Huambo  - A província do Huambo, situada no centro-sul de Angola, já foi con¬siderada, ainda conti¬nua a ser, uma das piores infrac¬toras em termos de liberdade de expressão e de imprensa. Fazendo fé as declarações dos mais va¬riados actores políticos e sociais, a liberdade de expressão e de im¬prensa naquela província termina (se é que ela existe) onde começa o mau-humor e os interesses econó-micos e políticos da elite instalada no poder.

*Nelson Sul D’Angola
Fonte: SA

Por exemplo, há cerca de três (3) anos, não podiam ser lidos, nem vendidos nas ruas ou em qualquer local público da cidade do Huambo, os jornais privados tidos como anti-regime por vei-cularem informações considera¬das incómodas ao poder político. Segundo informações, um indivi-duo que fosse encontrado a ler um jornal privado, particularmente o Folha 8 e o Semanário Angolen¬se, era imediatamente preso por agentes da Polícia Nacional ou pelos operativos da Segurança do Estado.

Fora da cidade capital da pro¬víncia do Huambo, mais concre¬tamente nos municípios do in¬terior, a situação era ainda bem mais grave. De acordo com os seus habitantes, um individuo encontrado a folhar as páginas dos jornais privados arriscava-se a uma acusação de tentar conspi¬rar contra a segurança do Esta¬do. Um habitante do bairro Bela Vista, nos arredores da cidade do Huambo, Domingos Gomes, con¬ta que, em 2006, havia sido inter¬pelado por alguns agentes a paisa¬na que mais tarde rasgaram-lhe o jornal Folha 8 tendo sido avisado para nunca mais voltar a ler o res-pectivo veículo de informação.

Devido ao clima de intimida¬ção e desconfiança que se vivia naquela província, os dirigentes do MPLA e do seu governo opta¬vam em ler os referidos jornais na «calada da noite». Um jornalista afecto a uma emissora pública lo¬cal, que pediu para não ser identi¬ficado, afirmou a este jornal, que alguns anos atrás os jornais priva¬dos eram distribuídos a retalho. Ou seja, apenas um grupo restrito instalado no poder podia ter aces¬so aos jornais privados e cada um deles se coibia de levar qualquer exemplar ao local de trabalho sob pena de perder tal privilégio.

Na província do Huambo é voz corrente que o clima de intimida¬ção e de pressão político-psico-lógica contra qualquer individuo que procurasse obter informação sobre o país, por intermédio dos órgãos de comunicação social que não estejam na alçada do governo, tem uma história. Após a guerra dos 55 dias e 55 noites, travadas entre as forças militares do gover¬no e da UNITA, no ano de 1993, consta que, para além da compo¬nente militar, o governo angolano focalizou a sua acção e estratégia nos serviços secretos. Assim, de¬pois daquele território ter sido considerado uma zona sob con¬trolo do governo, cada cidadão passou a ter como espião o seu vizinho e vice-versa. Instalara-se um clima de medo, terror, cani¬balismo, intimidação, inseguran¬ça e uma espécie de partido único que nalguns casos ainda perdura até aos dias de hoje.


Actualmente, apesar das cons¬tantes denúncias de intolerância politica, o que faz com que aquela província seja considerada uma zona vermelha, por isso perigo¬sa para o exercício da actividade jornalística, o Semanário Ango¬lense apurou in loco que o gover¬no provincial do Huambo tende a demostrar uma certa abertura no que diz respeito a esse direito constitucional que é o de infor¬mar e ser informado.


Januário Castilho, um dos poucos jornaleiros da cidade do Huambo, afirmou que apesar de nunca ter sofrido nenhuma agres¬são física ou ter sido intimidado pelas autoridades locais, é facto que em algumas áreas ainda é impossível vender os jornais pri¬vados, porque há lá militantes do MPLA que sentem-se ofendidos com algumas estampas.


«Os nossos clientes são mais as pessoas da classe alta. Posso di¬zer que são mais aquelas pessoas que trabalham na política, porque aqui no Huambo as pessoas ain¬da têm muito medo de ler esses jornais. Temos até clientes que trabalham no governo que ainda têm receio de comprar quando os chefes estão presentes, para evitar complicações», disse o ardina.


A postura das autoridades lo¬cais em «permitir» a venda e a leitura dos jornais privados em locais públicos, mereceu o co¬mentário do correspondente da Rádio Despertar, o jornalista Al¬berto Malaquias, para quem esse facto tem muito a ver com as di¬nâmicas e o amadurecimento das sociedades.


«Mesmo em termos políticos, a província do Huambo tem deno¬tado uma grande dinâmica entre os partidos políticos e toda essa dinâmica desemboca nessa neces¬sidade de informação porque as pessoas vão exigindo uma maior diversidade de informação», disse o profissional da comunicação so¬cial.