Luanda - O descaminho de vários milhões de dólares destinados à reabilitação de dez hospitais do país terá ditado a recente exoneração do ministro da Saúde, José Vieira Dias Van-Dúnen, “Zequinha”, e do seu adjunto para a área hospitalar, Carlos Alberto Masseca.

Fonte: Club-k.net

Na base do afastamento do ex-ministro

Numa altura em que o sector está a ser objecto de uma inspecção, fontes ligadas ao Ministério da Saúde dizem que o dinheiro supostamente desviado contribuiu de forma significativa para a péssima qualidade dos serviços prestados pelas unidades sanitárias, com sérios reflexos nos elevados números de óbitos registados nos últimos meses, devido aos surtos de malária e febre-amarela que assolaram o país, sobretudo Luanda.

 

Embora o Presidente da República tenha evocado razões de “serviço” para justificar as exonerações, as fontes do CK revelaram que as verdadeiras causas dos afastamentos foram os sistemáticos “ desvios de avultadas somas que se destinavam a melhoria da assistência médica e medicamentosa nos hospitais”.


Dizem as fontes que o inquérito mandado instaurar à Saúde, após a exoneração do seu titular, terá sido uma das formas de “atenuar a crescente onda de contestação popular”.

 

“A partir de 2012 começaram a ser disponibilizados muitos milhões de dólares para reabilitar, equipar e modernizar os principais hospitais do país, de forma a reduzir a demanda de milhares de angolanos que anualmente viajavam para o estrangeiro, sobretudo para a vizinha Namíbia, em busca de tratamento médico”.

 

A decisão do Executivo, segundo as fontes do CK, terá surgido após o ministro da pasta ter sido abordado nesse ano pelo PR sobre o assunto, tendo José Van-Dúnem dado garantias que poderia a inverter o quadro, no espaço de cinco anos, caso fossem feitos investimentos de vulto no sector.

 

“O dinheiro disponibilizado visava reabilitar as infra-estruturas hospitalares em várias províncias do país, nomeadamente Luanda, Huambo, Benguela, Huíla e Malange. Acontece, porém, que uma parte substancial da verba acabaria por ser desviada, daí que muitas obras iniciadas não foram concluídas e os hospitais terem sido pobremente equipados ”, adicionaram as fontes.

 

Consta que nessa empreitada, o ex-ministro “Zequinha” Van-Dúnen e o seu coadjutor Carlos Masseca terão contado com a conivência de alguns directores das unidades hospitalares. “A luta pelo dinheiro chegou a colocar em choque os antigos governantes, a ponto de Carlos Masseca recusar-se nos últimos tempos a despachar com o “Zequinha” Van-Dúnem”, disseram as fontes do CK. Sintomaticamente, o médico e professor universitário Maurílio Luiele denunciou muito recentemente o descaminho de cerca de 80 milhões de dólares das contas do Hospital Américo Boavida, cuja gestão esteve ao longo nestes últimos anos a cargo da Dr.a Constantina Pereira Machado Furtado.

 

De forma algo surpreendente, esta gestora, que foi bastante contestada no Américo Boavida, foi há dias catapultada para o cargo de secretária de Estado, fazendo jus ao velho anedótico angolano segundo o qual a “má governação foi uma vez mais premiada com uma queda para cima”. Dizem as fontes ter sido precipitada a nomeação desta gestora, sem que antes fossem conhecidos os resultados do inquérito que está a ser feito pela Inspecção Geral da Administração do Estado (IGAE).

 

“ Os resultados da inspecção poderão revelar-se catastróficos para a imagem da gestora, já que pairam fortes suspeitas de que parte do dinheiro foi desviado a partir do Américo Boavida”, dizem as fontes do CK. As mesmas fontes colocam, por fim, sérias dúvidas quanto à eficácia do inquérito, receando que a culpa venha a morrer uma vez mais solteira, já que os “verdadeiros culpados dificilmente serão responsabilizados”.