Luanda - Aposto que ninguém, nesta altura, decorridos exactamente 22 anos de Paz, esperaria “ouvir” da “boca” de um porta-voz do Presidente da República de Angola um discurso de ódio contra pessoas e uma organização política legal. Quem publicou a matéria sobre o AVIÃO DA PRIMEIRA DAMA foi o Club-k. A UNITA e o Dr. Marcolino Moco não têm nada a ver com isso. E mais: na República de Angola o crime não é transmissível. Pensar diferente não é crime. O ilustre porta-voz sabe disso!

Fonte: Club-k.net

A minha opinião não discute a veracidade ou não da compra do avião para a Senhora Primeira dama, Dra. Ana Dias Lourenço. O que me atormentou foi o ódio e a crueldade gratuitos do artigo do Porta-voz da Presidência da República.

 

O articulista chama um monte de nomes ao jornalista José Gama. Malevolência pura! E num dos parágrafos chama o partido UNITA de organização sanguinária, mesmo sabendo que o maior massacre que uma vez existiu na história de Angola foi o do 27 de Maio de 1977. Outrossim, o partido UNITA é tão-somente aquele que concorreu às eleições gerais de 2022 e “obteve” mais de 43,95% dos votos dos angolanos. Haja o mínimo de respeito pelos eleitores. Angola precisa de paz, amor e perdão. Os milhões de angolanos que votaram na UNITA não devem se apoquentar com estas adjectivações que nada contribuem para uma verdadeira reconciliação da grande família angolana.

 

Pelo respeito que tenho para com a Instituição que representa, mesmo discordando dele, vou o tratar com urbanidade. Nada de insultos ou chamar nomes pejorativos, tal como ele tem gosto e habilidade de o fazer. Foram tantos insultos num único documento! A dado momento, fiquei confuso. Não estava a acreditar que houvesse alguém no Palácio da Cidade Alta que usasse e abusasse de vocábulos vergonhosos que, nem por engano, deveriam sair da boca de um chefe de família ou de um “político-rasteiro”, por mais fanático que fosse. Lamentável! Um porta-voz, por norma, deveria ser uma pessoa cuidadosa, cortês, tolerante e de uma elevação exemplar. Mas, em Angola, as coisas não são bem assim. O pior exemplo vem da “boca” do porta-voz do presidente João Manuel Gonçalves. Ele não só destilou o seu ódio contra o patriota José Gama, mas também contra a União Nacional para a Independência Total de Angola. Insaciado, atirou-se contra o ex-primeiro ministro, o Dr. Marcolino Moco, a quem chamou de traidor antigo e sugere, a dado passo, que o falecido presidente JES já o teria descoberto e descalçado no auge do conflito armado. Tenho a absoluta certeza de que nem todos do MPLA pensam como o ilustre porta-voz , e isso não lhe faz um inimigo dos seus camaradas do partido.

 

Mesmo quando o Dr. Marcolino Moco foi “expulso” do cargo de primeiro-ministro, as motivações foram muito bem perceptíveis. O Movimento Espontâneo, na altura dos factos, organizou uma passeata de apoio à exoneração do primeiro Primeiro-ministro resultante das primeiras eleições de 1992. Nessa passeata, a palavra de ordem era: FORA COM O BAILUNDO, FORA! Estava tudo dito. Para um bom entendedor, meia palavra basta. A motivação foi tribal, ponto-final. E a ser tribal não poderia ser exposta. O Dr. Moco pensa o País de forma diferente, expõe as suas ideias ou teses e o faz à luz dia. Ele não insulta ninguém, não persegue ninguém. Simplesmente exerce a cidadania. Pensar diferente não é crime. A Constituição da República de Angola assim o diz. Não entendo este ódio visceral que o ilustre porta-voz nutre pela UNITA e pelo Dr. Moco ou pelo jovem jornalista José Gama (que vai fazendo o seu trabalho). Obviamente, o nosso mano porta-voz pode discordar de tudo – está no seu direito – desde que os seus argumentos falem muito mais alto que o ódio.

 

Ora bem, diante deste escândalo que envergonha a Presidência da República, qual será a postura do Presidente João Lourenço Lourenço? Será que vai preferir manter um porta-voz assim? Ou vai exonera-lo para demonstrar que não alinha com essa baixeza? E a UNITA, vai ignorar o insulto? Ou vai mostrar ao porta-voz do ódio que ninguém está acima da Lei!?

 

Sejam quais forem as razões, um porta-voz do Presidente não pode agir assim.

Paz e amor!

Luanda, 07 de Maio de 2024
Gerson Prata