Luanda - As reclamações e dúvidas levantadas pela oposição angolana sobre os resultados provisórios divulgados pela Comissão Nacional Eleitoral (CNE), apontando a vitória do MPLA nas eleições gerais de quarta-feira, está a preocupar a população, concentrando todas as conversas.

Fonte: Lusa

A inquietação na capital angolana foi expressa hoje à Lusa por vários populares, que afirmam, na sua maioria, que "as reclamações dos partidos na oposição são legítimas", mas auguram o "entendimento" entre as partes.

 

É o caso de Marisa Batalha, administrativa, que confessa estar preocupada face às reações ao anúncio da CNE de vantagem de 61% para o MPLA, quando os resultados finais só deverão ser conhecidos depois de 06 de setembro.

 

"A opinião que oiço é que quem estaria com a percentagem maior dos votos seria um outro partido, mas a minha preocupação é maior porque algumas pessoas pensam fazer manifestações e alguns dizem mesmo que preferem dar a vida do que aceitar estes resultados. Este é o meu maior receio", disse.


Os dois maiores partidos da oposição, UNITA e CASA-CE, discordam dos resultados provisórios apresentados pela CNE e anunciaram que têm centros de escrutínio próprios, onde estão a compilar os dados das atas síntese enviadas pelos delegados às mais de 25.000 mesas de voto.

 

É neste clima de tensão, entre a oposição, que não reconhece os resultados provisórios, e o MPLA, que reafirma ter vencido e garantido a eleição de João Lourenço como próximo Presidente da República, que Marisa Batalha, de 25 anos, vai tentando perceber de que lado está a verdade.

 

"São muitas reclamações da parte da oposição e acho que é preocupante, porque algumas pessoas não estão contentes, não estão convencidas", afirma.

 

Os últimos dados provisórios da CNE consultados pela Lusa referem que o MPLA liderava a contagem, com 61,05% (4.115.302 votos), num universo de 9.221.963 (98,98%) votos escrutinados em todo o país, e uma previsão de 150 deputados (maioria qualificada), seguido da UNITA, com 26,72%, chegando aos 1.800.860 votos e 51 deputados.

 

"Vejo aqui e acolá, nas redes sociais, compatriotas de um lado e de outro falarem de guerra. Não se fale de guerra com tanta leviandade e ligeireza. Uma guerra não é uma passeata. A guerra é a expressão máxima da violência organizada numa sociedade. A guerra pressupõe partes armadas, mas sobretudo vontade, capacidade e um contexto sociopolítico que a exija. Não há, portanto, nem necessidade nem condições para esse tipo de conflito", criticou, entretanto, o general angolano e deputado da UNITA Lukamba Gato.

 

Enquanto caminha pelas ruas de Luanda, Bernardo Cabusso prefere pensar que houve "confusão durante a contagem de votos por parte da CNE".

 

"É preocupante, uma vez que são muitas as reclamações. Mas o que espero é que, depois destas eleições, quem estiver no poder por favor que faça algo melhor e inovador para tirarmos o país da situação em que se encontra", apontou o mecânico, de 25 anos.

 

A trabalhar no centro de Luanda, quando a capital começa hoje a tentar regressar à normalidade, após as eleições, o comerciante Segunda Vivilson afirma não acreditar em grandes alterações nos resultados, que dão vitória ao MPLA.

 

"São ainda resultados provisórios, mas não acredito que possam existir muitas alterações. Mas se a oposição diz que tem provas então vamos esperar que apresentem, porque Angola precisa de todos e espero que no final todos se entendam. Porque o barulho é demais e já está a preocupar", observou.

 

Angola realizou a 23 de agosto as quartas eleições gerais, às quais concorreram o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), Convergência Ampla de Salvação de Angola - Coligação Eleitoral (CASA-CE), Partido de Renovação Social (PRS), Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA) e Aliança Patriótica Nacional (APN).