Lisboa –  Quando a propuseram para dirigir o Conselho de Administração da ANIP - Agenda de investimento privado em Luanda, esteve inclinada a recusar o convite para o cargo  e em contrapartida sugeriu alguns nomes, que julgava serem merecedores mas que foram  rejeitados. Acabou por aceitar o desafio após ter-se aconselhado com figuras a si chegadas.


Fonte: Club-k.net

Uma das mulheres mais influentes da sociedade angolana

A  inicial rejeição  que Maria Luísa Perdigão Abrantes se  manifestou  quanto a proposta  para o novo cargo é associada a  agenda de   retirar-se da vida “política estatal” para dedicar-se a advocacia e regressar a docência, que é a actividade que mais lhe agrada.  Trata-se de um habito cultivado  desde a era colonial  em que  foi   professora da escola comercial. 


A sua nomeação como  chefe da ANIP foi objecto  de reações  fora e dentro do regime.  O seu antecessor, Aguinaldo Jaime, havia sido informado de que se manteria em funções e no seguimento disso dera já início a preparativos como a escolha de administradores.


José Eduardo dos Santos justificou  a nomeação da nova PCA junto de pessoas que reagiram negativamente à decisão, incluindo familiares (sua Esposa, por exemplo) dizendo que se tratou de uma decisão do então  Vice - Presidente, Fernando Piedade Dias dos Santos; julga-se ter sido esta a razão que o levou a incumbir o ex- Vice PR de dar posse à nomeada (em lugar dele próprio).   “Nandó” é padrinho de casamento de Welvitshia dos Santos “Tchizé” – circunstância invocada para justificar a pretensa escolha de sua mãe como PCA da ANIP.


Embora tenha sido  nomeada em condições consideradas controversas, “Milucha”, como é popularmente tratada,  é considerada  dentre os quadros angolanos, como uma das  mais bem talhada para o cargo.  Ao tempo que a ANIP chamava-se Gabinete do Investimento Estrangeiro (GIE), foi ela a primeira directora tendo daí saído, a seu pedido em Julho de 1993.  Na verdade, o seu percurso  laboral,  data de 1976 quando ao tempo da então  coordenação provincial  de Luanda tornou-se numa das raras nativas á exercer  funções de directora adjunta de gabinete.  De  1979 até 1987,  esteve no Ministério da Industria ao tempo em que  os Petróleos, Energia e  Industria Mineira estavam congregados numa única estrutura  governamental. Dali transferiu-se para o Ministério do planeamento  onde chegou a ser chefe do departamento de investimento estrangeiro. Nestas vestes, negociou com um organismo das Nações Unidas (a UNCTC), responsável para as empresas transnacionais,  a cerca do financiamento para criação do então  gabinete de investimento estrangeiro que fundou junto com Aguinaldo Jaime.  Em Junho de 1990 foi  nomeada por despacho presidencial, para o cargo de Directora do recém formado  Gabinete do Investimento Estrangeiro.  Três anos depois, e por razões que se desconhece, a mesma seria  exonerada a seu  pedido por via de um despacho (Nº 4 /1993) passando a ser uma simples técnica.

Depois deste período partiu  para Portugal, onde deu continuidade aos seus estudos  pos graduação  e mais tarde se tornou  Representante da ANIP em Washington  com categoria diplomática de conselheira junto ao corpo diplomático da embaixada de Angola naquele país.


Vida acadêmica e associativa


Logo após a Independência, ela  fez parte do grupo das primeiras mulheres angolanas a concluir formação universitária pela Universidade Agostinho Neto, onde estudou direito. Seguidamente foi sondada para integrar o quadro de docentes ensinando direito econômico. (Carlos Feijó passou nas suas mãos como aluno).  Detém um mestrado em Ciências Económico-Jurídicas pela portuguesa Universidade clássica  e um Doutoramento em Direito Económico e Financeiro pela  Universidade lusíada de Lisboa. É igualmente pós-graduada nos seguintes cursos a saber: Direito Económico Internacional na Universidade de São Paulo (Brasil), Negócios Internacionais e em Finanças na Universidade de Georgetown (EUA), e Liderança na Gestão de Negócios, Universidade de Harvard (EUA).  É autora de varias obras dentre as quais “As Privatizações do Sector Empresarial do Estado em Angola”.


