Lisboa - O jornalista angolano Sedrick Carvalho disse hoje à Lusa que os resultados provisórios das eleições em Angola não surpreendem ninguém porque a Comissão Nacional Eleitoral (CNE)é "um órgão manipulado sobre a tutela do MPLA".

Fonte: Lusa

"Não surpreendem [resultados] não porque o resultado seria exatamente esse, não surpreendem porque a CNE é um órgão manipulado sobre a tutela do MPLA", afirmou.

 

Os últimos dados provisórios disponibilizados pela CNE angolana mantêm o MPLA na frente da contagem dos votos das eleições gerais de quarta-feira, mas com uma quebra ligeira na percentagem, agora nos 61,05%.

 

A porta-voz da CNE, Júlia Ferreira, anunciou durante a manhã de hoje, quando estavam escrutinados 9.114.386 votos (97,82% do total), que o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) liderava a contagem, com 61,70%.

 

Pelas 21:00, os últimos dados da CNE, consultados pela Lusa, referiam que o MPLA liderava, mas agora com 61,05% (4.115.302 votos), num universo de votos escrutinados em todo o país que subiu para 9.221.963 (98,98%).

 

Sedrick Carvalho, um dos «15+2» - grupo de ativistas condenados em março de 2016 por rebelião e associação criminosa e libertados três meses depois por decisão do tribunal, considerou que o MPLA fez o seu trabalho de comunicação ao anunciar, ainda antes da CNE, a sua vitória.

 

"O que o MPLA fez foi convencer as pessoas de que os resultados fraudulentos vão nessa linha, o que fez foi pacifica-las e, depois, a CNE veio confirmar esse anúncio assumindo essa mesma linha", frisou.

 

Segundo o ativista, o MPLA está a tentar ganhar legitimidade por via da comunicação, sublinhando que nos sistemas ditatoriais também a comunicação se fazia para legitimar e pacificar o espírito das pessoas.

 

Apesar dessa "estratégia de comunicação", o jornalista considerou que o MPLA vai dizer que obteve a maioria qualificada, mas "não vai ter a coragem" de ultrapassar a meta dos 70%.

 

"Isto porque não vão querer que João Lourenço chegue aos píncaros do deus José Eduardo dos Santos, sim porque o consideram um deus e ninguém pode chegar às percentagens dele, depois não iriam cometer uma fraude tão grosseira", explicou.

 

Apesar desta anunciada vitória do MPLA, Sedrick Carvalho salientou que em Luanda, capital de Angola, há uma "vitória folgada" da UNITA, com 47,02% dos votos, algo "muito representativo".

 

O ativista destacou ainda a "tranquilidade e estabilidade" com que decorreu a votação, denotando maturidade do povo angolano.

 

"A votação foi estável e tranquila desta vez, isso é muito bom e mesmo as detenções efetuadas, que não chegaram às 30, não beliscam essa pacificidade do processo", entendeu.

 

Contudo, o jornalista considerou que o "elevado grau de civismo e patriotismo", que tem aumentado ao longo dos anos, pode ter uma reviravolta se os resultados finais deturparem os eleitores.

 

"Se os resultados finais deturparem essa organização dos eleitores, claramente isso vai desmotivar e desencorajar esse comportamento exemplar dos eleitores e é provável que o nível de abstenção aumente nas próximas eleições", vincou.