Luanda - Os bispos de Angola e São Tomé classificaram recentes declarações de Isaías Samakuva, líder da UNITA (oposição), como “injuriosas” e “caluniosas” por, consideram, violarem e ferirem o “decoro institucional” e o “bom nome da Igreja em Angola”.


Fonte: Lusa

Em causa está a reacção de Isaías Samakuva aos comentários de alguns dignitários religiosos, nomeadamente o bispo emérito do Lubango, Zacarias Kamuenho, sobre a decisão da UNITA em apresentar uma queixa-crime contra o Presidente angolano José Eduardo dos Santos.


No comunicado de imprensa distribuído hoje, a Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST) refere ter sido com “preocupação” e “estranheza” que acolheram as declarações proferidas por Isaías Samakuva no passado dia 15, no encerramento das jornadas parlamentares do seu partido.


Na ocasião, Samakuva defendeu que José Eduardo dos Santos deve responder em público às acusações que a UNITA lhe imputa, designadamente o ter cometido os crimes de excesso de poder, traição à pátria, sabotagem, falsificação dos cadernos eleitorais e atas de apuramento dos resultados eleitorais, impedimento abusivo do exercício de direitos políticos dos cidadãos, falsificação do escrutínio e uso de documentos falsos.


O líder da UNITA disse então que se José Eduardo dos Santos nada disser, “os angolanos vão tirar as suas próprias conclusões”, de nada servindo, vincou, “arranjar bocas de aluguer para deturpar os factos, fazer comunicados ou discursos distorcidos para desviar as atenções das questões suscitadas”.


“Mesmo que estas bocas de aluguer sejam de estruturas partidárias, professores de direito, bispos, pastores, sobas, comerciantes ou mesmo de artistas de cinema. Os angolanos já viram este filme muitas vezes. A própria hierarquia da Igreja Católica, por exemplo, já reconheceu publicamente que a Igreja também está infectada pelo vírus da corrupção”, salientou então o líder da UNITA.


“Ouvir bispos, pastores e outros que deveriam ser um exemplo de moral pública, vir a público condenar a UNITA pelo facto da UNITA cumprir a Lei e denunciar crimes nos termos da Lei, ao invés de se inteirarem dos factos, é um sinal claro e triste da degradação de valores da nossa sociedade”, acrescentou Isaías Samakuva.


Na origem destas alegações estavam as declarações do bispo emérito do Lubango, Zacarias Kamuenho, que, citado pela Rádio Nacional de Angola se manifestou “desapontado” com a decisão da UNITA.


“Quando ouvi a notícia fiquei um tanto quanto desapontado, em querermos ainda desenterrar aquilo que é negativo em vez de construirmos e pensarmos nas próximas eleições, e agora pensarmos trabalhar para que a nossa paz, que tem servido de exemplo para os outros países, se solidifique e que seja verdadeiramente para melhor construirmos o continente africano”, disse.


No seu comunicado de hoje, a CEAST embora frise não ser sua missão “opinar sobre as disputas políticas dos partidos, nem advogar as suas causas”, defende ser “imperativo” exprimirem-se face à “degradação da linguagem que fere a Paz e a Reconciliação entre angolanos”.


“As declarações do presidente da UNITA são despropositadas, injuriosas e caluniosas; violam e ferem o decoro institucional e o bom nome da Igreja em Angola. Por esta razão, a Igreja Católica em Angola repudia e expressa o seu desagrado por tais declarações e apela ao respeito entre as pessoas e instituições”, lê-se no comunicado.


A concluir, a CEAST recomenda à imprensa que ao tratar a informação “respeite a verdade dos factos e, evitem a manipulação e uso indevido dos pronunciamentos da Igreja”.