Com a sua atitude JES parece pretender corrigir aquilo que na sua mente foi o erro da autonomia com que, em 1992, se desenvolveram as campanhas do MPLA e a dele próprio. Remete para tal erro, propiciador de "vendettas pessoais", o facto de o MPLA ter conseguido um resultado mais expressivo que o seu – obrigando-o a uma 2ª volta.
Um dos objectivos do controlo que decidiu exercer sobre a campanha do MPLA e, em 2009, também sobre a sua própria campanha, é uma articulação entre ambas destinada a garantir que os resultados respectivos correspondam às suas expectativas políticas e pessoais. JES pretende em 2009 um resultado acima do que o MPLA agora alcançar. A campanha eleitoral do MPLA, tendo em conta indícios considerados já suficientemente elucidativos, movimentará meios financeiros abundantes.
A atitude de JES de supervisionar a campanha também é atribuída à intenção de assim desencorajar previsíveis tentações de desvios para acumulação privada. Em 1992 Daniel Chipenda foi formalmente nomeado director da campanha eleitoral do MPLA. Pouco depois, porém, renunciou à função. O vazio da retirada foi, de facto, preenchido por Kundi Paihama – não por nomeação, mas por simples aplicação de um princípio de inerência (cabeça da lista de candidatos).
JES, que já acompanha de perto e interfere na política e na acção eleitoral do MPLA, deu instruções para que a Conferência Nacional do partido, convocada para Abril, em Luanda, redunde numa convincente "manifestação de unidade e coesão do partido" – que contará com a presença de convidados estrangeiros. As instruções de JES, transmitidas de forma taxativa, esvaziam previsões segundo as quais a Conferência Nacional seria aproveitada como oportunidade para efectuar mudanças de pessoas – afastamentos, nomeações ou promoções calculados para permitir ao MPLA capitalizar eleitoralmente.
Em lugar de fracturas ou de um clima de disputas internas, JES pretende que a Conferência Nacional apresente o MPLA como um partido coeso, aberto a todas as sensibilidades e com sentido de responsabilidade face aos interesses nacionais. A saber: - Ordenou que fossem convidados e estimulados a comparecer todos os quadros e dirigentes geralmente identificados como "opositores internos". - Quer que o momento solene da iniciativa seja a apresentação do programa eleitoral do MPLA – destinado a ser convertido em programa de governo para os quatro anos da futura legislatura.
Na sua actual composição o regime do MPLA federa grupos de interesses, sociais políticos e outros, em que JES se apoia e com cuja lealdade conta; o cenário de mudanças de pessoas acarretaria a desvantagem de pôr em causa equilíbrios que se pretende manter em sossego.
A campanha eleitoral incidirá especialmente no espectáculo e na propaganda e menos na acção política propriamente dita; a opção por esta linha é reflexo de uma forte crença de que a vitória do MPLA está plenamente ao seu alcance em razão de factores como os seguintes: - O sistema eleitoral está funcionalmente organizado para admitir a fraude. - A oposição, em geral, está enfraquecida ou desorganizada. - O impacto popular da campanha, delineada para ser impressiva. A propaganda e o espectáculo visam inculcar uma ideia de aceitação popular e vitalidade do partido – considerada conveniente para se estabelecer posteriormente uma harmonia entre o resultado que o MPLA alcançará por meios menos regulares e um aparente estado de ânimo da população e do eleitorado.
A preferência de JES por uma Conferência Nacional – declinou sugestões no sentido de um congresso – é vista como reveladora da sua escassa vontade de efectuar mudanças de pessoas no aparelho do partido. Numa conferência, as mudanças são pontuais ou podem nem ocorrer; num congresso são geralmente substanciais. De acordo com conjecturas pertinentes, ao poupar-se agora de mexer no aparelho do partido e/ou no governo, JES cuida também de ganhar espaço e ascendente político para efectuar, após as eleições, mudanças importantes no Governo – estas calculadas para lhe serem benéficas nas eleições presidenciais.
Fonte: Africa monitor