Em entrevista á reportagem do site unitaangola sobre o conflito armado na RDC e o possível envolvimento das Forças Armadas Angolanas na região, o Embaixador disse que “ a posição da UNITA é que as Forças Armadas Angolanas que actuam no Congo deviam ter o mandato das Nações Unidas, porque se não transforma-se num factor de desestabilização permanente e que isto tem repercussões não só em Angola, mas também em todos os países que fazem fronteira”.

P- Senhor Embaixador, o que é que deu origem aos conflitos na República Democrática do Congo?

R- O Conflito tem vertentes imensas, sabendo que há uma população que habita o Leste do Congo que é originária do Rwanda que já está ali e reivindica os seus direitos; os interesses geo- estratégicos de países da região, interessados em defender os seus interesses numa perspectiva mais abrangente, mais internacionalista como é o caso do próprio Rwanda, Angola que tem neste momento forças na RDC, portanto, há aqui interesses Geopolíticos e Geoestratégicos. Portanto, as alianças que se fazem não têm nenhuma dimensão ideológica, assentam nestes interesses imediatos dali este clima de permanente conflituosidade.

Acredito que as Nações Unidas estão a procura de soluções assim como os próprios Africanos e veremos o que é que se poderá conseguir daqui para frente. Se tiverem em consideração as preocupações de todos os intervenientes, poderá se dar um passo importante para a solução deste conflito que tem uma dimensão Inter-étnica muito profunda.

P- Ouve-se que as FAA estão a apoiar as forças de Kabila e que alguns estão a ser capturados em combate. Confirma esta informação?

R: O que sabemos, é que, forças militares angolanas ficaram no Congo desde 1998 quando houve confrontos que levaram a que Kabila tomasse conta do poder na altura em que substituiu o presidente Mobuto. Naturalmente Angola tem um envolvimento grande no Congo, não só na formação das forças armadas, como também tem uma presença militar decorrente desta situação que foi herdada desde a altura da queda de Mobuto. A aliança das FAA com as milícias May May, desprestigia as próprias FAA. E a nossa posição enquanto UNITA é que “ as FAA que actuam na RDC deviam agora ter o mandato das Nações Unidas, UA, SADC o que implica que as forças armadas angolanas presentes actualmente no Congo deviam se retirar e terem que ir neste país já no quadro dum mandato bem definido das Nações Unidas porque se não, estas forças sem o mandato internacional transformam-se num factor de desestabilização permanente.

Angola ou esta região teve no passado exemplos muito tristes porque o sistema do Apartheid durante algum tempo utilizou isto em conjunturas diferentes, também políticas de desestabilização; significa que é envolver-se nos conflitos internos dos países vizinhos aqui da região Austral. Angola não devia seguir esta visão, significa, estar no Congo, estar no Congo Brazaville, estar em Zimbabwe. Portanto, a diplomacia da força tem de ser substituída por uma diplomacia internacional mais credível, legítima que permite efectivamente no concerto com todos os Estados e Nações interessados em ajudar a resolver o problema do Congo, encontrar uma solução permanente.

Angola tem com o Congo uma fronteira de 1250km, que não controla, em que para o caso angolano que vive uma fase de transição e que nós temos que preservar a nossa independência nacional, a estabilidade que conquistamos com muito sacrifício; devíamos ajudar o Congo no bom sentido para não transportarmos do Congo o problema dos congoleses para o nosso país, o que pode criar consequências muito negativas.

P- O que a UNITA pode fazer ao nível das instituições do Estado, mormente a A. Nacional, para solução do conflito que afecta a região central com consequências para os países vizinhos?

R- A nossa posição é que esta questão tinha de ser levada ao parlamento para ser discutida e o governo angolano devia clarificar todo este quadro que está a se viver na região, sobretudo a presença de forças angolanas. Em que níveis, é que os angolanos estão envolvidos no conflito do Congo, porque conquistamos uma paz com muito sacrifício e não gostaríamos que o nosso país sofresse novamente consequências de situações que viessem do exterior, pelo que um debate de urgência é necessário fazer-se na Assembleia Nacional para informar aos angolanos duma forma geral o que é se passa no Congo e quais são os níveis de responsabilidade em termos de envolvimento das FAA naquele país. Também se houver o mandato das Nações Unidas para que Angola mande as suas forças para o Congo já numa perspectiva internacional, o parlamento tem de se pronunciar sobre esta decisão.

P- A presente crise tem alguma relação com os resultados contestados das eleições presidenciais e legislativas na RDC?

R- Penso que não, o que há aqui é mesmo a luta pelo poder. Significa, Kabila pai foi assassinado, Kabila filho tem agora dificuldades, portanto, é preciso ver o que é que está mal para se poder resolver estes problemas duma vez por todas.

P- Acha que as posições da ONU, UA SADC podem ser respeitadas pelas partes em conflito?

R- Acredito que sim, se houver uma aproximação racional coerente que tenha em consideração as preocupações dos intervenientes. Tivemos o nosso exemplo em que negociamos anos e anos com as Nações Unidas a mediar na medida do possível aproximar as partes. Acredito que o presidente Obasanju que está a mediar o conflito como enviado dos países Africanos tem conseguido dar alguns passos importantes.

Muito obrigada.
 
Fonte: Unitaeuro