Luanda - Oposição agendou conferência de imprensa para mostrar provas de que resultados das eleições apresentados pela Comissão Eleitoral angolana foram forjados pelo MPLA.
Fonte: IONLINE
“De certeza que a CNE tirou os resultados do gabinete do Ju Martins, secretário dos assuntos eleitorais e políticos do MPLA, não tem outra forma porque eles não saíram de nenhuma província”, disse ontem ao i o líder parlamentar da UNITA, Adalberto da Costa Júnior.
Os líderes dos partidos da oposição agendaram ontem uma conferência de imprensa num hotel de Luanda para contestar os resultados provisórios das eleições gerais apresentados pela Comissão Nacional Eleitoral (CNE), que colocam o MPLA à frente da corrida com 64,5% dos votos.
“É claro que os partidos da oposição vão refutar” os resultados apresentados, sublinhou o dirigente da UNITA: “É uma fraude”. Adalberto da Costa Júnior sublinhou que “não houve apuramento municipal dos votos”, tal como “não houve apuramento provincial”.
“A CNE não recebeu atas de nenhuma província e é obrigatório. Quando se dá os resultados, estes têm de passar da assembleia para o município, dali para a província e depois, como diz a lei, vai para a CNE. Os homens da província nem reuniram e a CNE deu resultados finais. Tirou-os da onde?”, pergunta Adalberto da Costa Júnior que reafirma: “Nenhuma província iniciou a contagem provincial, nenhuma”.
Na conferência de imprensa, membros da própria CNE, responsáveis por receberem os resultados das províncias, confirmaram não ter recebido qualquer ata provincial e, por isso, não teriam possibilidade de divulgar resultados provisórios.
A porta-voz da CNE, Júlia Ferreira, anunciou ontem à tarde os primeiros resultados provisórios das eleições gerais em Angola, quando estavam apuradas 65,53% das mesas e 63,74% dos votos.
Os resultados dão a vitória ao MPLA em todas as 18 províncias do país. Nestes resultados provisórios (com quase seis milhões dos 9,3 milhões de votos apurados), o MPLA surge com mais de 2,8 milhões de votos, correspondendo a 64,57% dos votos apurados.
A seguir, com pouco mais de um milhão de votos, está a UNITA, com 24,04% dos votos. Em terceiro lugar, aparece a CASA-CE, a grande distância, não confirmando em nada as sondagens que lhe davam a possibilidade até de ser a segunda maior força política – só em Cabinda, os resultados confirmaram a sondagem (ver texto ao lado). A coligação de Abel Chivukuvuku conseguiu 371.724 votos, correspondentes a 8,56%.
Hábito africano
O escritor e antigo deputado do MPLA, Lopito Feijó, diz que não há nada de novo na contestação aos resultados feita pela oposição. “Sempre vivi no continente africano e são raros os casos em que, no continente africano, os perdedores, perdem de cabeça erguida”, afirma. “E há sempre um bode expiatório, no caso concreto, a CNE, na qual eles próprios, todos os partidos, estão representados”, acrescenta.
O escritor salienta, no entanto, que, mesmo que se confirme o resultado expressivo do partido no governo, liderado agora por João Lourenço (que vai suceder na presidência a José Eduardo dos Santos, ao fim de 38 anos), estes números mostram um declínio de popularidade. “Os eleitores têm vindo, de ciclo em ciclo eleitoral, a penalizar o MPLA. Espero que o MPLA saiba tirar as lições e ilações deste decrescimento de assentos no parlamento angolano”, refere.
Félix Miranda, secretário para a Comunicação da CASA-CE, a terceira maior força política angolana, diz que os dados adiantados pela porta-voz do CNE “não correspondem com a verdade”, sobretudo com “o índice de insatisfação e de contestação que mora na sociedade angolana”. Para Félix Miranda, “isto é indicador de que os dados estão viciados”, porque a CASA-CEe a UNITA “criaram mecanismos paralelos de contagem de votos, temos as atas e, mesmo que o MPLA ganhe, não pode ser com essa maioria maluca”.
“É um resultado forjado a partir de documentos forjados, os nossos mandatários não tiveram acesso à sala de escrutínio”, acrescenta. O diretor de Comunicação da CASA-CE anunciou que os dirigentes do partido vão a partir de amanhã, e até domingo, para a ilha do Mussulo, fazer uma reflexão sobre as eleições. Em cima da mesa está a possibilidade de a coligação não tomar posse dos seus lugares de deputados na Assembleia Nacional, caso estes resultados venham a ser confirmados – “vamos refletir e tomar a decisão se realmente vamos tomar posse no parlamento. Em cima da mesa estão todas essas hipóteses, de não aceitar, de não tomar posse, de não viabilizar, de contestar”.
Félix Miranda acrescentou ainda que a CASA-CE “vai concertar com outras forças da oposição para ver a possibilidade de através de uma frente unida, de uma coligação, se poder travar este gigante ditatorial”.