é fundamentalmente de revisão bibliográfica através de vários autores que abordaram a temática fazendo um enquadramento da nossa realidade, de maneira e entender que ao longo de formação geral no ensino Primário e I ciclo não existem temática que abordam a realidade histórico e cultural dos Cabindas.

 

1- Conceitos e fundamentos da história Local

 

Para (Paim & Picolli 2007 p. 65 apud, Chicata, 2017 p.8), a História Local é a história que trata de assuntos referentes a uma determinada região, município, cidade, país. Apesar de estar

relacionada a uma história global, a história local se caracteriza pela valorização dos particulares, das diversidades, ela é o ponto de partida para a formação de uma identidade regional. Ela tem sido compreendida como a história do lugar. Ensinar história local não é substituir o ensino da história geral e nacional, mas se trata de um aprimoramento da história, de saber que as localidades também possuem sua história e que ela deve ser transmitida.

Na nossa visão, o programa, é um documento concebido por uma entidade idónea onde contem todo plano anual, semestral, mensal de uma disciplina numa determinada classe nível, etc., contento os objectivos, metas e conteúdos seleccionado para ser administrado, que o professor deverá guiar-se para atingir os objectivos preconizados, no nosso entender. O ensino de História é uma ferramenta indispensável para a formação da identidade do aluno, incorporando na vida do sujeito, as relações sociais marcadas por modos de ver, pensar, agir, criar e recriar os objectos socialmente construídos no decorrer do tempo pelos diferentes contextos culturais.

Noutros países já valorizam o estudo da história local como e outras partes. Exemplos desses ainda não se fazem sentir nos programas de ensino de História em Angola. Os nossos programas e os livros utilizados nas escolas nada debruçam sobre o convívio social mais próximo do aluno, isto é, os nossos manuais de história não falam nada da história local, mais ensinam a história numa perspectiva narrativa dos factos ocorridos no passado a nível nacional ou universal.

A História Local permite ao educando perceber-se como sendo parte integrante da história, não simples espectador do ensino desta, mas objecto e sujeito, construtor de factos e acontecimentos que não lineares, mas permeados de descontinuidades próprias do processo histórico.Enquanto estratégia de aprendizagem, a História Local, pode garantir o domínio do conhecimento histórico. Seu trabalho no ensino possibilita a construção de uma História mais plural, que não silencie a multiplicidade das realidades.

A história tem uma função de resgate, enquanto elemento de formação da cidadania e a escola têm papel fundamental no exercício e na formação do cidadão. Deste modo, (Oriá, 1998 p. 134) considera que a história enquanto elemento para formação do cidadão leva o aluno a: compreender quem ele é? Para onde vai? O que faz? Mesmo que muitas vezes pessoalmente não se identifique com o que esse mesmo bem evoca, ou até não aprecie sua forma arquitectónica ou seu valor histórico, pois é revelador e referencial para a construção de nossa identidade histórico-cultural.

Educação enquanto instituição social no desenvolvimento da história local

É que a educação como fruto social que a sociedade sistematiza dando consistência à transmissão de uma herança cultural e que permite a continuidade da condição da espécie humana, que é flexível e finita. Em relação ao processo de desenvolvimento do conhecimento local o sentido social da educação é veículo à transmissão do conhecimento de qualquer sociedade com foco no desenvolvimento nacional, regional e local. Hoje, além da instituição educacional, há que se considerar todas as demais Instituições que ela se interligam como a família, os meios de comunicação de massa, a comunidade com suas normas e valores, as organizações públicas e privadas que, em conjunto, formam uma ligação que precisa ter seu respaldo no cenário social, pois não se deseja fragmentar ou isolar o conhecimento científico.

O que enfatiza a compreensão do “sentir-se sujeito histórico” e sua contribuição para a “formação de um cidadão crítico”, ou seja, um cidadão pensante, capaz de analisar e de se posicionar diante das situações vividas em cada momento pela sociedade. A História Local actua no resgate da auto-estima do povo de sua região, quando ao desnudar seu passado histórico, dá um novo sentido à questão de pertencimento local.

Conteúdos programáticos da História da Reforma Educativa de Angola não contempla nada sobre a história local de Cabinda, por esta razão sugiro o incremento nos currículos de ensino em Angola. Como podem observar no quadro anterior, não se vê nada que aborda sobre a história local de Angola em geral e particularmente de Cabinda. Assim sendo para Cabinda seguem a nossa proposta da história local que deveria ser incluídos nos programas deste ciclo para conhecimento das futuras gerações sobre a história dos seus antepassados tanto remotos como recentes segundo a (Chicata, 2017, p. 62):

Nessa linha de pensamento temos como propostas do conteúdo da história local a se incluir nos programas de história em Cabinda, os seguintes:

a) A origem de povo de Cabinda (cada povo tem suas raízes, sua história e cada um de nós tem uma história desde o dia do nascimento);

b) Os reinos de Cabinda antes da chegada dos europeus (Ngoios, Kakongo e Loango);

c) Divisões administrativas dos primeiros reinos de Cabinda, como eram feitas;

d) As fronteiras territoriais antigas dos reinos e as actuais de Cabinda (limites geográfica de Cabinda) através disto, os alunos passam a conhecer com que outras comunidades fazem fronteiras, que relações existem entre eles e outros povos próximos deles o que têm em comum e o que não têm;

e) Monumentos históricos (marcam a cultura, a sociedade, a político de Cabinda);

f) A cultura dos povos de Cabinda (a religião, a educação, o vestuário, a dança, a música, a língua, a arte, a comunicação, alimentação, a beleza etc.);

g) A chegada dos europeus em Cabinda

h) O surgimento das sete etnias de Cabinda;

i) A disputa entre as potências colonial em Cabinda nos séculos XVIII e XIX entre a Inglaterra, a Franca, Holanda, Portugal, entre outros.

j) Os tratados de protectorado assinados em Cabinda do século XIX entre os autóctones e os europeus (Portugal);

E nossa óptica acrescenta-se:

- Monumentos e sítios da província

-A Formação dos Movimentos políticos Cabinda até a fusão da FLEC-FAC, na luta de Cabinda face a dominação portuguesa.

