Luanda - O analista da consultora Woodmackenzie que acompanha o petróleo em Angola disse à Lusa que o país vai perder 67 mil milhões de dólares em investimentos entre 2015 e 2020 face às previsões de 2014.

Fonte: Lusa

"Em 2014, antes da queda dos preços do petróleo, havia muito mais projetos de águas profundas à espera de aprovação em Angola, mas este ano a maioria dos novos desenvolvimentos foi cancelada, porque isso quando comparamos a nossa previsão atual para despesas de capital entre 2015 e 2020 com a previsão feita em 2014, constatamos que há menos 67 mil milhões de dólares em Angola", explicou Adam Pollard à Lusa.

 

O analista, contactado pela Lusa no seguimento da divulgação do relatório sobre o impacto da quebra dos preços do petróleo na África subsaariana (Sub-Saharan Africa investment and cost trends - Have costs fallen far enough?), vincou que este valor também se explica porque "desde 2014 que não há um novo projeto aprovado em Angola".

 

As despesas de capital, ou `capex`, referem-se às verbas usadas pelas empresas para comprar, manter ou melhorar os seus ativos físicos, e no caso das petrolíferas aplicam-se essencialmente às despesas associadas à estrutura de perfuração de poços atuais ou investimentos em novas explorações.

 

No relatório, afirma-se que a grande prioridade em Angola foi "cortar custos", chegando as empresas a diminuir os seus custos de operação (`opex`) em 30%, o que contrasta com a redução média de 7% entre 2014 e 2017 nos restantes países.

 

"Angola é essencialmente uma região de águas profundas, portanto naturalmente de elevado custo; quando os preços começaram a cair, muitos projetos angolanos começaram a perder dinheiro porque os custos de produção eram maiores que os preços de venda do petróleo", apontou Pollard.

 

"O incentivo para cortar na despesa era, por isso, maior em Angola, e os operadores desviaram o foco de novos desenvolvimentos para se concentrarem na otimização e no corte de custos", acrescenta o analista, vincando que o objetivo geral foi "maximizar a produção nos poços existentes em vez de furar novos poços".

 

Isto explica que entre 2015 e 2020 o corte nas despesas de investimentos na África subsaariana, seja por cancelamentos ou adiamentos de projetos, seja de 133 mil milhões de dólares, 87% dos quais na Nigéria e em Angola, os dois maiores produtores da região.

 

"A produção em Angola vai manter-se estável nos 1,7 milhões de barris por dia até 2019, mas a partir desse ano, sem novos desenvolvimentos, a produção deverá cair bastante rapidamente", alertou Pollard.

 

"Há muitos milhares de milhões de barris de recursos descobertos à espera de serem explorados, o que poderia impedir este declínio, mas as atuais condições fiscais não tornam estes investimentos atrativos", acrescentou.

 

Segundo o analista, "uma reestruturação na Sonangol e uma alteração da fiscalidade podiam ajudar a reavivar a indústria petrolífera, mas para já a maioria dos operadores ainda está à espera de ver o que muda antes de fazer novos investimentos".