Luanda - Perdoem-me os leitores repetir no primeiro parágrafo deste artigo a totalidade do título. Mas, tem de ser. Quem não assume as suas responsabilidades é irresponsável. Esta constatação quase lapaliciana serve para, em abono da verdade e da transparência, apreciar a conduta recente do senhor ministro do Interior, Ângelo Veiga Tavares.

Fonte: Club-k.net

Ao longo dos últimos meses, o tempo tem-se revelado profícuo em revelar situações de irregularidade – desvios de fundos da Caixa Social do Ministério do Interior, vinda a público de vídeos mostrando torturas a reclusos na Cadeia de Viana, desaparecimento de verbas destinadas à compra de viaturas policiais – que afectam a imagem do senhor ministro perante o público e a liderança do Executivo.

O trabalho de argumentação que tem vindo a ser desenvolvido pelo Dr. Ângelo Veiga Tavares é o habitualmente utilizado quando não se tem a capacidade de resolver os problemas: lançar o mito da “pesada herança” e culpar responsáveis anteriores do seu pelouro. Porém, é no mandato e sob a responsabilidade de Ângelo Veiga Tavares que todas as situações aconteceram e é sobre os seus ombros que parece estar quase a cair uma espada de Dâmocles criada pela sua fraca capacidade de decidir e agir em conformidade com as situações. Em Outubro de 2012 quando tomou posse, o senhor ministro afirmava que iria impor «disciplina e rigor na gestão do erário público, prometendo dar um combate enérgico aos crimes violentos que nos últimos tempos têm assolado a sociedade angolana».

De facto, a criminalidade nas ruas desceu, mas cresceu a criminalidade no interior das prisões e do próprio ministério. Deslocalização de problemas, portanto. Para além disso, o discurso revela, face às atitudes e soluções implementadas, um elevado nível de demagogia. Assim como o revelam os discursos que surgem, na comunicação social, elogiando a técnica de “tapar o sol com a peneira” adoptada pelo governante. Governar, como os grandes estadistas poderão comprovar, é uma tarefa difícil, apenas bem executada pelos melhores. Aqueles que para além de enérgicos, sabem ser responsáveis e não limitam a sua actividade a uma tal inércia que leve a que o Presidente da República, Sr. Eng.o José Eduardo dos Santos, tivesse de dar ordem para inspeccionar o ministério do Interior.

Esse é um trabalho do governante especialista. Não do líder da nação, a quem deveriam isso sim, ser apresentados os resultados do auto-controlo realizado pelo ministério. A inércia é má conselheira daqueles que pretendem fazer avançar o país. Que este caso seja um dos contemplados por essa atitude, é algo a lamentar.

Rudolfo Zacarias Sarko, 14 de outubro de 2013