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Lisboa  - O crescimento econômico e do emprego em Angola podem ser afetados pelo atraso nos pagamentos a fornecedores do Estado, devido a quedas orçamentais provocados pela redução das receitas petrolíferas, alertou nesta terça-feira o Banco Mundial.

Em função das dificuldades de financiamento do Estado, "tem havido muitos rumores de atrasos nos pagamentos a fornecedores e de um congelamento na contratação pelo setor público", aponta um relatório econômico divulgado pelo escritório do Banco Mundial em Luanda.

"O atraso no pagamento a fornecedores pode ter um impacto negativo no crescimento uma vez que estes, por arrastamento, começam a fazer os seus próprios ajustamentos e a cortar despesas, especialmente através da redução do emprego", adianta.

A questão do atraso no pagamento a fornecedores foi levantada recentemente pelo presidente da Câmara de Comércio e Indústria Portugal-Angola (Ccipa), Carlos Bayan Ferreira, em declarações ao Jornal de Negócios.

Segundo ele, há empresas portuguesas que estão recorrendo à organização por "começarem a sentir atrasos nos pagamentos por parte das autoridades angolanas”.

O Banco Mundial relata as atribulações atuais das autoridades angolanas para financiar o atual déficit fiscal.

O financiamento passa pela aplicação de poupanças dos últimos anos e também pelo endividamento, que, a nível externo, "deverá, nas atuais circunstâncias, restringir-se às linhas de crédito existentes, uma vez que os mercados de crédito internacional permanecem praticamente secos".

No mercado interno, o Banco Central angolano tem colocado obrigações, mas com resultado "decepcionante" devido à falta de demanda, mesmo para os novos títulos CPI, indexados à taxa de inflação e taxas de remuneração atrativas.

O Banco Mundial atribui a baixa procura aos "baixos níveis de liquidez" desses títulos no mercado.

Petróleo

Quanto às receitas petrolíferas, desde outubro de 2008 a descida é "dramática", especialmente nos dois primeiros meses deste ano, quando ficaram em 31% do registrado no período homólogo.

Os últimos sinais dão conta de uma melhoria - o preço de referência dos barris petrolíferos do campo "Girassol" tinham recuperado 25% em abril face ao início do ano -, e as receitas fiscais angolanas "deverão melhorar nos próximos meses".

"Apesar disso, depois dos grandes cortes de produção em janeiro e fevereiro, a produção acumulada nos quatro primeiros meses de 2009 está cerca de 10% abaixo do mesmo período de 2008", adianta.

Atualmente, "é difícil calcular ao certo qual é o estado da posição fiscal do governo em 2009".

A proposta de Orçamento original previa despesas de cerca de US$ 38 bilhões, o que representa um nível 18% acima da execução do ano passado. Porém, o documento deverá ser revisto nos próximos meses.

O Banco Mundial destaca ainda a descida das reservas externas angolanas - de US$ 20 bilhões em novembro de 2008 para US$ 13,7 bilhões em março. Isso se deve à diminuição das receitas de venda de petróleo e diamantes.

Apesar da desaceleração da economia, a inflação continua em alta, aproximando-se de 14% em abril.

A pressão do setor de alimentos e bebidas diminuiu, porém é compensado por um “aumento substancial” dos táxis coletivos, o meio de transporte básico da população carente.

Fonte: Lusa