Os O2, dizem, representam a música jovem, “um grito da juventude” para que a sua Angola vá em frente, “todos com um objectivo comum que é enaltecer o nome da nossa terra e internacionalizar cada vez mais a nossa música”. Para eles, é um orgulho estarem presentes no Festival da Lusofonia, símbolo de irmandade.
A avaliar pela forma como dançam, os O2 têm oxigénio para dar e vender. Porque é que escolheram este nome?
Depois de alguns desentendimentos com um dos integrantes do nosso grupo anterior, nós os quatro saímos e formámos os O2. Escolhemos este nome para simbolizar que temos muita vida e força para continuar.
O grupo está a comemorar dez anos de carreira, dois Cd’s e um single — gravado em França depois de quatro anos sem registos — intitulado “La Defense”. Porquê este título?
Para defender o espaço que conquistámos no mercado angolano e no espaço lusófono em geral. Ao apostarmos em França queremos que a nossa música tenha uma qualidade comparável à que se faz em qualquer parte do mundo. Por isso pretendemos continuar a gravar lá.
Isso também se prende com o facto de, no vosso país, não terem estúdios que vos garantam essa mesma qualidade?
Já começam a haver alguns estúdios bons. O problema não está nos estúdios mas nos homens. Há muito pouca gente com conhecimentos técnicos capazes de nos satisfazer. Infelizmente temos que ir gravar fora.
Os O2 têm uma formação invulgar: dois teclistas e dois cantores. Dão mais importância à voz e à dança que à música?
Somos um grupo de jovens angolanos que de facto dá muita importância à dança do semba, fazemos uma kizomba ritmada, um estilo de música urbana que é muito bom de se ouvir e de se ver. Seguimos outros músicos da nossa terra que faziam uma música electrónica muito boa. Por intermédio dessa música criámos um novo estilo que tem uma dança bonita que, também ela, tem vindo a evoluir.
Tal como nos tempos antigos é uma dança a dois...
E que é muito boa de se ver.
Já ganharam alguns prémios e venceram concursos. O que é que isso representa?
Ganhámos prémios quer ao nível do mercado angolano quer no estrangeiro. Atingimos os tops dos rádios, estivemos presentes na primeira nomeação para a categoria de músicos africanos na MTV Europe Awards. Foi em Lisboa. Concorremos, infelizmente não ganhámos mas foi muito bom estar naquele convívio. Também ganhámos alguns prémios no mercado sul africano, como o de melhor vídeo, e fomos várias vezes nomeados.
Para isso tem contribuído o facto de estarem a trabalhar com alguns dos profissionais de referência do vosso continente?
Procuramos trabalhar com os melhores músicos das Antilhas, dos Camarões, do Congo. Esse é o nosso cartaz.
No contexto angolano os O2 representam o quê?
Representam a música jovem. É um grito da juventude de que devemos levar o país para a frente, pautando-nos pela diferença e mostrando que é possível conviver nessa diferença, todos com um objectivo comum que é enaltecer o nome de Angola e internacionalizar cada vez mais a nossa música. É por isso que fazemos um som direccionado nessa vertente da conquista de novos mercados.
Tracem-nos um paralelo entre semba, kizomba e kuduru.
Angola, ritmo, a nossa energia, a nossa forma de estar. A nível cultural são as três caras que temos. O nome do país tem sido bem divulgado por intermédio desses três estilos. É fundamental para nós melhorar esses géneros musicais pois, apesar de termos outros, igualmente muito bonitos, esses ritmos fazem parte de um processo de crescimento gradual. Porque o resto virá depois. Por enquanto, kizomba, semba e kuduru. Nós fazemos kizomba, a diferença e a divergência é natural em qualquer país mas o mais importante é irmos em frente.
Como é que encaram o futuro da vossa música em particular e da música de Angola em geral?
Cada vez mais vamos procurar internacionalizar o nosso grupo, criando uma filosofia mais abrangente para um dia podermos tirar o rendimento devido da nossa marca. O futuro vai passar por aí, por nos tornarmos cada vez mais profissionais, conquistarmos outros mercados. A música angolana tem evoluído muito mas ainda tem uma grande lacuna.
Que lacuna?
A parte empresarial. Isso faz com que a nossa música se resuma a um carácter regional pois dificilmente sai de Angola. Poucos músicos angolanos conseguem, pelos seus meios, divulgar e distribuir a sua música por outros mercados com algum sucesso.
Waldemar Bastos ou Bonga, por exemplo, conseguiram esse feito.
Esses têm levado o nome de Angola mais longe, mas no universo de quase três mil cantores esses nomes representam muito pouco. Devíamos fazer muito mais. Se o Governo apostar em políticas para a vertente da promoção e da divulgação da música angolana acreditamos que temos potencial para estarmos bem no mundo.
Como é que interpretam o sucesso dos Buraka Som Sistema?
Eles representam a inovação e o grupo O2 gosta disso. Têm talento, têm um bom mercado, estão a sobressair no mundo. Por terem dois compatriotas angolanos desejamos-lhe a máxima força para continuarem no caminho do sucesso. Porque eles, sendo um grupo português que está a influenciar outros músicos, e como falamos a mesma língua, isso dá-nos mais possibilidades de levarmos a nossa música além fronteiras. Os Buraka Som Sistema fazem um estilo que em Angola já se cultiva há muito tempo mas que nunca conseguiu ter a mesma divulgação que eles tiveram. Porque eles estão na Europa e conseguem fazer a sua música passar com mais facilidade. Acho que eles estão a ajudar-nos a abrir a porta para chegarmos ao mundo.
O que é que representa para vocês o conceito de Lusofonia?
A mesma língua, os mesmos hábitos, irmandade. Temos muita coisa em comum para além da língua, como a forma de estar e de ser. Independentemente de termos nascido em países diferentes somos um só.
*José Manuel Simões
Fonte: hojemacau.com/