O reforço do autoritarismo do regime está presente numa estratégia cujas grandes linhas, conforme sugerem factos públicos e não públicos assinalados na últimas semanas, são as seguintes:    

- Reduzir a oposição partidária a uma expressão mínima (nominal)
- Esvaziar o fenómeno do separatismo em Cabinda e confinar a  sociedade civil, em geral, bem como sectores da intelectualidade independente (incluindo jornalistas)  

- Desmotivar focos/alas de oposição interna no próprio regime.
Por efeito desta estratégia, ao contrário destinada a reforçar do poder do MPLA na sociedade e o de José Eduardo dos Santos (JES), no regime em geral, prevê-se agora que ocorra no país um esmorecimento da actividade política – também por via de uma concentração de atenções em domínios do desenvolvimento e do bem estar.


2 . O resultado de 81,64% não foi, como inicialmente se inferiu, uma imprevidência decorrente de excessos de zelo nas acções de manipulação da campanha e de distorção do escrutínio. Obedeceu a uma intenção calculada, destinada a produzir dois efeitos:
- Apresentar o MPLA como um grande partido nacional, no qual cabem todos os grupos e sensibilidades da sociedade (o espírito da “grande família”).
- Abafar indivíduos/facções com protagonismos contestatários no próprio regime (intenção já presente nos critérios selectivos a que foi sujeita a elaboração das listas de deputados).
A prazo, a hegemonia do MPLA e o enfraquecimento da oposição em geral, podem vir a revelar-se perversos tendo em conta factores potencialmente reactivos.
- A evolução da sociedade – em que está a afirmar-se uma nova geração mais aberta.
- O pronunciamento das desigualdades sociais (a elite e a classe média tenderão a tirar partido, em proveito próprio, do apoio que o regime espera delas).
Pertinentes análises da presente situação em Angola rejeitam o cenário de um regresso ao sistema de partido único – por simples desfasamento do mesmo com realidades internas e externas que se manifestam em sentido contrário.  Mas admite-se que o sistema multipartidário a vigorar doravante será em parte “nominal”.
Os dirigentes angolanos, que interiormente acreditam no autoritarismo como instrumento de exercício e conservação do poder, estão cientes de que as actuais mudanças em Angola contam não só com o aplauso de regimes como os da China, Rússia e Cuba, mas também com a “compreensão” dos chamados países ocidentais.
Factores a que é atribuída a atitude compreensiva dos países ocidentais: 

- Abrandaram antigas pressões no sentido da adopção em África de modelos de democracia implantados no ocidente; aceita-se que a África faça a sua própria aprendizagem democrática e que esta passe por diferentes fases.
- Os interesses económicos passaram a ser determinantes na definição das políticas dos parceiros internacionais de Angola; os interesses económicos preferem os negócios à política (o pós-eleições fez aumentar oportunidades de negócio em Angola).
Em privado, as autoridades angolanas consideram que a célere validação internacional dos resultados das eleições de Setembro, não obstante irregularidades detectadas, se deveu fundamentalmente a factores como o clima de tranquilidade interna que o Governo manteve e a importância dos laços económicos de Angola com os seus parceiros.


3 . A noção do vácuo criado e/ou a criar no campo  político pelo resultado do MPLA nas eleições legislativas, bem como por desenvolvimentos, alimenta crescentes dúvidas e hesitações no que concerne ao exercício da oposição – uma evidência capaz de vir a embaraçar o regime, como demonstração de “ausência de democracia”.
Para 2009 estão previstas eleições legislativas. É dado como certo que JES, tirando partido de um favorável ambiente interno e externo, em parte criado pelas legislativas, não só ganhará facilmente como alcançará um score ainda mais expressivo que o do MPLA, assim superando um episódio que lhe desagradou em 1992.
A ilação simples de que os adversários de JES nas presidenciais serão “cilindrados” e nada é possível fazer na prática para evitar tal desfecho, está a dar azo a casos de retracção de putativos candidatos, o que, a acontecer, poderá ofuscar a credibilidade das eleições presidenciais – por ausência de adversários à altura.
Na UNITA está referenciada uma ala que defende que Isaías Samakuva não se deve apresentar ou mesmo que o partido não deve candidatar ninguém. Vicente Pinto de Andrade, uma figura prestigiada, que anunciou há muito a intenção de se candidatar como independente, está agora a reconsiderar a intenção.

Fonte: Africa Monitor