A importância do estudo da história local nas escolas está na tentativa de fazer com que o aluno reaprenda e valorize a história de sua sociedade e de sua própria história, mostrando que o mesmo é participe da história, tornando também este ensino importante para sua vida, desconstruindo assim a ideia de que o ensino da história não lhe diz respeito, pois não está ligado a ele, rompendo, portanto, a forma de ensino tradicional de memorização sistemática de datas e fatos para a construção de um estudo participativo e investigativo por parte do professor

e do aluno, reafirmando a importância e a necessidade da interacção escola e comunidade, pois desta forma incentivará a reconstrução histórica da mesma.

Pois a história local configura-se como uma das ferramentas indispensáveis na construção da identidade dos alunos e sua compreensão, além de proporcionar um engajamento cívico perante a sociedade, portanto, torna-se indispensável inclusão da história local nos currículos escolares, tendo em conta o contexto que vivemos da reforma educativa em curso e com a democratização do país com vista a permitir os alunos tomarem contacto direito com a sua realidade ancestral, compreender a realidade do seu meio e consequentemente potencia e capacita o aluno na compreensão da história de outros povos.

BIBLIOGRAFIA

-BITTENCOURT, Circe Maria Fernandes (org). O saber histórico na sala de aula. (Repensando o Ensino), 11a Edição, 1° reimpressão – São Paulo: Contexto, 2008

-CHICATA, Dorcas Simba. A pertinência da inclusão da história local nos currículos escolares. Um estudo reportado dos professores em função da avaliação dos programas de história do 1o ciclo do ensino secundário da escola primária e secundária anexa à escola de formação de professores em Cabinda (2001- 2016), monografia defendida no Isced-Cabinda. UON, 2017.

-FERNANDES, José Ricardo Oriá. Um Lugar na Escola para a História Local. Recife: ANPUH (texto mimeografado), 1995.

-FONSECA, Selva Guimarães. Didáctica e Prática de Ensino de História: Papirus. São Paulo.2003

-LIMA, Sandra Cristina F. De. O livro didáctico e o professor de História. In: IV Encontro Nacional de Pesquisadores do Ensino de História. 1998.

-NEVES, Joana. História Local e Construção da Identidade Social. Disponível in: Saeculum Revista de História. João Pessoa: Departamento de História. Paraíba. 1997.

-NOGUEIRA, Natania da Silva. O ensino da história local: Um grande desafio para os Educadores. Belo horizonte.2001.

NSIANGENGO, Pedro (Coord) et ali. Manuel de História da 5a Classe. Reforma Educativa. Editora livraria Mensagem. Luanda, 2009.

NSIANGENGO, Pedro (Coord) et ali. Manuel de História da 6a Classe. Reforma Educativa. Editora livraria Mensagem. Luanda, 2012.

NSIANGENGO, Pedro (Coord) et ali. Manuel de História da 7a Classe. Reforma Educativa. Editora livraria Mensagem. Luanda, 2012.

NSIANGENGO, Pedro (Coord) et ali. Manuel de História da 8a Classe. Reforma Educativa. Editora livraria Mensagem. Luanda, 2010.

NSIANGENGO, Pedro (Coord) et ali. Manuel de História da 9a Classe. Reforma Educativa. Editora livraria Mensagem. Luanda, 2011.

-ORIÁ, Ricardo. Memoria e Ensino de Historia In: BITTERCOURT, C.(Org). 1998.

-SÍVERES, Luís. O compromisso social. Revista brasileira de política e administração da Educação. Rio de Janeiro: ANPAE, 2004. V. 20, n. 1, P.71. Jan./Jun.2004.

-VALLS, Álvaro L. M. O que é ética. São Paulo: brasiliense S.A. 1986.

- ZAMBONI, Ernesta. O Ensino de História e a Construção da Identidade. História-Série Argumento. São Paulo: SEE/Cenp, 1993.

SIMÃO CHICAIA CULANDI: com a categoria de Assistente: Licenciado em HISTÓRIA pela UAN ; Mestre Ensino de História de África, pelo ISCED-Luanda; Mestre em Gestão Ambiental pela San- Lorenzo UNISAL, Paraguai; Doutor em Ciências Politicas e Rel. Internacionais, San-Lorenzo UNISAL Paraguai; Professor do ensino Geral de 1992- 2011; Docente em regime integral na Universidade 11 de Novembro ISCED-Cabinda desde 2009 lecciona as cadeiras de História de África I, Praticas Pedagógicas; Educação Ambiental; Docente em regime de colaboração no Instituto Superior Politécnico Lusíada de Cabinda desde 2009, lecciona as cadeiras de: África Contemporânea, Politica de Cooperação de Angola, História da Cultura Angolana e América Latina Contemporânea; Desde 2009, Docente de Sociologia Geral, História Universal, História de África, História de Angola, no ITECHA (Instituto Teológico Evangélico Charles Harvey em Angola) afecta a Igreja Evangélica de Angola no curso Médio e Superior. Tem um livro publicado na Novas Edições académica, com título: Acções Educativas para Promover e Fortalecer a Educação Ambiental nas escolas de Cabinda. Novas Edições académicas, 2016. (ISBN:978-3-330-73762-4)