Luanda - O crescente número de veículos de comunicação em Angola está gerando maior diversidade de opiniões publicadas, mas há analistas que defendem que mais jornais não representa necessariamente mais liberdade de imprensa.

Na opinião de analistas angolanos ouvidos pela Agência Lusa, é necessário “mais abertura”, sobretudo para os meios de comunicação estatais, que são ainda “muito próximos do poder” e sem “grandes possibilidades de manobra”, para oferecerem ao público o “devido serviço plural de informação”.

ImagePara o professor universitário Justino Pinto de Andrade, o aumento não representa liberdade de imprensa no país, já que muitos desses órgãos, apesar de privados, pertencem a “pessoas vinculadas ao poder”.

“São as mesmas pessoas a quererem ocupar o espaço da imprensa em toda a sua dimensão”, disse Andrade, destacando que a situação tende a manter-se no futuro, dificultando a capacidade de os poucos veículos que vão surgindo “desligados do poder” conseguirem expandir seus serviços.

No último ano surgiram em Angola três grandes projetos editoriais, como o Novo Jornal, do grupo New Media, que tem uma participação de 30% da ESCOM (Grupo Espírito Santo).

Porém, não se sabe quem detém os outros 70%, assim como acontece na íntegra em relação ao O País, do grupo Media Nova, ou ainda do jornal econômico Expansão, do Score Media.

Sem autonomia

Também Ismael Mateus, analista e empresário do setor, afirma que a ausência de “autonomia editorial” nos órgãos de comunicação estatais é a principal “mancha” na liberdade de imprensa no país africano.

“A nível da imprensa pública não há progressos, acho que estancou, sobretudo na diversidade de opiniões", disse Mateus, admitindo que as melhorias registradas na imprensa privada, em termos de qualidade e rigor na matéria, são um avanço.

Já Mário Maiato, secretário-adjunto do Sindicato dos Jornalistas Angolanos, critica a “ainda pouca abertura” das fontes, sobretudo por parte dos servidores públicos, que dificultam a informação.

“Essa dificuldade é mais visível com os órgãos privados, porque os nossos servidores públicos não têm ainda noção que o conceito de fonte é muito mais abrangente, os órgãos privados também prestam serviço público”.

Pluralismo

Victor Silva, diretor do Novo Jornal, que já foi diretor geral do estatal Jornal de Angola, defende que “não há como negar” que a liberdade de imprensa existe em Angola, como o “demonstra” a existência de vários veículos, uma nova TV, que “permite mais pluralismo”.

“A mentalidade centralizadora dos últimos 30 anos vai esbater-se confrontada com outro tipo de jornalismo, que já vinha sendo uma realidade com os jornais semanários privados” disse ainda o jornalista.

Entretanto, ele alerta que “alguns jornais vão desaparecer por força de dificuldades como a limitação do mercado publicitário ou as opções dos leitores” e que algumas falências serão ainda “ditadas pela procura pelos profissionais de projetos mais sólidos do ponto de vista financeiro”.

Para Silva, “a liberdade de imprensa iniciou um caminho sem retorno” em Angola e “nada será como antes” porque “os mecanismos de controle tendem a passar para o campo dos tribunais e não pela ameaça da polícia como acontecia anteriormente”.

Ele ainda diz que “não faz sentido” ainda o Estado manter um jornal diário, como o Jornal de Angola, embora defenda que deve manter a TV e a rádio, devido ao seu papel no serviço público.

Fonte: Lusa