Lisboa - Para o jornalista e activista Rafael Marques, crítico do regime, esta foi “apenas uma ameaça” do Presidente angolano, que não tem interesse na cimeira. “A cimeira tem mais de vontade portuguesa do que angolana”. Tratou-se de um golpe estratégico para “desviar as atenções sobre os problemas da corrupção do seu Governo”. “Por exemplo, amanhã [quarta-feira] a Conta Geral do Estado será aprovada sem que a Presidência tenha feito a prestação de contas, assim como a maioria dos ministérios, conforme exige a lei.”

Fonte: Publico

Por outro lado, acrescenta, o regime angolano “nunca esteve tão dependente de Portugal como hoje. Os principais gestores das fortunas angolanas, incluindo a de Isabel dos Santos, são portugueses. O Presidente falou da boca para fora. Os grandes contratos nacionais com o exterior passam por escritórios de advogados em Portugal, assim como as ligações financeiras de Angola com o exterior passam por Portugal.”

Já o professor universitário e analista em relações internacionais angolano Belarmino Van-Dúnem lembrou à TPA que esta foi a primeira vez que o Governo angolano se pronunciou oficialmente sobre “esta tensão” (provocada pelas declarações de Rui Manchete). Fê-lo “muito bem, numa atitude de legitimidade”.

O Presidente angolano foi claro ao dizer “que não existem condições para se dar continuidade à parceria estratégica entre Angola e Portugal” e, para Van-Dúnem, “deste ponto de vista é real porque não é confortável para os empresários angolanos continuarem a investir em Portugal, não é confortável para o Estado angolano continuar este relacionamento quando existe esta tensão do ponto de vista público.

Não existe aquilo que se chamaria o bom nome”. A criação da imagem, continuou, “é essencial para o desenvolvimento das relações entre os estados” e o professor responsabiliza “uma imprensa portuguesa” por “alguma atitude deliberada de manchar ou pelo menos fragilizar a imagem do Estado angolano”, algo que “tem influência directa naquilo que são as relações económicas”. Conclui que o Estado angolano não quer interferir no funcionamento das instituições democráticas, quer “simplesmente ter tratamento igual”.