Luanda – Cerca de cinco reclusos foram mortos (à tiros) pelas forças policiais angolanas durante uma insurreição registada na manhã desta segunda-feira, 30/12, na Comarca de Viana, localizada no município com o mesmo nome, nos arredores de Luanda. No entanto, dados (não) oficiais apontam para 52 feridos (há quem contabilizou 65), dos quais 18 em estado grave.

António Gonçalves
Fonte: Club-k.net
Este portal soube através de uma fonte no local que a maior parte dos feridos foram alvejadas com balas verdadeiras (ao invés de borracha), num assalto combinado da Polícia de Intervenção Rápida (PIR), Polícia da Ordem Pública e serviços prisionais. Alguns feridos foram transferidos para a cadeia-hospital do São Paulo e para o Hospital Militar.

A nossa fonte revela que o tumulto foi originado pelos integrantes dos grupos “Criminal Família” e “Kamabatela”, em protestos contra as constantes violações dos direitos dos reclusos que ali se encontram. Sobretudo no período da quadra festiva.

“O tumulto derivou-se porque no dia da visita especial muitas famílias não conseguiram entrar para visitar os seus familiares e quando tentaram forçar a entrada foram agredidos com porretes pelos funcionários dos Serviços Prisionais e dispersados com gás lacrimogénio”, contou a fonte.

Esta atitude originou um sentimento de revolta no seio dos detentos e os dois grupos rivais assinaram uma trégua entre ambos. Os membros do “Criminal Família” e “Kamabatela”, em conjunto, contactaram a direcção deste estabelecimento prisional a fim de solicitar que lhes fossem permitidos receber seus familiares. “Infelizmente, assim não aconteceu e deu no que deu”, lamentou a fonte.  

A fonte deste portal revela ainda que os “quartos conjugais” daquele estabelecimento prisional foram desactivadas pela direcção da Comarca e entregues aos indivíduos de Serviço de Inteligência que ali sem encontram detidos.  

Por outro lado, a nossa fonte denuncia que no Bloco A, onde se encontram o maior número de presos, encontra-se superlotado. “Neste bloco os presos dormem uns por cima doutros, porque aqui na cadeia a Lei nunca beneficia os reclusos”, ironizou.

CRONOLOGIA DOS TUMULTOS NAS CADEIAS ANGOLANAS

O ano de 2013 foi particularmente trágico para a população prisional. Este é o sétimo motim ocorrido nos estabelecimentos prisionais do país desde o início do ano.

- Um total de 15 reclusos evadiu-se do estabelecimento prisional de Viana, a 25 de Junho, após breves tumultos.

- A 18 de Outubro, 11 reclusos fugiram do cadeia da Damba, na província de Malanje, após um motim.

- Vários detidos amotinaram-se na Comarca Central de Luanda, a 29 de Outubro. A PIR disparou sobre os amotinados causando vários feridos graves. No dia seguinte, novos tumultos na mesma cadeia, resultaram em dezenas de feridos, segundo notícia da Voz da América.

- O Ministério do Interior reconheceu o ferimento de mais de 14 presos, na sequência de um tumulto na Cadeia de Viana, a 1 de Novembro passado.

- A 3 de Dezembro, um motim na Comarca de Luanda, causado por um prato de comida, causou a morte de 12 detidos, segundo informações avançadas pelos presos, noticiou segundo o Novo Jornal. Os serviços prisionais confirmaram apenas a morte de nove cidadãos e mais de 35 feridos, 15 dos quais em estado grave.

- Na província do Uíge, na Cadeia do Congo, um grupo de detidos ateou fogo no interior de uma cela e causou um motim a 9 de Dezembro. A polícia local confirmou publicamente ter alvejado, na perna, um dos detidos. A Cadeia do Congo tem 680 detidos mas tem capacidade para albergar apenas 300 detidos, segundo o Jornal de Angola.