Luanda - O MPLA  declarou “assegurada”, ao início da tarde desta quinta-feira, uma maioria qualificada nas eleições gerais, quando estavam contados mais de cinco milhões de votos. O partido deu assim por selada a eleição de João Lourenço para a Presidência da República, ao fim de 38 anos de liderança de José Eduardo dos Santos.

Fonte: Angop

“Temos vindo a fazer a compilação dos dados que os nossos delegados de lista nos têm remetido, das atas síntese que obtiveram das assembleias de voto a nível de todo o país. E, numa altura em que temos escrutinados acima de cinco milhões de eleitores, o MPLA pode garantir que tem a maioria qualificada assegurada”, declarou João Martins, secretário do Bureau Político do MPLA para questões políticas e eleitorais, a partir da sede nacional do partido do poder.

 

O processo dita a eleição direta do Parlamento, com 220 assentos em jogo, e a eleição indireta do Presidente da República: o cabeça-de-lista da força política mais votada.

 

“Por isso, é com tranquilidade que podemos assegurar que o futuro Presidente da República será o camarada João Manuel Gonçalves Lourenço e o futuro vice-presidente da República será o camarada Bornito de Sousa Baltazar Diogo”, clamou o mesmo dirigente partidário.

 

O escrutínio destas eleições gerais em Angola abarca os sufrágios depositados nas urnas de um total de 25.873 mesas de voto, distribuídas por 12.512 assembleias. A contagem perdura desde a noite de quarta-feira e, ao final desta manhã, a Comissão Nacional Eleitoral ainda não havia publicado quaisquer resultados provisórios, tão-pouco fixado prazos para tal.

 

“Nós constatámos essa necessidade. É por demais a pressão, quer da comunicação social, quer da nossa massa militante, de todos os que apostaram no nosso projeto, na proposta do MPLA, no nosso candidato, e tínhamos necessidade de os tranquilizar de que o MPLA tem assegurada a maioria qualificada”, insistiu o secretário do Bureau Político, para afirmar, em seguida, que “dados oficiais serão aqueles que serão publicados pela CNE, quando anunciar os resultados definitivos”.

De “inequívoca” a “assegurada”

Às primeiras horas desta quinta-feira o mesmo responsável do MPLA havia já reclamado para o partido sobre o qual assenta o regime angolano uma vitória “inequívoca”.

 

“A vitória do MPLA é inequívoca, praticamente incontornável, e ela está-se a consolidar em termos numéricos e acreditamos que nas próximas horas já podemos começar a anunciar os números que são ansiados pelos cidadãos”, dizia então João Martins, depois de uma reunião partidária para um primeiro balanço do processo eleitoral.

 

“O MPLA está confiante, cada vez mais confiante, agora com maior certeza, depois de já ter feito uma apreciação preliminar dos resultados que os seus delegados de lista forneceram ao centro coordenador da campanha e que estiveram em apreciação pela direção do partido”, acrescentava o secretário.

 

Por sua vez, ainda durante a última madrugada, a porta-voz da CNE indicava que perto de 1300 eleitores de 15 assembleias de voto nas províncias de Moxico, Luanda Norte e Benguela só iriam votar no próximo sábado. Isto porque não fora possível organizar as assembleias em causa, devido a más condições climatéricas e à avaria de meios aéreos.

 

Citada pela agência Lusa, Júlia Ferreira ressalvava ainda que aquela contingência não impediria a publicação de resultados provisórios ao longo do dia.

 

Já em declarações recolhidas pela Antena 1 a porta-voz considerou que as eleições decorreram de forma exemplar.


“Em termos gerais, os angolanos estão de parabéns, o país está de parabéns. Ganhou a democracia, ganhou o pluralismo multipartidário, ganharam os angolanos”, sustentou.

“Violação gravíssima da lei”

A jornada eleitoral de quarta-feira em Angola foi amplamente descrita como serena. Mas não ficou isenta de queixas e denúncias formais de alegadas irregularidades.

 

A Convergência Ampla de Salvação de Angola - Coligação Eleitoral apontou casos de delegados de lista retirados das mesas no decurso do escrutínio.

 

“Não sei como se pretende que um processo destes seja transparente quando não se pode contabilizar os votos, quando os delegados de lista, que são fiscais em nome de todos os concorrentes, não podem assistir a essa contagem, quando uma parte substancial [das mesas] está às escuras, sem energia”, frisava durante a noite o secretário executivo nacional da CASA-CE, Leonel Gomes, que falou mesmo de uma “violação gravíssima à lei”.

 

Em declarações à Lusa, a porta-voz da CNE procurou esvaziar esta denúncia: “Na CNE – formalmente, oficialmente informada sobre situações factuais que ocorreram aqui ou ali – não vimos, nem ouvimos. Esta informação não nos foi veiculada, nem pela CASA-CE. Aliás, estou a ouvir agora em primeira instância”.

 

Segundo Leonel Gomes, estão em causa os dados a remeter pelos mais de 40 mil delegados de lista da CASA-CE à central paralela de contagem da coligação na capital..

 

“Há casos no Huambo e em Luanda em que foi a própria polícia a retirar os delegados de lista”, acusou o dirigente.

 

“Em termos gerais e um pouco por todo o lado, não temos qualquer relato de incidentes desta natureza, muito pelo contrário. Aquilo que sabemos e temos conhecimento é que tem havido um ambiente de partilha solidária, não só de informação, como também na forma como cada um dos delegados de lista, nas mesas de voto, cumpriram o seu papel”, contrapôs a porta-voz da Comissão Nacional Eleitoral.