Luanda - A consultora Economist Intelligence Unit (EIU) considera que a intenção de Angola emitir até dois mil milhões de dólares em novos títulos de dívida pública deverá traduzir-se em "juros mais altos e termos menos favoráveis".

Fonte: Lusa/Negocios

Num comentário à autorização dada pelo Presidente da República ao Governo para emitir mais dois mil milhões de dólares de dívida pública, a unidade de análise económica da revista britânica The Economist lembra os custos da emissão de 1,5 mil milhões feita no final de 2015.

 

"As autoridades dizem que esta emissão abriu 'um novo e importante canal', mas este título tem sido um dos que tem tido um desempenho pior a nível mundial desde o lançamento, e o ambiente atual é substancialmente menos favorável, dado o aumento no sentimento proteccionista, principalmente nos Estados Unidos, e a clara fraqueza da economia angolana".

 

Na análise, enviada aos investidores e a que a Lusa teve acesso, os analistas da Economist reconhecem que "é clara" a necessidade de financiamento adicional para fazer face à quebra das receitas provenientes do petróleo e salientam que, apesar do congelamento de muitas obras públicas e das contratações no sector público, existe pressão política para manter a despesa.

 

Angola "continuou a pedir emprestado, em parte devido à pressão política de querer continuar a ser vista como cumpridora em vésperas das eleições de Agosto, e o custo de servir a dívida é agora o maior custo isolado do país", dizem os analistas.

 

A Economist considera que "os investimentos em infraestruturas, como estradas e projectos de agricultura, se forem bem geridos, devem garantir benefícios a médio prazo, como um movimento de bens mais rápido e barato, uma redução da dependência das importações (que são caras devido ao kwanza fraco) e mais empregos".

 

No entanto, concluem, "é importante que se dê atenção à redução da burocracia e da corrupção para melhorar o conhecido mau ambiente empresarial no país".

 

O Estado angolano estreou-se na emissão de 'eurobonds' em Novembro de 2015, angariando então, no mercado externo, cerca de 1.500 milhões de dólares (1.275 milhões de euros), através de um consórcio de bancos liderado pelo norte-americano Goldman Sachs International e que incluiu ainda o alemão Deutsche Bank e os chineses da ICBC International.

 

Agora, "havendo necessidade de iniciar os trabalhos para averiguar a eventual captação de financiamento externo por meio de obrigações soberanas da República de Angola", o Presidente angolano aprova, por despacho, "a estratégia de refinanciamento da dívida com o banco VTB", com recurso à "emissão de títulos de dívida soberana nos mercados internacionais, sob a forma de 'eurobonds', com o objectivo de melhorar a composição do stock da dívida externa".

 

Aquele grupo de origem russo tem vindo a financiar vários projectos em Angola, nomeadamente, em 2014, um acordo de financiamento com o Governo angolano, no valor de 1.500 milhões de dólares (1.275 milhões de euros).

 

A Lusa noticiou em 08 de Agosto que o Governo angolano pretende repetir a emissão de 'eurobonds' feita em 2015, conforme despacho presidencial assinado pelo Presidente, José Eduardo dos Santos, de 04 de Agosto, autorizando o ministro das Finanças, Archer Mangueira, a "implementar as medidas que possibilitem a conclusão dos trabalhos conducentes à concretização do financiamento externo" de 'eurobonds'.

 

Desta vez, no mesmo despacho, lê-se que o Governo pretende angariar até 2.000 milhões de dólares (1.700 milhões de euros) e que a emissão visa garantir a "prossecução de objetivos económicos e sociais de interesse público indispensáveis ao desenvolvimento nacional".