Lisboa - O petróleo tem sido o maior inimigo da agricultura em Angola, disse à Agência Lusa o engenheiro agrônomo angolano Fernando Pacheco, que defende uma economia diversificada para o país, onde a agricultura tenha mais peso.

ImageEm entrevista por telefone, Pacheco fez um retrato pouco animador da agricultura angolana, criticou a falta de atenção dos sucessivos Governos à problemática rural e lamentou que, em 2002, no fim da guerra civil, a agricultura tenha começado quase do zero.

"Costumo dizer que o petróleo tem sido o maior inimigo da agricultura angolana. Quase tanto como a guerra e em algumas situações ainda mais do que a guerra", afirmou à Lusa, considerando que se tivesse havido um maior interesse do poder pelas áreas rurais, a movimentação da guerrilha nunca teria sido tão facilitada, nem a sua atuação tão duradoura.

"Lembro-me que no período anterior à independência de Angola (11 de novembro de 1975), o Governo português defendeu com algum êxito estratégias que tornaram mais difícil o trabalho da guerrilha (nacionalista), nomeadamente no Planalto Central, onde as condições de vida melhoraram substancialmente", lembrou.

Fernando Pacheco, que até há pouco tempo dirigiu a organização não governamental angolana Adra (Ação para o Desenvolvimento Rural e Ambiente), disse que a queda do preço do petróleo no mercado internacional, no início deste ano, levou o Governo a disponibilizar uma linha de fundos de garantia para financiamento à agricultura no valor de US$ 350 milhões.

"Este é um indicador importante para saber que o interesse pela agricultura é maior. O Governo debate mais esta temática, os jornais escrevem mais sobre o assunto e até eu sou mais entrevistado", brincou, apontando ainda a criação de escolas médias para a formação de técnicos agrícolas, imprescindíveis para o arranque da agricultura e melhorar o conhecimento dos solos, no sentido rentabilizá-los.

Questão

Numa análise que coincide com as observações de Fernando Pacheco, que agora faz consultoria para departamentos governamentais e organizações internacionais, o agrônomo e veterinário angolano António Russo, sintetizou numa única palavra - acesso - tudo o que falta para relançar a agricultura em Angola.

Russo defendeu para Angola, ao lado de uma agricultura empresarial em grandes áreas, o desenvolvimento das empresas familiares, que serão o suporte para alimentar as populações.

"Acho que não vale a pena falar a curto prazo. A média de disponibilidade de cereais na África Austral está à volta de 150 quilogramas anuais por pessoa. (...) Para a atingirmos, precisamos de quase três milhões de toneladas de milho, cinco vezes mais do que produzimos em 1974, ainda no período colonial, mais ou menos o que ainda agora produzimos. São números muito grandes e não dá para termos uma solução a curto prazo", esclareceu.

"A curto prazo, vamos avançando com alguns projetos. São bases de aprendizagem, experiências que mais tarde tentaremos generalizar pelo país fora".


Fonte: Lusa