O programa de reconstrução nacional, como é conhecido o referido forcing, está concentrado em vias de comunicação, habitação social e redes hospitalar e escolar, é atribuído a razões político-eleitorais (demonstrar capacidade de iniciativa para atender a necessidades de que depende uma melhoria de condições básicas da população).

Os problemas a que o programa de obras públicas está a dar azo são considerados decorrentes de uma “lógica perversa”, referenciada na respectiva política por um  estudo habilitado sobre o assunto – a qual é a de apresentar trabalho, independentemente da sua qualidade. Elementos identificados na referida lógica:
 
- Escassa influência de critérios planeamento estrutural e de espírito de desenvolvimento nas obras eleccionadas/lançadas; prevalência de motivações políticas e de interesses materiais múltiplos.

- Deficiente qualidade das obras, incluindo tempo de vida útil das mesmas, após conclusão; na sua maior parte, as obras deficientes são executadas por construtores chineses e angolanos.

A má qualidade da obra acabada é atribuída a factores apresentados pela seguinte ordem decrescente de importância: inaptidão das empresas; duvidosa qualidade de materiais usados; ausência de acções de fiscalização; imposição de prazos muito curtos de execução (no interesse duplo de empreiteiros/dono de obra).

2 . Há c 10 dias uma ponte reconstruída na provincia do Huambo, rio Congué, ruiu pouco depois de a obra ter sido dada por concluída e recebida pelo Estado. Na mesma provincia, algumas escolas rurais, a cargo de construtores angolanos, tiveram de ser demolidas devido a graves defeitos de construção que apresentavam.

Ao longo do troço Cazenga/FILDA da linha do CFA-Caminho de Ferro de Angola uma empresa chinesa está presentemente a construir, em banda, prédios destinados a habitação social. A obra chama a atenção pelo ritmo acelerado com que avança, mas sobretudo pelo emprego de não usuais técnicas de construção.

Em lugar dos convencionais pilares de cimento armado (betão/ferro), a estrutura dos prédios é constituída por blocos de alvenaria, reforçados com varões de ferro de diâmetro considerado ínfimo tendo em conta o porte da construção.

A obra é do GRN- Gabinete de Reconstrução Nacional, dirigido pelo Gen M H Vieira Dias “Kopelipa”. Os empreendimentos do GRN são em geral financiadas por fundos oriundos da China – linhas de crédito e de outra natureza. As grandes empreitadas são adjudicadas a uma holding, China International Fund Ltd, a qual, por sua vez, subcontrata empresas chienesa já presentes no mercado ou introduzidas ocasionalmente.

Não há uma estimativa considerada consistente em relação ao número de tais empresas – muitas das quais apresentadas como “fantasma”, simplesmente por não terem existência legal nem estarem sediadas fisicamente. A própria China International Fund Ltd operava até há pouco com lacunas legais.

3 . O GRN tem uma coexistência considerada turbulenta com o MOP-Ministério das Obras Públicas. O campo de acção de ambos é praticamente o mesmo e isso dá azo sobreposições – agravadas pela animosidade que comsabidamente existe entre M H Vieira Dias “Kopelipa” e o ministro das Obras Públicas, Higino Carneiro.

O troço Viana-Benfica da auto-estrada Viana-Cacuaco, sofreu atrasos em resultado do clima de “competição” entre o GRN e o MOP. O GRN, p ex, ordenou o encerramento de uma pedreira no Dondo de que a Odebrecht dependia, como empreiteira da obra; o processo da sua transferência para Cabo Ledo atrasou os trabalhos.

As obras cujo dono é o GRN não são geralmente fiscalizadas ou quando o são é de forma considerada aparente. As construtoras chinesas também não apreciam a fiscalização das suas obras; argumentam que empregam técnicas e métodos de que os fiscais de outras origem não estão inteirados e em relação às quais levantam problemas.

Na reconstrução do troço Luanda-Viana do CFA a empresa chinesa que executou a empreitada empregou técnicas e métodos considerados “em desarmonia” com padrões da tecnologia ocidental: troços de via pré-fabricados muito extensos; assentamento dos mesmos em terrenos pouco compactados ou balastrados.

4 . A entrada de empresas chinesas no mercado angolano da construção foi encarada com alguma apreensão por outras empresas de construção estrangeiras já presentes no país. Apesar da vastidão do mercado, os chineses apresentavam a vantagem de poder praticar preços mais baixos, proporcionais aos seus inferiores custos de produção.

A referida apreensão esbateu-se. A reputação das empresas chinesas não é, no seu cômputo geral, boa. O factor determinante de tal imagem é a qualidade má/menos boa do seu trabalho (propalados muitos casos, em concreto); paralelamente, os seus sistemas de organização e funcionamento.

Os chineses, de per si, especialmente os operários especializados e os trabalhadores indiferenciados que em conjunto constituem a mão-de-obra das construtoras da China em Angola, são bem aceites pela população angolana devido ao seu estilo de vida. Este factor atenua a má impressão causada pelo trabalho das empresas chinesas.
As empresas chinesas estão contratualmente obrigadas a empregar 70% de trabalhadores angolanos. A quota não é cumprida. Os chineses alegam ter dificuldade em recrutar angolanos, que aparentemente não se querem sujeitar a condições de trabalho que implicam jornadas longas e baixos salários.

Uma subsidiária da espanhola Dragados, a Makiber, que entrou em Angola em 2006, experimentou então algumas dificuldades, remetidas para a concorrência chinesa, tendo em vista a adjudicação da construção/reconstrução) de vários hospitais municipais. A concorrência chinesa não é hoje em dia tão considerada por outras construtoras.
Como factor que contribuiu para a alteração do ambiente em desfavor das construtoras chinesas, também são apontados conhecidos casos de atraso de obras como o da reabilitação do CFB-Caminho de Ferro de Benguela ou a conclusão do Palácio da Justiça, em Luanda, cuja estrutura foi posta de pé ainda na administração portuguesa.

Fonte: África Monitor