Petróleo dá a Luanda a força de que precisa para dominar as ocidentais praias lusitanas

"Neste contexto, é com muito agrado que registamos o aparecimento de mais um agente económico-financeiro que irá contribuir ainda mais para o fortalecimento das relações económicas entre os dois países", disse Basílio Horta, salientando que a economia angolana é uma das que actualmente apresenta maior dinamismo no contexto internacional.

O responsável do AICEP afirmou ainda que as relações económicas entre os dois países "atravessam uma fase muita positiva" assim como as relações comerciais que têm apresentado "fortíssimas taxas de crescimento nos últimos anos".

"Entre 2005 e 2007 a taxa média de crescimento das exportações portuguesas para Angola foi de 45 por cento ao ano, tendo as mesmas atingido no ano anterior o montante de 1,68 mil milhões de euros", acrescentou.

Mas não é só sob o ponto de vista comercial que esta relação passa por "uma excelente fase", disse Basílio Horta.

Além do número de empresas portuguesas instaladas em Angola ser cada vez maior, o investimento directo de Angola em Portugal também tem vindo a aumentar nos últimos anos: passou de 733 mil euros em 1999 para 17,6 milhões de euros em 2006 e 13,2 milhões de euros em 2007.

Segundo o departamento de Estudos Económicos e Financeiros do banco BPI, Portugal surge como "destino natural" do investimento de Angola, que tem vindo a crescer devido ao reforço do crescimento económico do país que "gera fluxos excedentários pelos sectores privado e público, em busca de aplicação e rentabilização dentro e fora do país".

Exemplo desta expansão para Portugal são o Banco Africano de Investimentos - BAI e a Sonangol- Sociedade Nacional de Combustíveis de Angola, que está a reforçar a sua participação em empresas portuguesas, tendo inclusive garantido recentemente que o investimento em Portugal "é para continuar", olhando com interesse para os sectores financeiro, energético e "outros que tenham boa rentabilidade".

Parceira do Grupo Américo Amorim desde o início do projecto "Amorim Energia", em finais de 2005, a Sonangol é hoje detentora de 45 por cento do capital social desta empresa, que por sua vez detém um terço do capital da Galp Energia (33,34 por cento).

Uma participação que gerou alguma polémica, quando Manuel Vicente disse em Fevereiro em entrevista à agência Lusa que a Sonangol "é patrão" da petrolífera portuguesa.
"Nós somos os patrões, vamos ditar as regras do jogo. Ponto final", disse na altura Manuel Vicente, sublinhando ter "as melhores relações com a presidência da Galp e com o governo de Angola".

O Grupo Galp Energia e a Sonangol são ainda accionistas da Sonangalp - Sociedade de Distribuição e Comercialização de Combustíveis e da Sopor - Sociedade Distribuidora de Combustíveis, empresas de distribuição de combustíveis e lubrificantes em Angola e Portugal, respectivamente.

Mais tarde, e em especial a partir de 2007, foi a vez do maior banco privado português - o Millennium BCP - onde após sucessivos reforços, a empresa angolana é hoje um dos principais accionistas, detendo uma participação acima dos sete por cento.

A Sonangol pode aumentar a sua posição até aos 10 por cento do capital do banco e admitiu recentemente à agência Lusa que essa é a sua intenção, mas o interesse da Sonangol em Portugal poderá não ficar apenas na Galp Energia e no BCP.

A imprensa referiu recentemente perspectivas de investimento da Sonangol na EDP - Energias de Portugal e na Portugal Telecom (PT), mas o presidente da empresa angolana negou "o interesse imediato" nestes negócios.

O presidente da petrolífera estatal angolana deixou todavia a porta aberta para eventuais investimentos na eléctrica portuguesa afirmando mesmo que "se o mercado se proporcionar, vamos entrar".

Em declarações recentes aos jornalistas em Luanda, Manuel Vicente garantiu que a Sonangol vai continuar o processo de internacionalização, nomeadamente em Portugal, quando as oportunidades surgirem e no quadro da "política de Estado" definida por Angola.

Além da Sonangol, também o BAI,o primeiro banco privado angolano, já veio para Portugal onde estabeleceu em Lisboa a sede europeia.

Direccionado para o mercado de investimentos e com visão internacional, a filial -com 99 por cento de capital angolano - assegura o acesso ao mercado da zona euro e obedece à estratégia de captação de fundos e fluxos financeiros para Angola.

O Bai Europa assume-se também como "uma porta aberta para todos os empresários angolanos interessados no mercado português e vice-versa".

Agora é a vez do Banco BIC português, que inicia actividade quinta-feira e disse já ter como objectivo facilitar "os investimentos angolanos na Europa, no contexto do grande dinamismo das relações entre Portugal e Angola".

"Os angolanos estão numa fase de internacionalização da sua economia porque têm activos excedentes provenientes da actividade petrolífera. O Banco BIC Português pode e deve colmatar uma lacuna que existia no mercado e que era justamente a de os angolanos não disporem fora do seu país de um interlocutor privilegiado para gerir o seu património", referiu Luís Mira Amaral, presidente executivo do Banco BIC Português.

Fonte: NL