Joanesburgo - Muitas pérolas e uma postura controversa dão ao premiado cartunista político, Jonhatan Shapiro, 51 anos, inspiração de sobra para desenvolver uma vasta obra crítica sobre o comportamento do futuro presidente sul-africano. “O meu ponto de vista é altamente crítico em relação à política do país. Os políticos que estão no poder têm uma atuação intolerável diante de muitas questões como corrupção e sexualidade”, conta o chargista que tem seus trabalhos publicados nos maiores jornais da África do Sul, como o “Sunday Times” e o “Mail Guardian”.


“Eu ouço e vejo muitos erros dentro do país. A minha grande motivação para produzir sobre os absurdos que acontecem é persistir em uma mudança”, diz Zapiro, como assina nas charges, que já repercutiram em 13 livros com desenhos de políticos de todo o mundo, além de um especial com centenas de páginas sobre a nova democracia sul-africana.

Dentro do elogiado acervo de Zapiro, o próximo presidente, sem a menor dúvida, é um dos personagens principais. Charges denunciando corrupção (em especial o Acordo de Armas, que teria beneficiado Jacob Zuma com alguns milhões em propinas), estupro e a opinião em relação ao combate à Aids estão no topo das preferidas. “Ele tem uma inacreditável opinião sexual. Ele sabia que a pessoa tinha HIV, mas disse que fazer sexo sem preservativo não é problema porque ele toma uma ducha depois”, relembra chocado.


Em frente aos juízes, enquanto era julgado por estupro em 2006, Zuma se defendeu e disse que fez sexo com a mulher porque ela estaria o provocando com trajes inadequados. Como ele é um exímio representante da cultura zulu cumpriu o seu papel de um homem viril e fez sexo sim com a mulher. Ele disse que o sexo foi consensual, a vítima de 31 anos e soro-positivo, contou que sofreu um estupro terrível.

Questionado sobre o uso do preservativo, ele disse que não havia usado, porque para evitar o contágio ele:“toma uma ducha depois da relação sexual!” A declaração caiu como uma bomba nas organizações de combate à Aids no país que se esforçam para minimizar a epidemia que se alastra por 12% da população baixando a expectativa de vida para 51 anos.

“É desanimador saber que os que deveriam apoiar a nossa luta continuam ignorando a importância de se combater a Aids”, conta Nathan Geffen, porta-voz do TAC (Treatment Action Campaign, ONG referência no combate à doença). Ele diz que lamenta que grande parte da população acredite em soluções sem fundamento e que os políticos ainda sejam um mau exemplo. “Se o presidente fala uma coisa dessas, como fica o nosso trabalho de conscientização?”, completa Nathan.


As declarações que chocaram o TAC e gente de toda a parte deram uma boa ideia para o trabalho de Zapiro que a partir daquele dia passou a acrescentar um chuveiro na cabeça de Zuma sempre que o político é mencionado. “O primeiro ‘Zuma shower’ que eu fiz foi em 2006, depois dessa pérola. É uma forma de criticar e de não ser conivente com esses absurdos”, fala o cartunista processado pelo futuro presidente. “Ele disse que ia me processar em 15 milhões de rands por eu manchar a reputação dele. Ficou tão furioso que dizia isso em entrevistas e para toda imprensa. Falava que eu o chamava de corrupto e estuprador”, diz o cartunista.

A charge que mais irritou o futuro presidente e todo o CNA foi, quando em setembro de 2008, Zapiro desenhou Zuma se preparando para estuprar uma mulher de olhos vendados segurada por representantes do partido. Sobre esse trabalho que gerou muita polêmica em toda África do Sul, Zapiro diz que a mulher, na verdade, era a Justiça que havia absolvido o próximo presidente de uma das acusações de corrupção no ano passado.


“Ele disse que eu estava o acusando de estuprar uma mulher branca e ridicularizando o partido”, conta o cartunista que até hoje diz não entender que diferença fazia a cor da mulher. “O que estava implícito na charge era o poder de Zuma, que com toda a sua influência controla os juízes, um verdadeiro estupro ao sistema”, explica.

 Quanto ao processo de 15 milhões que Zuma prometeu em 2006 após a piada do chuveiro, os advogados dele baixaram para 10 e depois um pouco mais. Hoje, em 2009, há dois processos contra Zapiro movidos pelo presidente. Um de dois milhões e outro de sete milhões de rands. Ambos com a justificativa de ferir a reputação dele.

Sobre a expectativa com Zuma na presidência, Zapiro acredita que os partidos de oposição vão se unir para não deixarem o CNA no controle como ele esteve desde 1994. “Espero que a oposição fique mais forte e que as pessoas não fiquem tão passivas diante das irregularidades”, finaliza Zapiro.


Fonte: g1.globo.bom.br