Luanda – O economista português Manuel Ennes Ferreira alertou nesta terça-feira, 06, em Luanda, para o risco de "haver alguma deturpação política" na utilização do Fundo Soberano de Angola. O economista, que apresentou uma comunicação sobre "O papel dos fundos soberanos no desenvolvimento", no seminário organizado pela Faculdade de Economia da Universidade Agostinho Neto, defendeu, em declarações à imprensa, a necessidade de acautelar esse risco, comum à generalidade dos fundos soberanos.

Fonte: Lusa
Instado a enumerar as reservas que tem relativamente aos fundos soberanos, Ennes Ferreira, professor no Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG), da Universidade de Lisboa, destacou duas reservas que se colocam na generalidade a todos os fundos.

"Uma é a capacitação técnica de quem está na equipa que integra o fundo soberano de ter a capacidade suficiente para perceber a aplicação associada ao risco e a outra que é o problema que pode haver de alguma deturpação política na utilização dos fundos", respondeu.

Neste caso, acentuou, os fundos passam a ter "um carácter de decisão política que ultrapassa a racionalidade económica e isso, obviamente não vai de encontro aos princípios de um fundo". "Mas isso é uma coisa em geral e já que o Fundo Soberano de Angola está a ser lançado, é bom que tenham em conta esta possibilidade de ocorrer. Oxalá não ocorra, obviamente", disse.

O Fundo Soberano de Angola (FSDA), no valor de 5 mil milhões de dólares, vai passar a ser controlado por José Filomeno dos Santos, o filho mais velho do Presidente angolano José Eduardo dos Santos.

O fundo, que sucede ao fundo petrolífero, foi criado em Outubro de 2012 para investir domesticamente e no exterior do país os recursos gerados pelas exportações de petróleo em infraestruturas e outros projectos tendentes a diversificar a economia angolana, fortemente dependente dos hidrocarbonetos.

Quanto ao facto do FSDA ser controlado pelo filho mais velho do chefe de Estado de Angola, Manuel Ennes Ferreira considera que tal configura "responsabilidade acrescida" para José Filomeno dos Santos "mostrar que é competente, e não por ser o filho do Presidente".

O outro orador no seminário foi o também economista João Duque, presidente do ISEG e que falou sobre os mercados financeiros e crescimento económico. Também em declarações aos jornalistas e confrontado com o adiamento para 2016 da abertura da bolsa de valores de Luanda, disse que preferia que se desenvolvesse mais depressa.

"Gostava que se desenvolvesse mais depressa, porque o desenvolvimento dos mercados financeiros está ligado ao desenvolvimento dos países", disse. A actual forte dependência de Angola de um único produto de exportação, o petróleo, é para João Duque razão suficiente para a criação de um mercado financeiro, porque vai, considerou, "potenciar a diversificação".