Luanda - Dizia um velho professor que uma das atrocidades cometidas pela mania de intelectualidade é fazer‐se análises públicas em áreas que nada têm a ver com a nossa área de expertise. Ora de um tempo a esta parte, temos vindo a assistir a um painel de “analistas” de tudo (que chamarei de tudólogos). Falam da área de economia, direito, construção civil, história, antropologia, sociologia e até de pesquisa e produção de petróleo. Não há humildade suficiente para se reconhecer e dizer que não “nado em mares que não conheço”.

Fonte: Club-k.net

Uma coisa é dar‐se uma opinião genérica sobre um determinado fenómeno, outra é pretender fazer uma análise científica sobre esse fenómeno. O mais caricato de tudo isso é que muitos desses “tudólogos” são jovens que, muitas vezes, querem mostrar que têm conhecimento sobre todos os meandros do país e do mundo. Para além de tudólogos, também parecem ter criado uma outra ciência a “buculogia” (a ciência de mandar bocas sobre todas as coisas). Esses “bucólogos” dizem‐se analistas mas só apresentam a análise olhando de um único ângulo, ou seja o que louva e diviniza as acções do executivo e do seu líder.

 

 

Não é possível, numa análise, olhar‐se somente o lado positivo de um lado e diabolizar‐se o outro. Vimos isso em relação aos acordos com a China, à situação dos jovens do movimento revolucionário, ao caso Kalupeteka, aos vários pronunciamentos das entidades públicas e a muitos outros casos. Mais vale denominarem‐ se “opiniadores” do que analistas. Numa opinião expressa‐se o que vai na nossa mente e não há necessidade de cientificidade. O comportamento dos nossos “tudólogos” e “bucólogos” não deve admirar‐nos porque, infelizmente, estamos numa sociedade em que o estômago está a ditar a forma como a mente deve pensar e o que a boca deve dizer. Ou seja, quem quer ter grandes oportunidades de imediato deve falar do que convém e, com isso, cair nas graças dos que detêm o poder político e económico do país.

 

O estômago e o imediatismo são um dos grandes problemas que enfermam a nossa sociedade. Há uma vontade desmedida de termos carros topo de gama como Lexus, VX, V8, Rangers, BMW e vestirmo‐nos de roupas e acessórios de marca como cucchi, guess, louis vuiton, e outros. Aliás várias são as vezes que criticamos o executivo e o seu líder pela maneira tão tímida como tem injectado sangue novo na liderança do país. A verdade porém, é que muitos jovens ao chegarem ao “topo da pirâmide” no governo ou numa empresa pública, com a mania do exibicionismo e do imediatismo, têm‐se tornado mais corruptos do que os mais velhos que lá andaram. Muitos jovens líderes estão a sofisticar o “capritismo” e não se interessam com o país. Nas redes sociais e na via pública não têm receio de exibir o fruto da sua ganáncia. Isto é o que o lendário Malcolm X chamou de slave mentality, viver como se a vida se ressumisse ao ganho de uma carta de alforria. Tornamo‐nos fanáticos e infléxiveis ao ponto de assustarmos os mais velhos que vivenciaram muitas das situações que hoje dizemos dominar. É este impulso que tem motivado o aparecimento de muitos “tudólogos” e “bucólogos”.

 

Portanto, muitos jornalistas, também têm uma quota de culpa no aparecimento dos nossos “tudólogos” e “bucólogos”, chamam‐lhe analista quando sabem que a pessoa irá tecer uma opinião. Um analista deve despir‐se de qualquer camisola, deve ser objectivo e não deve trair a ciência. Quando muitos dos nossos “bucólogos” começarem a ser analistas no verdadeiro sentido da palavra, irão ter menos tempo de antena nos canais públicos, porque muitas das suas análises poderão ser incómodas para os detentores do poder político e económico. Uma análise insenta e com um olhar amplo pode ser de grande benefício para o próprio executivo na elaboração e implementação de políticas públicas.