Lisboa  - Empresas angolanas mostram-se preocupadas ante um conjunto de jogadas de bastidores capazes de condicionar, em grande medida, a perspectiva governamental de reabilitação da indústria têxtil nacional. Tais inqueitações tornaram-se maiores depois da circulação de informações segundo as quais seriam passadas de promotoras para meros acompanhantes do funcionamento de três grandes unidades têxteis, em benefício de uma empresa estrangeira indicada pela empresária Isabel dos Santos, filha do Presidente da República, José Eduardo dos Santos.


*Paulo Alves
Fonte: Club-k.net

Governo costura negócio têxtil para Isabel dos Santos

À frente de toda esta trama, segundo apurou o Club-K, junto de fontes próximas do dossier, estaria o Ministro das Finanças, Archer Mangueira. As empresas que investiram no sector acreditam, na verdade, que estão em curso acções indicativas de que o governante pretende seguir, para o parque têxtil, o mesmo modelo que levou à contratação da portuguesa EFACEC para a gestão do sector energético nacional, afastando, de antemão, qualquer empresa angolana.

 

No caso do parque têxtil, apuramos, está a ser costurada a entrega de unidades como a Textang II, em Luanda, a Satec, no Bengo e a África Têxtil, em Benguela, a uma empresa que se encarregaria da correspondente gestão enquanto representante da participação do Estado em qualquer um dos três projectos.

 

Embora não se conheça o nome da empresa a ser contratada, sabe-se, já, que ela representaria os interesses da empresária Isabel dos Santos que, em círculos restritos, se predispõe a não apenas a identificar o parceiro estrangeiro, como a dotá-lo, através de financciamento do seu Banco Internacional de Crédito (BIC), da pujança financeira legalmente requerida.

 

Actualmente, qualquer uma das três unidades foi devidamente reabilitada e apetrechada com equipamento de ponta, aguardando, para início de funcionamento, apenas pela modalidade der gestão a ser indicada pelo Estado angolano. A reabilitação de tais unidades fabris foi possível graças a um financiamento externo, mobilizado por um grupo de promotores angolanos, nomeadamente, Joaquim David, José de Matos Cardoso e o General Faceira que estão a frente de um grupo de mais de meia centena de accionistas para cada uma das 3 indústrias. Estes investidores angolanos correm, agora, o risco de serem preteridos a favor de interesses inconfessos.

 

Os promotores do negócio, em que foram investidos cerca de 1 bilião de dólares, confrontam-se com uma determinação da Comissão Económica do Conselho de Ministros que os remete à condição de sócios-minoritários, conferindo ao Estado a maioria do capital social. Nesta perspectiva, o Estado angolano contrataria uma empresa estrangeira para a gestão da sua participação e, por conseguinte, dada a sua condição maioriatária, para a condução dos destinos das unidades fabris.

 

Alude-se a um levantamento feito no mercado nacional onde não foram identificadas empresas com capacidade para gerir as unidades, sendo esta a justificativa comummente utilizada para a perspectivada contratação de uma empresa estrangeira.

 

Tal princípio contrasta, entretanto, com o facto de terem sido empresas nacionais a promover o negócio, a buscar o parceiro estrangeiro, bem como a custear todas as despesas inerentes a reabilitação das infra-estruturas, importação de equipamentos e apetrecho das unidades, as mesmas que, agora, estão a ser forçadas a entregar tudo de mão beijada à Isabel dos Santos.

 

Há três anos que o trio de unidades têxteis foi reabilitado, com recurso a um misto de recursos próprios dos promotores e de investimento estrangeiro, nomeadamente do Governo japonês, contando com o aval público do Estado angolano. Todavia, o conjunto de três unidades, com capacidade para gerar 20 mil empregos, não arranca até ao momento pelo facto de o Estado reclamar, para si, 51 por cento do negócio e, em consequência, pretender passar a respectiva gestão para uma empresa estranha, relegando quem realmente costurou o negócio à condição de mero expectador do fecho anual de contas.