Buenos Aires - O director do Centro de Formação de Jornalistas, Albino Carlos, deplorou quarta-feira, em Buenos Aires, o facto de o continente africano figurar nas primeiras páginas dos media mundiais apenas associado à guerra e à violência, à instabilidade e ao caos, à barbárie e à catástrofe.


Fonte: Angop


Director do Centro de Formação de Jornalistas (Cefojor), Albino Carlos.O ponto de vista do professor universitário foi exposto na sua comunição "África nos media-A descolonização do olhar" no Congresso de Comunicação e Ciências Sociais que se realiza desde o dia 30 deste mês na Argentina.


Albino Carlos referiu que estas abordagens quando não manifestam falta de equidistância no tratamento das questões, os jornalistas extra-africanos revelam um "gritante desconhecimento histórico-cultural das diversas e distintas realidades de África", assim como não se coíbem de expressar "uma dose excessiva de paternalismo à mistura com saudosismos e preconceitos".

 
Segundo ele, a própria imprensa africana não foge à lógica e dinâmica jornalísticas de privilegiar o insólito e o anormal quando não se curva perante os ditames dos grandes grupos mediáticos ou quando não consegue se desenvencilhar das amarras do próprio subdesenvolvimento inerente ao continente, facto que faz com que os jornalistas africanos se vejam em dificuldades com o fenómeno de construção de África em tons negativos.


No que concerne à problemática dos africanos na imprensa internacional, o responsável referiu que as notícias actuam como construção ou perpetuação de estereótipos que agem sobre as convicções socialmente existentes.


De acordo com o académico, a cada grupo corresponde um discurso que reproduz necessariamente a sua noção de realidade, pelo que os indivíduos actuam inconscientemente de acordo com os estereótipos que têm do seu próprio grupo e de acordo com a sua identidade social.


"Perante este quadro negro e partindo do pressuposto da importância dos media na construção da realidade social, na representação identitária e nos processo de produção de sentidos, importa questionar: que imagem têm os outros povos sobre África? E que imagem de si têm os próprios africanos em função da imagem construída pelo olhar dos outros?" - questionou.


Para ele, parte-se do pressuposto de que cada grupo constrói, reforça e reproduz uma concepção da realidade social tendo em conta os seus interesses, ambições, valores e crenças. Esses modelos construídos através de experiências são alimentados pelas relações quotidianas, processo no qual os meios de comunicação assumem um papel preponderante.


Albino Carlos questionou-se sobre os motivos que levam os ocidentais a teimar em bater na mesma tecla, fazendo passar uma imagem negra sobre a realidade africana.


Dentre as várias razões, diz que o que está em causa é também o medo do Outro, que resulta na criação de imagens negativas, até porque, muitas vezes, os media mais não fazem do que renovar as metáforas da cultura circundante: o facto é que o homem moderno se encontra perante uma tensão de tranquilidade e de terror como em todas as épocas.


De acordo com ele, os media jogam papel de relevo na criação e conservação da ordem simbólica, pelo que, na melhor das hipóteses, condicionam fortemente a forma de ver e sentir o mundo.

 

Defendeu que cada povo construa uma ideia de si e dos outros em função das imagens que sobre si e sobre os outros que se vão produzindo: as relações políticas, económicas e sociais induzem representações metafóricas que, por sua vez, induzem relações políticas e sociais que se repercutem na sociedade, ou seja, as imagens mediáticas constituem um dos elementos a partir dos quais são desenvolvidos mapas de referência das pessoas.

 

O director Albino Carlos integra uma delegação angolana que participa de 30 de Agosto a 02 de Setembro, na Argentina, no Congresso de Comunicação e Ciências Sociais. Da comitiva fezem parte, o chefe do Departamento de Intercâmbio do Ministério da Comunicação Social, António Bragança e o adido de imprensa na Argentina, Nazaré Van-Dúnem.

 

Organizado pela Faculdade de Jornalismo e Comunicação Social da Universidade Nacional De La Plata, o congresso aborda temas como Politicas e práticas de investigacao em comunicação e ciências sociais, Internet como objecto de estudo, Historia-comunicacao:debates interdisciplinares para construir uma agenda, o lugar dos meios de comunicacao social, da opinião pública e da política na construção de cenários eleitorais, Meios de comunicação, política e culturae e Meios e medos: agenda cultural policial e juventude.