Luísa Abrantes é fundadora e presidente da FOCOA, Friends of The Children of Angola, uma ONG angolana baseada em Washington. Tem assento na ordem dos advogados de Angola, Portugal, Estados Unidos e na Amnistia Internacional. É igualmente  a Presidente do conselho fiscal do Banco Caixa Geral Totta de Angola S.A. – BCGTA


Vida política e privada


Na esfrega da  luta pela Independência Nacional, Maria Luísa Abrantes  esteve envolvida no núcleo embrionário da JMPLA em Luanda  com  figuras como Manuel Van-dunem, Cassange e Delfim. Foi também muito próxima ao conhecido grupo de partidários  ligados a “Casa de Angola em Portugal”, ao qual fazia parte  José  Leitão, José Carlos de Carvalho e Elisario Vieira Lopes  e Zuzarte Mendonça “Tilú”,  um recém formado médico  que se tornara seu esposo. Ambos tiveram um filho, Tito Mendonça, nascido em Maio de 1975. A relação terminaria em pouco tempo e dois anos depois, isto é,  em 1977,  “Tilú”  Mendonça seria morto na ressaca  do “27 de Maio”.


Os seus outros  filhos mais velhos, Tchizé (Welvitshia) e Zédu (José Eduardo Paulino), são fruto de uma longa ligação que manteve com José Eduardo dos Santos (JES) nos anos 70/80. A relação com JES nunca se consorciou formalmente  porque o BP do MPLA, então funcionando à imagem e semelhança do sacrossanto órgão similar do antigo PCUS, impediu que assim fosse, invocando razões de Estado. Em vida, a sua  mãe, Emilia   Abrantes recentemente falecida em Portugal, atribuía a separação do casal, a supostas  interferências movidas por Mendes de Carvalho. 


Nas eleições de 1992, Maria Luísa  Abrantes   apareceu ligada a campanha eleitoral  do extinto Partido de Renovação Democrático (PRD), uma formação política que aglutinava figuras afectadas pelo “27 de Maio”.  O aparecimento da mesma nas vestes de “opositora” foi interpretado  em certos meios como uma espécie de pirraça alimentada pelo recente casamento de JES com Ana Paula.


Ao mesmo tempo mudou  para Portugal e a seguir,  para os Estados Unidos da America.  A dada altura, antes de se tornar representante da ANIP, nos EUA,   enfrentou  algumas limitações de ordem financeira.  O então embaixador angolano em Washington, António França  “Ndalu”  solidarizou-se com a mesma tendo lhe colocado uma viatura protocolar  a disposição.  A marginalização por  que passou são, até hoje,   associadas a  um   sentimento de reservas identificados  no caracter de JES. 


Ao tempo em que foi “marginalizada”, foi-lhe vetado  o acesso ao  “Futungo de Bela”, num  processo  em que   Fernando Garcia Miala teria encabeçado, por orientações de JES.  No seu apartamento em Virginia, arredores de Washington, “Milucha” recusava receber diplomatas ou gente de etnia bancongo  sob o trauma de poderem estar   ligados  ao antigo patrão da secreta.  Quando Miala  caiu em desgraça  do cargo de chefe do SIE- Serviços  de Inteligência Externa,  ela   abriu  uma garrafa de champagne para comemorar a queda daquele.

 

Em meados da década de noventa contraiu matrimonio com um  costamarfinense que morreu ao fim de alguns anos e do qual nasceram gémeos.  Continuou a conservar o estatuto  de “mãe dos filhos do Presidente” que lhe adiciona respeitabilidade  e hoje, la  faz,   parte da lista das dez mulheres mais influentes da sociedade angolana.  Restabeleceu o  acesso a JES e foi por seu intermédio que em Dezembro de 2002, regressaria ao governo como ministro das finanças, José Pedro de Morais Júnior.


A PCA da ANIP  é descrita como um  trabalhadora dedicada e competente.  Ela é critica a corrupção escandalosa em Angola. Reprova a política e o uso excessivo de lobbies por parte de  Angola  nos Estados Unidos. (O regime do MPLA, por intermédio da embaixada angolana em Washington  paga  por mês, cerca de 300 mil dólares, a consultora  Samuel Associetes cujo trabalho presta).


A autoridade maternal que tem sobre os filhos e a reverência que estes lhe dedicam atribuiram-lhe o papel natural de “orientar” as suas vidas, através de conselhos e sugestões. A sua vida em geral é, porém, um pólo de irradiação de autoridade. É respeitada e, por vezes, temida. Como ficou claro, por alturas do convite para a ANIP, quando deparou com dificuldades de acesso ao Palácio presidencial.