Luanda - A motivação pertence à maior parte das ciências humanas: à história, à psicologia, à psicanálise, à gestão, à sociologia, à gestão dos recursos humanos e psicologia de trabalho. Ora, a motivação é estudada no interior da psicologia, normalmente, pela psicologia experimental, pela psicologia do comportamento, pela psicologia escolar, pela psicopatologia e pela psicossociologia. Com isso, é possível verificar que todas as escolas de pensamento das ciências humanas pretenderam explicar o porquê da acção humana, aquilo que justifica as escolhas dos indivíduos e como é possível compreendê-las a fim de, quiçá, melhor os controlar.

Fonte: Club-k.net

Neste texto, depois de uma constatação factual do funcionalismo público angolano, interessou-me fazer esta abordagem. E para isso, veio-me a memória duas grandes escolas de pensamento que marcaram e continuam a marcar as instituições, seja ela Administração Pública ou Administração Privada. O que separa ou estabelece a diferença entre Administração Pública dá Administração Privada, é o seu «objecto, fim e meios» que elas utilizam para atingirem os seus objectivos ou seja, os fins preconizados. Portanto, o que se deve entender por gestão das motivações? Tomamos o termo gerir no sentido forte da palavra (BERNARD GALAMBAUD: 1990), quer dizer, «organizar e estabelecer processos de tomada de decisões, previsão e utilização no momento oportuno». Isto pressupõe a implementação de regras de funcionamento que permitam à instituição utilizar o melhor possível a motivação dos seus assalariados (funcionários e colaboradores).


A gestão faz referência ao sistema de pilotagem e de controlo capaz de fazer de interface entre uma política social definida e prática que correspondam à activação dessa política. E um exemplo mais prático e simples da gestão de motivação assenta nas remunerações e benefícios sociais dos funcionários. Se uma administração decide que um funcionário motivado terá direito a um prémio ou a um bónus, essa decisão é de facto o sinal que ela deseja gerir a motivação e, pô-lo em prática na folha de salario, é ou será a prova que esta gestão é real.


A gestão das motivações gira concretamente sobre uma reflexão que gravita em torno de dois eixos fundamentais: primeiro o eixo relativo às práticas de gestão dos recursos humanos; pois é apenas quando a motivação é integrada nessa gestão que ela terá o direito de cidade permanente na administração. É também através disso que as apostas de sentido e de reconhecimento são geridas na instituição ou melhor na Administração e; segundo o eixo organizacional; pois é efectivamente ao mudar o modo de organização do trabalho que se dará maior ou menor espaço ao indivíduo portador das suas motivações. Essa necessidade de implementar «organizações motivantes» é para nós determinante pela importância que a experiência forneceu na evolução das motivações.


Estes dois eixos têm um ponto em comum, evoluem do mínimo de liberdade dada ao indivíduo, como no sistema «TAYLORIANO» por exemplo, ao máximo possível hoje nas nossas sociedades. A resultante de uma organização motivante e de uma integração das motivações no sistema de gestão dos recursos humanos corresponde àquilo a que chamamos a gestação das motivações na Administração, seja ela Pública ou Privada. A primeira realidade a ter em conta é a das mudanças culturais ligadas à gestão das motivações.


Nenhuma Administração tem interesse em gerir as motivações dos seus assalariados ou funcionários se não desejar também uma mudança de cultura. Isto porque? Por que, a gestão das motivações passa pela utilização de metodologias e de instrumentos que visam de facto o desenvolvimento das motivações na Administração: é aquilo a que se denomina por gestão de projectos individuais que em parte abrange aquilo que seria a orientação profissional contínua (CHRISTIAN SAURET: 1988). A expressão «gestão dos projectos» corresponde, portanto, a um instrumento privilegiado de gestão das motivações que continua a ser o objectivo final, mas pode igualmente recorrer a outros instrumentos.


O comportamento motivado é normalmente aquilo que Administração espera dos seus funcionários, em particular dos seus quadros e que, nos parece é das mais vezes assimiláveis à implicação. Entretanto, trata-se efectivamente de um comportamento exterior e nem sempre de uma atitude interior sentida. O comportamento motivado pode ser perfeitamente forçado, exagerado e ligado ao «stress» do ambiente do trabalho. Pelo contrário por «activação das motivações» entendemos aqui, de facto, o indivíduo se sentir cada vez mais em sintonia com os seus próprios desejos e aspirações no quadro do seu cenário. É claro que este desenvolvimento tem consequências importantes, mas essas consequências não são generalizáveis. São ao mesmo tempo fiáveis para a Administração, dado que mais profundamente ancorados no psiquismo dos funcionários da Administração, e simultaneamente menos previsíveis, dado que a motivação põe em jogo a liberdade interior e a capacidade de afirmar os próprios projectos face ao da Administração.


__________
Politólogo